Valor 29/02
A uma semana da reunião em que o Banco Central (BC) definirá a nova Selic, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, deu ontem ao mercado a mais clara sinalização do que baliza as últimas decisões da diretoria do BC. Em depoimento no Senado, Tombini afirmou que a economia está crescendo abaixo do seu potencial desde o terceiro trimestre de 2011. Em seguida, arrematou: "Não é por outra razão que o BC vem ajustando a Selic", afirmou.
De acordo com Tombini, a atividade está se recuperando do crescimento zero registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no terceiro trimestre do ano passado, sem, no entanto, acelerar a inflação. Pelo contrário - o Brasil vive desde outubro do ano passado um "processo de desinflação forte", disse, levando em consideração o IPCA acumulado nos últimos 12 meses.
Desde 31 de agosto, quando o BC iniciou o afrouxamento, que já reduziu em Selic em dois pontos percentuais, o presidente do BC tem reiterado que a inflação iria convergir para o centro da meta de 4,5%. Ontem, no entanto, Tombini deixou claro que o manejo da política monetária leva em conta também o ritmo da economia. Ao crescer abaixo do potencial, portanto, a atividade pode ser estimulada sem gerar aumento de preços.
Os economistas divergem quanto ao Produto Interno Bruto (PIB) potencial do Brasil - ou seja, aquele crescimento econômico que é possível obter sem inflação. Para parte relevante do mercado, um avanço do PIB entre 3,5% e 4% seria o potencial da economia hoje, isto é, o máximo que a atividade pode crescer sem pressão sobre os preços. Outros acham que há possibilidade de crescer até 4,5%. Tombini não informou qual seria o PIB potencial estimado pelo BC, mas por dois momentos repetiu que desde o terceiro trimestre a economia cresce abaixo do seu potencial.
O dado oficial do PIB para o quarto trimestre será divulgado pelo IBGE nos próximos dias. O Índice da Atividade Econômica (IBC-Br) calculado mensalmente pelo BC, aponta para um avanço de 0,5%, feito o ajuste sazonal, entre o terceiro e o quarto trimestre. No terceiro, o IBGE já divulgou que o crescimento foi nulo na comparação com o segundo trimestre.
Para Tombini, a economia brasileira está acelerando e o segundo semestre ano vai registrar um ritmo mais forte que o primeiro. Isso ocorrerá especialmente devido ao incremento nos investimentos, algo que, como disse Tombini no Senado, "tem tido muita ênfase no governo em 2012". O avanço da economia, no entanto, não vai inviabilizar a convergência do IPCA para a meta, afirmou.
"Nossa perspectiva é de que a economia cresça mais no segundo semestre, ao mesmo tempo em que a inflação continua em sua trajetória de convergência à meta", disse Tombini na audiência realizada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). "O Brasil vai crescer mais em 2012 do que cresceu em 2011, sem dúvida."
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) será na semana que vem. A maioria dos analistas do mercado entende que o Copom deve voltar a cortar a Selic, atualmente em 10,5% ao ano, em 0,5 ponto percentual. Na ata da última reunião do Copom, em janeiro, o BC deixou claro que há condições para a Selic atingir o patamar de um dígito neste ano.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
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