quarta-feira, 15 de agosto de 2012
China está derrubando o preço do minério de ferro
Valor 15/08
O aprofundamento da crise global e a redução do ritmo de crescimento da China está derrubando o preço do minério de ferro, que ontem bateu em US$ 114,00 no spot chinês, o nível mais baixo desde o fim de 2009. Para especialistas do setor de mineração isto pode ser "o fundo do poço", mas ficam em duvida devido as incertezas atuais que cercam este mercado.
Em 15 dias, o preço da commodity, que era de US$ 121,50, tem registrado quedas da ordem de 6,17%. O mercado de minério tem sido pressionado por aumento da oferta do produto australiano na Ásia, principalmente na China, e pelo redirecionamento de minério de outros mercados para aquele país, por conta da crise. De janeiro a julho, a demanda chinesa cresceu 2%, num ritmo mais lento porque o país está crescendo menos e isso influi na formação dos preços da commodity definidos no mercado livre chinês.
Ontem, durante evento no Rio, Roberto Castello Branco, diretor de Relações com Investidores da Vale, comentou a situação da economia chinesa que, na sua avaliação, dificilmente retomará os patamares de crescimento de 10% registrados nos últimos anos. "Não sou pessimista, sou mais realista. Para a China, segunda maior economia do mundo, crescer a 7% ou 8% vai ser muito bom também. Mas não deve chegar a 10%", previu, fazendo um alerta: "os anos dourados desse país acabaram".
Segundo Castello Branco, a China demonstra hoje ter virado uma economia madura. "Pode até eventualmente, em um ano de recuperação, chegar a isso [10% de crescimento], mas a tendência é mais baixa", completou. "Ser realista na vida é bom, pois ao ser 'superotimista' você se arrisca a perder", declarou o executivo. "A economia mundial só tinha vento de popa, criamos as bases de uma companhia global, e agora temos que nos adaptar aos novos tempos", salientou.
O executivo constatou, em sua palestra, que a Vale tem perdido espaço no mercado de minério de ferro para empresas australianas, mas pretende manter sua liderança global com projetos previstos para 2016, principalmente a mina de Serra Sul de Carajás, no Pará, que vai colocar mais 90 milhões de toneladas de minério de ferro no mercado mundial, nos próximos cinco anos.
A empresa brasileira permanece como a maior produtora mundial de minério de ferro, mas nos últimos quatro anos tem perdido participação para as australianas Rio Tinto, segunda maior produtora mundial, e para a BHP Billiton, que está em terceiro no ranking de produção.
"Somos os maiores produtores mundiais de minério de ferro, perdemos participação, mas em produção e venda, continuamos na liderança. Estamos produzindo a um ritmo de 300 milhões de toneladas por ano, enquanto a Rio Tinto, segunda maior, tem produzido 190 milhões. Há uma diferença grande que pretendemos ampliar".
A estratégia para retomar a fatia de mercado perdida é focar investimentos futuros em Carajás, e Serra Sul ajudará a Vale a enfrentar o cenário adverso de desaceleração da China, um de seus principais importadores. "Temos muitas reservas para lidar com os desafios", disse Castello Branco.
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