quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

PETROLEO



Novo boom do petróleo nos EUA tem alto custo em água

Por Russell Gold e Ana Campoy The Wall Street Journal, de Carrizo Springs, Texas

A água foi sempre uma preocupação para Joe Parker, de 65 anos, administrador de uma fazenda de gado de 8.000 hectares, aqui no sul do Texas. "A água é escassa na nossa região", diz ele, e uma seca de um ano a tornou ainda mais rara.

O que deixa Parker especialmente apreensivo são os equipamentos de perfuração que agora pontuam a paisagem plana e desordenada. Os poços de petróleo instalados na região usam uma técnica conhecida como fratura hidráulica e exigem cerca de 23 milhões de litros de água para romper as rochas bem abaixo da superfície e liberar petróleo e gás natural. Parker diz que tem dúvidas se a água subterrânea será suficiente para suprir a necessidade das fazendas e da exploração energética.

Darrell Brownlow, um outro criador de gado, diz que, se a região economicamente deprimida tiver que optar entre os dois, a escolha será simples.

Brownlow, que tem doutorado em geoquímica, diz que são necessários cerca de 1,6 bilhão de litros de água para irrigar quase 260 hectares e produzir o equivalente a cerca de US$ 200.000 de milho em uma área árida. A mesma quantidade de água, diz ele, poderia ser usada para fragmentar um volume de poços suficiente para gerar o equivalente a US$ 2,5 bilhões em petróleo. "Sem água, não há fragmentação, não há riqueza", diz Brownlow, que alugou sua fazenda de gado para a exploração de petróleo.

A fragmentação hidráulica reavivou as perspectivas de produção de petróleo e gás nos Estados Unidos. Menos de três anos depois das descobertas, o campo de petróleo de Eagle Ford, aqui da região, já representa 6% da produção econômica do Sul do Texas e sustenta 12.000 empregos em tempo integral, conforme um estudo feito este ano pela Universidade do Texas em San Antonio, com financiamento de um grupo apoiado pela indústria.

Mas a fragmentação também está forçando várias comunidades a batalhar para encontrar um equilíbrio entre os benefícios econômicos e os custos potenciais. Até o momento, as críticas à fragmentação têm como foco principal o temor de que a fonte geológica da água seja contaminada. Representantes do setor petrolífero consideram que esse risco é administrável. O maior desafio para o desenvolvimento, dizem eles, é simplestmente o acesso a um volume suficiente de água.

A questão não está surgindo apenas em regiões sedentas como o sul do Texas. A Dakota do Norte, outra grande fonte de petróleo a partir de fragmentação, teme que o setor esgote as fontes de água.

No ano passado, o Estado da Louisiana aprovou uma lei para regulamentar o que chamou de "uso sem precedentes de enormes quantidades de água"pelo setor, que, se não controlado, tem o "potencial para caos e conflitos. Outros Estados e também municípios americanos têm criado leis para conter o uso de água por petrolíferas.

A fragmentação envolve a perfuração profunda em grandes faixas de rocha densa, onde o petróleo e o gás estão presos. Para fraturar a rocha e permitir que o petróleo e o gás fluam, as petrolíferas injetam milhões de litros de água, misturada com areia e produtos químicos, sob forte pressão.

Após estimular um rápido crescimento da produção de gás natural, a fragmentação hidráulica passou também a ter um papel crítico na impressionante expansão da produção de petróleo nos EUA, provocando discussões sobre a redução da dependência dos EUA de fontes internacionais de combustíveis.

Aqui no sul do Texas, a tensão está crescendo à medida que empresas buscam assegurar seu acesso à agua para perfurar poços de petróleo e gás natural. Em todo o Estado, as empresas estão comprando avidamente, garantindo direitos à escassa água dos rios. Lideradas pela Exxon Mobil Corp., também estão perfurando poços de água três vezes mais que há cinco anos. Estão até mesmo recorrendo aos sistemas de água municipais, embora cidades com reservas limitadas de água tenham começado a impedir o acesso.

Não há dúvida de que essa demanda súbita seja muito positiva para as economias locais, e poucos moradores estão pedindo o fim da fragmentação. A procura por empregados é tão alta que Carrizo Springs parece um campo de trabalho construído às pressas, com milhares de trabalhadores temporários lotando os mais de dez novos estacionamentos para carros de passeio. A população da cidade quase dobrou, para cerca de 11.000 pessoas, nos últimos dois anos, de acordo com autoridades locais. Um estudo da Universidade do Texas em San Antonio prevê que, até 2020, os campos de petróleo serão responsáveis por 68.000 empregos, e que sua produção econômica vai aumentar quase nove vezes.

Comparado à demanda das cidades, dos fazendeiros e até mesmos de geradoras de energia, o volume de água necessário para desenvolver poços de petróleo e gás no Texas é pequeno. Em setembro, o Conselho de Desenvolvimento de Água do Texas divulgou um esboço do plano de água do Estado para 2012 - um relatório que é preparado a cada cinco anos. O documento dizia que 56% da água do Texas são destinados à agricultura comercial; 26,9% vão para cidades e sistemas públicos de água; 9,6%, para a indústria, incluindo refinarias; 4,1%, para geradoras de energia; 1,8% para a criação de animais; e 1,6% para a mineração, que inclui a exploração de petróleo e gás.

Mas o relatório observou que o crescimento da fragmentação tem sido tão intenso que não está completamente refletido no relatório. Além disso, o uso de água pelo setor de petróleo se concentra em algumas partes do Estado, o que amplia o impacto sobre essas regiões.

No ano passado, as empresas de petróleo perfuraram 2.232 novos poços de água no Texas, ou três vezes mais que cinco anos antes, como mostra uma análise dos documentos da agência estatual de saneamento feita pelo Wall Street Journal. É esperado que o número de poços cresça, e que o setor aperfeiçoe suas técnicas e que perfure poços mais profundos, ampliando a quantidade de água consumida para cada poço.

Há muito tempo a indústria petrolífera já acreditava que sua sede poderia causar problemas. O Instituto Americano de Petróleo, uma associação do setor sediada em Washington, fez um alerta contra o uso de água potável para a fragmentação em seu aconselhamento de boas práticas em 2010. Em um email, o instituto disse que o setor deveria considerar o uso de água não-potável "sempre que possível", mas as decisões precisam ser tomadas "caso a caso".

Algumas empresas estão tomando medidas para reduzir o uso da água potável. A Anadarko Petroleum Corp. diz que está estudando a possibilidade de extrair água salgada de fontes geológicas inadequadas para o consumo humano ou para a agricultura. A Devon Energy Corp. começou a reciclar uma pequena quantidade da água que usa para a fragmentação.

Até mesmo pessoas como Parker, o fazendeiro preocupado com a escassez de água, acham difícil resistir às ofertas das petrolíferas. No sul do Texas, a água necessária para a fragmentação de um único poço pode representar uma receita de mais de US$ 50.000. Parker decidiu vender a água. "Se eles não comprassem de mim", disse ele, "comprariam do meu vizinho".

A fronteira do petróleo russo fica no meio do nada



Por Guy Chazan The Wall Street Journal, do Leste da Sibéria, Rússia



Há lugares que ficam no meio de lugar nenhum. Aqui é um pouco mais longe.

O lugar é Verkhnechonsk, um campo de petróleo no leste da Rússia operado pela TNK-BP Ltd. É uma das áreas mais remotas do planeta. Para chegar, você tem que voar para a Sibéria, pegar um avião turboélice antigo para dentro da taiga, a floresta boreal. Depois, ir de helicóptero em direção ao norte. De Moscou, a jornada dura um dia, incluindo escalas - e mais que isso, se houver uma nevasca.

É tão longe de tudo que a TNK-BP, joint venture da BP PLC e um grupo de soviéticos bilionários, opera unidades usando um link de vídeo a partir de um escritório em Irkutsk, a quase 1.000 quilômetros de distância. "É como viver em uma ilha", diz Albert Gilfanov, vice-gerente dos campos de petróleo.

A Rússia é uma superpotência energética, com 13% das reservas de petróleo do planeta e um quarto das de gás natural. Embora tenha caído muito desde o colapso da União Soviética, a produção de petróleo do país se recuperou fortemente, alcançando um novo recorde pós-União Soviética de 10,3 milhões de barris diários em outubro.

Ainda assim, o principal suporte do patrimônio de hidrocarbonetos da Rússia - os grandes campos de petróleo da era Soviética no oeste da Sibéria - está em declínio. Para manter a produção estável, a Rússia não tem outra opção a não ser se expandir para novas áreas como o Leste da Sibéria - onde as reservas de petróleo são menos abundantes, os custos de produção são mais altos e os desafios logistícos são espantosos.

Algumas empresas já estão lá. A TNK-BP já extrai petróleo de Verkhnechonsk, um dos maiores campos do Leste da Sibéria, desde 2008.

Mas as dificuldades que enfrenta são enormes. O frio é assombroso mesmo para a Sibéria, onde a temperatura pode cair para 60 graus negativos, momento em que o trabalho externo é paralisado. O assentamento mais próximo fica a 400 quilômetros de distância, e as florestas são cheias de ursos, lobos e alces. O petróleo se encontra abaixo de camadas de rocha dura e depósitos de sal, o que torna a perfuração mais difícil.

E talvez pior de tudo, o tamanho do prêmio não é nada inspirador. O leste da Sibéria tem 5 bilhões de barris de reservas comprovadas de petróleo, segundo a Agência Internacional de Petróleo, comparado a 48 bilhões de barris da oeste da Sibéria.

Outras áreas potenciais para exploração na Rússia são ainda mais remotas e mais caras para desenvolver: de acordo com uma estimativa, US$ 500 bilhões serão necessários para abirir grandes campos de petróleo e gás ao largo do Ártico. Os custos de produzir petróleo no leste da Sibéria e outras áreas remotas são altos - entre US$ 6 e US$ 10 o barril, comparados a US$ 4 a US$ 8 o barril nas províncias petrolíferas mais antigas do país, de acordo com a agência. Embora o petróleo do leste da Sibéria seja vendido por mais de US$ 100 o barril, os custos de capital e transporte comem uma boa parte do lucro.

E, dentro do atual sistema fiscal da Rússia, existe pouco incentivo para investir. Por exemplo, a parte do governo em dois novos campos de petróleo da Rússia no Ártico - o impacto fiscal do governo sobre o fluxo de caixa dos campos - é de 72%, comprado com 53% em uma das principais bases marítimas do Brasil, o campo Lula, de acordo com o Morgan Stanley,

"Para que esses projetos sejam bem-sucedidos [...] existe a necessidade de mudanças significativas no regime fiscal", disse Glen Waller, diretor da petrolífera americana Exxon Mobil Corp. na Rússia, em uma conferência recente em Moscou.

Ainda asim, os governantes da Rússia são tão dependentes do dinheiro que recebem das petrolíferas que eles temem a redução de impostos. A receita proveniente do petróleo e do gás representa quase a metade do que entra no orçamento russo.

A AIE projeta que a produção russa de petróleo vai se estabilizar nos próximos anos e, a partir daí, vai iniciar um lento declínio, na medida em que a produção dos novos campos não seja capaz de compensar a queda dos campos mais antigos.

Verkhnechonsk foi descoberto em 1978 por geólogos soviéticos. Mas o campo foi considerado longe demais dos mercados de exportação da URSS e concluiu-se que não valia a pena explorá-lo.

Isso mudou em 2006, quando o governo começou a construir o oleoduto ligando o leste da Sibéria ao Oceano Pacífico, conhecido pela sigla Espo - um projeto bilionário para levar petróleo siberiano para a Ásia. Logo, campos isolados como Verkhnechonsk tinham uma saída para os mercados de rápido crescimento do Oriente.

A TNK-BP entregou os primeiros barris de petróleo de Verkhnechonsk no Espo em outubro de 2008. Espera-se que a produção chegue a seu pico em 2014, com 160.000 barris por dia.

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