terça-feira, 22 de novembro de 2011

Preços de exportação recuam e devem cair mais até 2012


Por Sergio Lamucci De São Paulo - VALOR 22/11

Depois da alta forte e contínua iniciada em meados de 2009, os preços das exportações brasileiras inverteram a mão nos últimos dois meses, dando início a uma trajetória de queda que deve se estender ao longo de 2012. Em setembro e outubro, as cotações recuaram 1% em relação ao nível de agosto, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). É uma baixa pouco expressiva, mas emblemática, dizem analistas. Nos últimos anos, o aumento de preços garantiu saldos comerciais robustos, sustentados especialmente pela disparada das commodities, a despeito do crescimento expressivo das importações. No acumulado do ano, contudo, a alta ainda é significativa, de 25,5% na comparação com o mesmo período de 2010.

As cotações das commodities, que dominam a pauta de exportações do Brasil, tendem a seguir em baixa daqui em diante, dadas as perspectivas de menor crescimento global, com provável recessão na Europa, uma economia americana ainda fraca e temores de alguma desaceleração da China. Especialistas apostam que os preços médios das vendas externas brasileiras em 2012 ficarão até 10% menores do que as deste ano. Como os preços da importação, que é concentrada em manufaturados, devem cair menos, os termos de troca vão piorar, levando a uma redução do superávit comercial.

Em outubro, houve queda dos preços de exportação de todas as categorias de produtos em relação ao mês anterior - de 0,3% dos básicos, 0,4% dos manufaturados e 2,4% dos semimanufaturados (a única das três em que as cotações haviam subido em setembro). Nessa última categoria, destacaram-se os recuos de 1,8% do óleo de soja em bruto e de 5,8% do alumínio. Como não têm um padrão sazonal definido, os preços de exportação de um mês podem ser comparados com o mês imediatamente anterior sem a necessidade de ajustes.

O economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, acredita que os preços de exportações devem de fato seguir em queda nos próximos meses, vendo os números de setembro e outubro como o início de uma tendência. Ele não espera, contudo, tombos acentuados. O baixo crescimento nos países desenvolvidos, com uma possível recessão na Europa, já estaria em alguma medida refletido na tendência dos preços, diz Ribeiro. Como a liquidez deve continuar elevada no mercado internacional e as economias emergentes, em especial a China, tendem a manter um ritmo de expansão ainda razoável, os preços dos produtos primários não vão despencar, avalia ele. Com base nesse cenário, que não contempla uma ruptura do porte da quebra do Lehman Brothers, ocorrida em setembro de 2008, o economista estima que os preços de exportação em 2012 podem ficar de zero a 5% menores do que a média de 2011.

Ribeiro destaca que os preços de exportação oscilam menos que as cotações das commodities nos mercados internacionais. Há contratos acertados com antecedência, e os exportadores tentam esperar momentos mais favoráveis para fechar negócios, nota ele. Não por acaso, os preços só caíram em setembro e outubro, reagindo com defasagem ao recuo dos produtos primários observado nos mercados. "A era de alta de preços internacionais chegou ao fim em abril de 2011. Faz sete meses que eles registram trajetória de declínio suave", como lembra o economista Fabio Silveira, sócio da RC Consultores. Segundo ele, a economia global está ajustando para baixo seus preços de equilíbrio, aos tempos de baixo crescimento que "conhecemos neste ano e vamos conhecer nos próximos".

O presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, tem uma visão um pouco mais pessimista do que a de Ribeiro em relação aos preços de exportação. Segundo ele, o crescimento pouco animador nos EUA e muito fraco na Europa terá efeito não desprezível sobre os preços de commodities, que respondem por pouco mais de 70% da pauta de exportações do Brasil.

Para Castro, uma queda de 5% a 10% dos preços de exportações é factível, com a tendência de o recuo ser mais próximo de 10%. As cotações do minério de ferro e do complexo soja, que têm peso expressivo nas vendas externas, deverão ficar em níveis consideravelmente abaixo da média de 2011. "Os preços de praticamente todas as commodities atingiram o ápice neste ano", diz Castro. São níveis que não são mais sustentáveis no mundo de hoje.

Para Silveira, as cotações das exportações brasileiras "podem demorar muitos anos para retornar ao patamar do primeiro semestre de 2011", lembrando que eles também foram inflados por movimentos especulativos.

Saldo comercial pode diminuir até 50% no próximo ano

A esperada piora nos termos de troca (a relação entre preços de exportação e importação) vai derrubar o superávit comercial da casa de US$ 30 bilhões neste ano para US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões no ano que vem, acreditam especialistas em comércio exterior. Um recuo maior requer um tombo das commodities, que hoje não parece o cenário mais provável.

O economista Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, acredita que os preços de exportação em 2012 ficarão 8% abaixo da média de 2011, enquanto o volume de vendas deve crescer 2%. Com isso, o valor das exportações cairia de US$ 255 bilhões para US$ 240 bilhões. As importações, por sua vez, devem ter queda menor, de US$ 225 bilhões para US$ 220 bilhões, com preços recuando 5% e os volumes aumentando 3%. Desse modo, o saldo comercial encolheria de US$ 30 bilhões em 2011 para US$ 20 bilhões em 2012.

Os preços de importação tendem a cair menos do que os de exportação, uma vez que o Brasil compra principalmente produtos manufaturados, bens cujas cotações costumam recuar com menos força que as commodities, por serem menos voláteis. Em 2009, sob o efeito do agravamento da crise do ano anterior, as cotações dos produtos básicos caíram 17,6% e as dos manufaturados, 5,9%.

O economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio (Funcex), Fernando Ribeiro, acredita que, na média, os preços de importação podem ficar estáveis em relação aos deste ano. Nas suas contas, que incluem cotações de exportações estáveis ou com uma queda de até 5%, isso faria o superávit comercial encolher da casa de US$ 30 bilhões para US$ 20 bilhões ou um pouco menos, previsão muito próxima da de Silveira.

Com base em estimativas bastante preliminares, o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro, considera possível um saldo comercial entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões no ano que vem - para este ano, projeta um superávit US$ 28 bilhões.

A possibilidade de um déficit comercial em 2012 parece pequena. Transformar um superávit de US$ 30 bilhões num ano num rombo exigiria um tombo muito forte das commodities, o que não pode ser descartado, especialmente dada as incertezas na Europa, mas é hoje visto como improvável. A concentração da pauta de exportações em produtos primários, porém, é um risco, como ressalta Castro. O país fica exposto às oscilações de preços fora do seu controle. Um tombo mais acentuado das commodities, em caso de agravamento do cenário externo, poderia derrubar o superávit para menos de US$ 10 bilhões, diz Ribeiro.

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