quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Gasto com derivados explode e balança de petróleo tem déficit de US$ 2,3 bi em 2011



Por Rodrigo Pedroso - Valor 09/02
De São Paulo

Até 2010, o Brasil vendia mais petróleo do que comprava derivados. No ano passado, o quadro se inverteu. O gasto com os derivados cresceu, o que acabou "apagando" o superávit gerado pelas exportações do produto bruto.

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o país comprou US$ 9,9 bilhões a mais do que vendeu de derivados em 2011, enquanto a venda do petróleo superou em US$ 7,6 bilhões as compras, levando a balança do setor a um déficit de US$ 2,3 bilhões. Um ano antes, registrou-se superávit de US$ 277 milhões.

De acordo com especialistas do setor, esse movimento, que se acentuou no segundo semestre, prosseguirá até que o Brasil aumente a capacidade de refino, o que deve começar a acontecer no fim de 2013.

O aumento de 15,9% no preço do petróleo no mercado internacional, registrado no ano passado, não é o grande responsável pela inversão. Em volume, de janeiro a dezembro de 2010, o país exportou 242 milhões de barris de petróleo e comprou 156 milhões de barris de derivados, como gasolina, óleo diesel, querosene e nafta.

No ano passado, a exportação do produto cru caiu para 232 milhões de barris, enquanto as compras dos refinados, em barris equivalentes de petróleo (bep), pularam para 176 milhões. Com isso, de um ano para o outro, a balança comercial do petróleo em dólares teve crescimento de 23%, mostrando o "efeito preço" no superávit do setor. Nos derivados, o déficit aumentou 67%.

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires, o país, que é autossuficiente em petróleo, está se tornando dependente de derivados. "Uma das maneiras de o governo se proteger da crise foi estimulando o consumo de bens duráveis, especialmente automóveis. Mesmo que a economia não cresça muito, o modelo econômico do Brasil provoca descolamento entre o PIB e a demanda por combustíveis", diz.

A maior penetração das importações de derivados para alimentar a demanda interna se acentuou no segundo semestre do ano passado. Entre os meses de janeiro e junho, o país comprou 73 milhões de barris. Nos seis meses posteriores, a soma passou para 103 milhões.

De acordo com Pires, a procura por esses produtos vai aumentar nos próximos anos. "O consumo de gasolina teve elevação de 22% no ano passado, e o de querosene 15%, enquanto o país cresceu 3,5%. O diesel vai continuar tendo grande demanda, pois somos exportadores de commodities", afirma.

A dificuldade do país em refinar o próprio petróleo para atender à demanda doméstica deve continuar, pelo menos, até o fim do ano que vem, quando deve ser inaugurada, pela Petrobras, a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A última refinaria inaugurada no país foi a de Henrique Lage, em São José dos Campos (SP), em 1980.

Ainda estão previstas a construção pela empresa de mais três novas unidades de refino até 2017: Comperj, no Rio de Janeiro, Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará. Com isso, a produção diária da estatal, que no ano passado ficou em cerca de 1,8 milhão de barris de petróleo refinado, vai aumentar e alcançar 3,1 milhões.

O crescimento do consumo nos últimos anos não foi acompanhado pela expansão na capacidade de refino do petróleo, na opinião de Fabio Silveira, sócio da RC Consultores. Como o setor petrolífero requer investimentos de longa maturação, o déficit no refino nesse período já era previsto. "Analistas e profissionais do setor sabiam que isso iria ocorrer mais cedo ou mais tarde. Em algum momento, essa troca de posições entre as balanças de petróleo e dos derivados iria ocorrer", diz.

Mesmo com a crise na zona do euro e a desaceleração da economia dos Estados Unidos, o preço do petróleo - e por consequência de seus derivados - não deve cair no mercado internacional, garantindo a balança negativa no setor, segundo Pires.

"Quem determina os preços hoje são as economias emergentes, e esses países não transferem para o mercado interno o aumento do combustível." De acordo com o diretor do CBIE, esse quadro provoca um estímulo ao consumo, que dificilmente será para diminuir o déficit na balança. "Se os combustíveis aumentarem de preço para restringir a importação, haverá pressão inflacionária. Acho difícil o governo ir para esse lado em 2012."

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