segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Indústria segue padrão e "perde" outro ano


Valor 5/12

A indústria de transformação deve encerrar este ano com crescimento inferior a 1% na comparação com 2010, enquanto o consumo das famílias deve evoluir entre 4% e 5% e o Produto Interno Bruto (PIB), próximo a 3%. Esse fraco resultado da produção industrial não é uma exceção. Em cinco dos últimos sete anos, o ritmo de crescimento do setor foi de apenas um terço do ritmo de aumento da demanda das famílias. A exceção foi 2010, quando o setor se recuperou do tombo do ano anterior e subiu mais que a demanda, e 2007, quando a diferença entre oferta doméstica e consumo foi pequena.

Entre os obstáculos que fizeram deste um ano difícil para a indústria, analistas apontam o aperto do crédito promovido no fim do ano passado, o câmbio valorizado, que fortaleceu a entrada de importados, e uma pressão nos custos da folha de pagamento, que cresceu acima da produtividade no setor. É consenso, no entanto, que uma retomada do setor industrial passa obrigatoriamente por um aumento de competitividade, problema que não começou neste ano.

Para o professor Nelson Marconi, da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP), a indústria vem perdendo espaço para os produtos importados e as medidas recentes adotadas pelo governo - com corte das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca e redução do custo do crédito - podem levar a um pequena recuperação da demanda, mas não terão o mesmo impacto na produção. "Uma parcela crescente do consumo tem sido absorvida pela importação e isso não se reverte no curto prazo", diz ele.

Para Marconi, reverter o descolamento crescente entre produção e demanda exige mais que câmbio. A valorização do real é um elemento importante, mas não o único que explica a perda de espaço do produto local. Estrutura de impostos e infraestrutura, diz ele, também pesam.

"O câmbio valorizado e o aperto no crédito são fatores de curto prazo", avalia Naércio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper. O economista lembra que a indústria brasileira, criada somente para atender o consumo interno, sem o objetivo de exportar, acabou ficando ineficiente e foi "pega de calças curtas" quando o mercado foi aberto às importações, no fim da década de 80 e início dos anos 90.

"Há um problema estrutural, que é a falta de competitividade da indústria brasileira. É uma indústria que está acostumada a ser protegida e a não se esforçar para aumentar a produção", situação que só se agrava com medidas equivocadas do governo, como o recente aumento no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados, acrescenta o professor do Insper.

Para o economista Eduardo Giannetti, a desaceleração da indústria veio mais forte do que o esperado no segundo semestre, marcada por fatores conjunturais, e o fantasma da crise europeia ainda pode trazer mais problemas. "Houve um impacto muito forte nas expectativas dos industriais, atingindo principalmente o setor de bens de capital. Não tem como a indústria crescer sem produzir máquinas e equipamentos", diz ele, para quem as perspectivas do setor em 2012 não são otimistas. "Não vejo a indústria crescendo de forma acelerada por vários trimestres. Não há espaço. O próximo ano também será bem difícil."

A Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na sexta-feira, mostrou que a produção recuou pelo terceiro mês consecutivo em outubro, acumulando queda de 2,6% desde agosto, na série que desconta efeitos sazonais. No ano, a indústria produziu apenas 0,7% mais que em 2010. E a pesquisa mostra que o mau desempenho é generalizado: em outubro sobre setembro, também com ajuste sazonal, a queda atingiu 20 entre 27 setores

Um dos piores setores foi o de bens de capital, cuja produção caiu 1,8% em relação a setembro, com ajuste sazonal. Giannetti acredita que uma reversão desse movimento, com maiores gastos na formação bruta de capital fixo - medida do que se investe na economia na construção civil e em máquinas e equipamentos - e um aumento da poupança doméstica podem ajudar o crescimento da indústria. "No começo do ano, o governo promoveu a desaceleração de uma maneira errada, calcada na queda dos investimentos, e não no corte de gastos", critica.

Se neste ano a produção deve crescer entre 0,5% e 0,8%, para 2012 a expectativa é de um avanço na casa dos 3%, projeta Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset São Paulo, para quem a desoneração no IPI de grande parte da linha branca deve reduzir estoques e estimular a atividade das fábricas. Lima condiciona essa retomada, porém, a uma maior segurança no ambiente internacional. "Enquanto continuar esse cenário de insegurança, a indústria vai trabalhar em ritmo mais lento para evitar o acúmulo de estoques."

O economista Fábio Giambiagi acredita que a aceleração na indústria pode acontecer a partir do segundo trimestre do ano que vem. Até lá suas expectativas são cautelosas. "O crescimento do PIB que será anunciado na terça-feira não deve ser muito positivo. E não há nada de muito melhor para a economia acontecendo neste quarto trimestre." Segundo ele, ainda que a situação europeia comece a se normalizar, um efeito tardio será sentido no Brasil no primeiro trimestre de 2012.

Marconi, da FGV, também não espera uma recuperação forte da indústria em 2012. "Não podemos contar com aumento da demanda externa", diz ele, em referência à crise nos países ricos.

O Brasil ainda vai demorar para recuperar um bom ritmo mesmo após as economias europeias voltarem a crescer, diz Giannetti. "O nosso PIB potencial não é tão baixo quanto os 3% de crescimento que devemos ver neste ano, nem tão alto quanto 7,5%. Quem achou que o limite de velocidade do PIB brasileiro era este se enganou. Toda economia tem um limite de velocidade e, quando ele é ultrapassado, há um desequilíbrio." O nosso, segundo Giannetti, está entre 4% e 5%.

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