Valor 14/02
A China pretende desacelerar a acumulação de reservas internacionais em 2012 para 3% do PIB, um corte de quase metade em relação a 2011, como uma das medidas para facilitar o reequilíbrio e o crescimento da economia global.
O Valor apurou que foi isso que funcionários chineses disseram em recente reunião preparatória do G-20, o grupo das principais nações desenvolvidas e emergentes. Ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 se reúnem neste mês na Cidade do México.
A acumulação de reservas internacionais pela China alcançou US$ 388 bilhões, incluindo ouro, no ano passado, equivalente a 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o analista Qinwei Wang, da consultoria Capital Economics, em Londres.
Por sua vez, o Instituto Internacional de Finanças (IIF) faz projeção que vai na linha do que dizem os chineses, estimando que as reservas vão crescer "apenas'' US$ 176,8 bilhões (excluindo ouro) em 2012. O volume total pode chegar a US$ 3,680 trilhões em dezembro, quase metade do PIB.
As pressões sobre os emergentes para dar mais apoio ao crescimento global têm aumentado. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, vem conclamando os países com amplos superávits nas contas correntes a encorajar mais demanda doméstica, dando a China como principal exemplo de onde isso deveria ocorrer.
Na verdade, o saldo em conta corrente da China vem recuando significativamente desde a crise global, notam analistas. Caiu do pico de 10% do PIB em 2007 para 3% no ano passado. Pequim vem importando mais, e seu plano é de continuar nesse ritmo, como indicam os funcionários chineses. As estimativas são de que Pequim deu impulso à demanda global equivalente a 0,3% do PIB mundial nos últimos anos.
Mas para realmente reequilibrar sua economia, notam analistas, a China precisa aumentar a renda das famílias, ao invés de se apoiar no boom de investimentos. E para aumentar significativamente a importação, como pedem os parceiros, é preciso frear a queda do consumo doméstico chinês, que é o mais baixo entre as maiores economias em relação ao PIB, em torno de 35%. Como isso só mudará muito gradualmente, a expectativa é de que, na prática, a China voltará a exportar bem mais de novo, ter amplos superávits comercial e de contas correntes nos próximos anos, com efeitos contrários sobre o crescimento econômico global do que dizem seus funcionários.
No G-20, prossegue o embate sobre a importância de os emergentes desacelerarem a acumulação de reservas internacionais, reduzirem o saldo em conta corrente e importarem mais, principalmente no caso da China.
Fonte em Bruxelas confirmou que numa reunião preparatória do grupo, em janeiro em Nova Déli, um convidado, o professor Richard Cooper, da Universidade de Harvard, chegou a propor o estabelecimento de metas para acumulação das reservas internacionais.
Cooper sugeriu também que os países poderiam adaptar uma regra do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que foi substituído pela OMC) para permitir discriminação contra importações originárias de países com persistente superávit. Ou seja, os países poderiam usar a regra contra os parceiros que acumulassem reservas exageradamente.
Na visão de Cooper, as economias emergentes deveriam ser autorizadas a resistir aos fluxos voláteis de capital e os bancos centrais não deveriam se focar apenas em inflação baixa.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
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