quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Dados sugerem que Europa entrou em nova recessão
Por Assis Moreira - Valor 15/02
De Genebra
A queda da produção industrial na zona do euro e a forte contração do PIB da Grécia e de Portugal reforçaram as evidências de que a Europa está entrando de novo em recessão. A combinação de aperto fiscal e desalavancagem dos bancos amplia as dificuldades da economia europeia.
Nos 17 países da zona do euro, a produção industrial caiu 1,1% em dezembro, a terceira queda em quatro meses. No quarto trimestre como um todo, a produção diminuiu 1,8%, após alta de 0,4% no trimestre anterior.
Apesar de indicações positivas recentes no sentimento e na atividade industrial, analistas duvidam que a desaceleração tenha chegado ao fim. O Índice PMI (gerente de compras) na área industrial aponta para mais queda da produção neste começo de 2012.
A zona do euro continuará caracterizada por condições de crescimento divergentes entre os países. Dados da Grécia e de Portugal confirmaram ontem a que ponto as duas economias estão afundadas na recessão. A produção de bens e serviços na Grécia declinou 7% no quarto trimestre de 2011, em relação ao período do ano anterior. No ano, a queda do PIB deve ficar em 6,8%, pior que os 6% previstos pelo Fundo Monetário Internacional em dezembro.
Para certos analistas, isso amplia o risco de que mais ajuda financeira será necessária para a Grécia cumprir os critérios econômicos impostos pelo FMI. Ou seja, o pacote que os ministros de finanças europeus deveriam discutir na reunião de hoje (que acabou cancelada) poderá estar caduco dentro de algum tempo. E a implementação de mais aperto fiscal continuará a ser o principal desafio para a Grécia diante do tamanho de sua recessão.
Em Portugal, a queda do PIB foi de 2,7% no último trimestre de 2011. No ano, a retração econômica do país foi de 1,5%, pior que a contração de 0,6% do ano anterior. Como o declínio se acelerou no último trimestre, o pior ainda pode estar por vir.
Portugal é visto como uma "questão aberta", porque agora parece pouco plausível que o país seja capaz de retornar ao mercado financeiro, como previsto no seu atual programa econômico com o FMI. Isso significa que a UE pode ser forçada até o fim do ano a decidir entre demanda para credores privados reduzirem a dívida portuguesa, como ocorre com a Grécia, ou outro pacote de socorro politicamente intragável.
A expectativa é que a União Europeia anuncie hoje retração de 0,4% a 0,5% no PIB da zona do euro no quarto trimestre. Será a primeira contração do PIB na união monetária desde o segundo trimestre de 2009, indicando o fim da recuperação pós-Lehamn Brothers. "A recuperação de 2009-2011 terá sido a mais curta da economia europeia desde o ciclo entre 1980-82 da dupla recessão provocada por Volker [ex-presidente do Fed, o banco central americano]", conforme disseram analistas do Deutsche Bank.
Para o banco alemão, uma "mild recession", ou recessão suave, continua a ser a melhor previsão para a zona do euro em 2012. Além do aperto fiscal e da desalavancagem dos bancos, o desempenho por país pode reforçar a ameaça de mais riscos para a periferia, especialmente se os resultados da Itália no primeiro trimestre forem bem abaixo das expectativas já modestas.
A contração no fluxo de crédito no quarto trimestre na zona do euro mostra a importância da nova política de liquidez do Banco Central Europeu (BCE). A esperança é que as condições de crédito se estabilizem no segundo trimestre e melhorem no fim do ano.
Na enxurrada de indicadores, a nota positiva ontem foi a alta do índice ZEW na Alemanha, de -21,6 para +5,4, indicando que uma maioria de investidores agora acha que a situação econômica da maior economia do Velho Continente vai melhorar nos próximos seis meses. É a primeira vez desde maio de 2011 que esse dado é tão positivo e alimenta expectativas de que a Alemanha evite no primeiro trimestre uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda do PIB).
No entanto, a OCDE (entidade que reúne os países ricos) previu ontem que a economia alemã vai crescer apenas 0,5% neste ano, depois de expansão de 3% em 2010. Ou seja, dificilmente seu crescimento será suficientemente forte para estimular a recuperação econômica do restante da zona do euro.
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