quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Cambio - Banco Central defende banda informal
Por Eduardo Campos e José de Castro - Valor 22/08
De São Paulo
Se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre a existência de um "piso informal" para a taxa de câmbio, agora não tem mais.
Depois de 35 pregões sem atuar, o Banco Central (BC) veio a mercado na terça-feira para adquirir moeda via "swap cambial reverso" (que equivale à compra de dólar futuro).
O regime oficial de câmbio é o flutuante, mas na prática o que se tem desde o fim de fevereiro é uma espécie de regime de banda administrada. Primeiro, o BC atuou na compra, quando o dólar ameaçava perder o patamar de R$ 1,70. Isso durou até o fim de abril. Pouco depois, em 18 de maio, virou a mão e começou a atuar na venda, já que o dólar ameaçava passar de R$ 2,10.
Além das atuações de fato, BC e governo também manobraram a taxa de câmbio com discursos.
O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, não perdeu uma oportunidade de fala pública para ressaltar a ideia de que o real desvalorizado veio para ficar, pois dá melhor competitividade à indústria.
A atuação verbal mais marcante do BC foi feita pelo seu diretor de política monetária, Aldo Mendes, que no dia 3 de julho disse que o BC poderia voltar a comprar dólares e, fazendo sintonia com Mantega, também afirmou que taxa de câmbio abaixo de R$ 2,0 não seria interessante para a indústria. A fala aconteceu um dia depois de o dólar perder os R$ 2,0, algo que não acontecia desde o fim de maio.
O mercado entendeu o recado e desde as declarações de Mendes não ameaçou os R$ 2,0, não importando o comportamento de outras moedas emergentes, bolsas de valores, crise na Europa ou qualquer outro motivo.
O que se seguiu foi um período sem precedentes de apatia cambial. A volatilidade do mercado caiu para cerca de 5%, contra uma média histórica de 17%. Os volume negociados caíram cerca de 18% no interbancário.
Com a retomada das compras, tudo indica que esse marasmo deve continuar. Apesar do incentivo à venda, o mercado não deve querer testar a vontade do BC e do governo. Além da possibilidade de atuação, cabe lembrar que a venda de dólar no mercado futuro parte "devendo" 1% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Com a melhora de tom nos mercados externos, também não cabe sair comprando moeda.
Por ora, tudo indica que a "banda cambial" com piso em R$ 2,0 e teto em R$ 2,10 seguirá valendo.
Para um gestor, no entanto, ainda não dá para afirmar isso categoricamente. Não é possível saber se o BC está apenas "zerando" os swaps tradicionais (que equivalem à venda de dólar futuro) que vencem em 3 de setembro ou se ele vai, mesmo, segurar os R$ 2,0 a qualquer preço.
"Tipicamente, o BC marca os pontos que vai defender atuando no mercado à vista. E isso ainda não aconteceu", diz.
O gestor avalia que o BC poderia deixar o dólar cair um pouco abaixo de R$ 2,0 antes de retomar as compras. Assim, a sinalização dada seria outra, pois se ele começar a defender e depois "largar a mão", o mercado vem para cima dele na venda.
Mas entre essa estratégia e a realidade a distância é grande. O gestor acredita que a atuação no câmbio é guiada mais por considerações políticas do que práticas.
"O governo parece querer mesmo um câmbio parado. A taxa não sobe para não prejudicar a inflação e o balanço da Petrobras e não cai para não prejudicar a indústria", conclui.
Para o estrategista-chefe do WestLB, Luciano Rostagno, o modesto volume da oferta de swaps reversos sugere que o mercado evita assumir uma posição clara no câmbio.
O BC ofertou 50 mil contratos de swap, ou US$ 2,5 bilhões, mas colocou apenas 7 mil contratos, que equivalem a US$ 350 milhões.
"O movimento do pregão deu uma boa pista disso. O mercado vendeu pouco dólar para o BC, porque ainda existe um receio de alta, mas também tem testado a cotação perto dos R$ 2,0 porque as indicações são de que a situação internacional, principalmente na Europa, está menos preocupante", afirma Rostagno.
Esse "jogo de forças", segundo o profissional, acaba deixando o dólar "travado".
O que pode tirar a cotação do intervalo entre R$ 2,00 e R$ 2,10 é o anúncio, até o fim do ano, de uma terceira rodada de estímulo pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
Por conta disso, o estrategista prevê que o dólar feche o ano a R$ 1,90. Para 2013, a estimativa é que a moeda caia ainda mais, para R$ 1,80. "Mas, no próximo ano, o que vai determinar isso é uma piora da inflação", diz.
Os economistas da Nomura Securities também acreditam que a inflação deve mudar a postura do governo com o câmbio.
Em 2013, o governo pode permitir uma apreciação do real visando evitar puxadas de alta na Selic. Ontem, o dólar chegou a bater em R$ 2,024, mas perdeu força para fechar a R$ 2,018, alta de 0,10%.
Piso para o câmbio
22 de agosto de 2012
3h 08
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O Banco Central voltou ontem a comprar moeda estrangeira no mercado futuro porque as cotações ameaçavam resvalar para abaixo de R$ 2 por dólar.
Aparentemente, a operação não foi o sucesso esperado. Dos 50 mil contratos oferecidos ao mercado, só foram fechados 7 mil e, logo em seguida, os preços do dólar voltaram a cair. Mas o que importa aí não é o vaivém das cotações; é a atitude do Banco Central e suas consequências.
Desde maio deste ano, sempre que a oferta de moeda estrangeira no câmbio interno tende a empurrar as cotações para abaixo dos R$ 2, o Banco Central intervém ou por meio de compras de moeda estrangeira no mercado à vista ou no mercado futuro, como ontem, para impedir nova valorização do real.
O que ontem pela manhã firmara tendência de baixa do câmbio não foi nem sequer uma grande entrada de dólares no País. Foi somente a percepção de que a economia mundial pode ser beneficiada nas próximas semanas com novas injeções de euros nos mercados em consequência de emissões realizadas pelo Banco Central Europeu (BCE). Também se reforçou a aposta de que, apesar dos desmentidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) opte por novas recompras de títulos do Tesouro dos Estados Unidos com o objetivo de reativar a economia.
Há 16 dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, observou que a principal medida de política cambial tomada pelo governo Dilma para desvalorizar o real (aumentar a cotação do dólar para devolver competitividade à indústria) foi de natureza monetária; foi a derrubada dos juros promovida desde agosto de 2011 pelo Banco Central.
Com isso, Mantega avisou que a política de juros do Banco Central não vem sendo usada apenas para empurrar a inflação para dentro da meta (de 4,5% neste ano), mas, principalmente, para evitar as chamadas operações de arbitragem feitas pelos especuladores que tomam dólares emprestados no mercado internacional, trazem os recursos para o Brasil e aqui ganham com a diferença de juros e, nesse jogo, derrubam as cotações no câmbio.
Se a política de juros fosse suficiente para manter afastados os especuladores e segurar o dólar à altura dos R$ 2, o Banco Central não precisaria intervir. Mas interveio.
E, no entanto, nada de especialmente novo aconteceu ontem nos mercados cambiais que repetisse o tsunami monetário de que a presidente Dilma tanto se queixou há alguns meses.
O que tem de ser levado em conta é que, apesar do desestímulo às operações de arbitragem com juros e da sistemática intervenção do Banco Central, a tendência do câmbio continua sendo de valorização do real (baixa do dólar). Para isso, não é preciso nem sequer que esteja a caminho uma solução definitiva para a crise. Basta que os mercados fiquem mais otimistas em relação à evolução da economia global.
A longo prazo, o Banco Central não pode alterar uma tendência firme do câmbio. Para garantir competitividade ao setor produtivo, a economia brasileira não poderá contar só com redução dos juros e com intervenções do Banco Central. É necessário aprofundar o que a presidente Dilma começou a fazer: derrubar os custos de produção no Brasil.
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