terça-feira, 25 de outubro de 2011

Na dúvida, o melhor é assistir de camarote


Por Daniele Camba - Valor 25/10

É bom reservar muita pipoca. Os investidores aguardam ansiosamente pela reunião de cúpula dos líderes europeus, que ocorre amanhã. Depois de muita discussão e nenhuma decisão na reunião do último fim de semana, o mercado agora aposta suas fichas de que dessa vez sairão algumas medidas para debelar a crise europeia.

A alta de ontem das bolsas foi exatamente por esse motivo. Mas não porque espera-se que as decisões sejam a panaceia e acabem de uma vez por todas com os problemas. Muito pelo contrário. Como o resultado é uma grande incógnita, ninguém quer ficar muito exposto às oscilações dos ativos, dependendo de qual for o resultado desse encontro amanhã.

Como, na dúvida, o melhor é assistir de camarote, os investidores passaram o pregão de ontem comprando ações para acabar com as posições vendidas à descoberto (vender sem ter o papel). "Tinha muita gente vendida a descoberto, apostando na continuidade da piora, e que teve que correr para recomprar os papéis e assim zerar essas posições", diz o gestor da Schroders, Marcos De Callis.

Essa corrida para comprar as ações e depois sair do mercado levou o Índice Bovespa a fechar ontem em alta de 2,96%, aos 56.891 pontos. A cobertura dessas posições vendidas, segundo De Callis, ocorreu principalmente nas ações de mineração, siderurgia, bancos e construtoras, que eram os setores com as maiores posições de vendas à descoberto.

Isso significa que a valorização de ontem tem um quê muito mais de correção técnica. No entanto, o que se pode esperar do mercado depois da tão esperada reunião de amanhã?

O palpite do gestor da Schroders é que o anúncio de um possível conjunto de medidas estanque um pouco as quedas que os mercados vêm registrando há tanto tempo, por conta dos problemas na Europa.

Mas daí dizer que a crise terá chegado ao fim e que a queda das ações será coisa do passado parece otimista demais. De Callis lista as expectativas dos investidores para o pacote de socorro. Espera-se, por exemplo, que o perdão (eufemismo para moratória) da dívida grega seja de 50%, mais alto do que os 40% que os bancos queriam e menor que os 60% que o FMI sugeria.

Já sobre a recapitalização dos bancos europeus, se espera que seja entre € 100 bilhões e € 120 bilhões, vindos primeiramente do setor privado e só depois os governos arcam com aquilo que faltar. "Essas cifras me parecem otimistas demais, até porque consideram os resultados dos testes de estresse feitos nos bancos europeus e que foram absolutamente generosos", observa De Callis. Para ele, mesmo que amanhã haja um desfecho favorável para a crise europeia, dá para dizer que os países da região (leia-se França e Alemanha, que são os endinheirados da história) resistiram bravamente até colocar a mão no bolso.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

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