quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Lá vem o Brasil, descendo a ladeira?


Por Jose Paulo Vieira

É conhecido e aceito que a redução dos juros destrava o investimento em capacidade produtiva – que é o melhor ‘remédio’ contra a inflação – e assim viabiliza crescimento e renda, essenciais para a sustentabilidade da democracia e do desenvolvimento. A verdadeira eficiência da política monetária está em controlar a inflação sem comprometer esse objetivo maior.

Todavia, os dados econômicos mais recentes são muito preocupantes. O índice de Atividade Econômica do Bacen, de agosto, indica que a retração da economia brasileira em 2011, que já era bastante forte, está se acelerando. Para Jose Paulo Kupfer “a economia está descendo a ladeira” 1.

Os indicadores da base de dados do Bacen (www.bcb.gov.br/?INDECO) são flagrantes em demonstrar o quanto a atividade econômica está se reduzindo. O volume de Consultas ao SPC, indicador da atividade do comércio, que havia crescido 18,7% em 2010, este ano murchou: -4,5%. Outros tradicionais indicadores de atividade, como o consumo de energia elétrica, a produção de papelão (embalagens) e os insumos da construção civil registram redução expressiva em 2011 (vide Figura abaixo).

Todos os indicadores selecionados registram fortíssimas reduções em 2011, tanto do Nível de Atividade em São Paulo, quanto da Produção Industrial, das Vendas Industriais em SP e Brasil (dados CNI). Também as horas trabalhadas e o nível de emprego (SP e Brasil) registram fortes perdas, que poderão em breve impactar a massa salarial da indústria que, por enquanto, registra crescimento.
As principais consultorias econômicas estão reduzindo a previsão de crescimento do PIB deste ano para cerca de 3% (1).




Expressiva redução face aos 7,5% de 2010!

A grande expectativa para os cidadãos, homens públicos e todos os que aspiram ao futuro do Brasil é: será essa queda “suficiente” para os doutos especialistas do mercado?

Segundo ensina Bresser-Pereira (3) dois problemas são dominantes no Brasil desde que a inflação foi controlada, em 1994: a alta taxa de juros e a taxa de câmbio sobreapreciada, que decorre em grande parte da atração irresistível dos juros altos. O professor entende que há que se cuidar da inflação, mas que ela “hoje, não é nosso problema principal. É importante apenas para quem gosta de juros altos”. Muito mais relevante hoje é equalizar o dueto “cambio/juros” objetivando o “equilíbrio industrial”, que livraria o Brasil do fantasma da doença holandesa (reprimarização da economia), este sim um problema que devemos evitar comprometa o sucesso dos nossos filhos.

Para isso o país carece da contribuição da política monetária, especialmente dado o recrudescimento da crise internacional, muito bem antecipado pelo Bacen, apesar do ceticismo dos doutos especialistas/juristas. Hoje cabe ao BACEN, ainda mais, a imperiosa redução da taxa básica de juros.


(1) “Descendo a ladeira”. 13 de outubro de 2011 16h56, http://blogs.estadao.com.br/jpkupfer/
(2) “Economia dá sinais de fraqueza: analistas reduzem previsão do PIB”. Ricardo Leopoldo, Agência Estado 13/10/2011 16h12
(3) “BC é um banco do governo e tem que fazer política do governo”. Luis Carlos Bresser-Pereira, Editoria de Economia, Carta Maior, 14/10/2011comentado por Maria Inês Nassif, 13/10/2011.


Jose Paulo Vieira é analista do Desup

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