quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Brasil se isola na defesa do protecionismo comercial


Por De Cannes _ Valor 03/11

O Brasil está isolado na defesa do protecionismo comercial no G-20. É em posição defensiva que a presidente Dilma Rousseff participa hoje da cúpula que reúne as 20 maiores economias do mundo. O país é o único do grupo que se recusa a manter um compromisso, assumido no ano passado, de resistir a todas as formas de protecionismo que causem mais danos à economia mundial.

O Valor apurou que a delegação brasileira alega nas negociações do G-20 que o mundo mudou e o Brasil está tendo dificuldade com outros países que distorcem o comércio através da desvalorização de suas moedas e assim exportam subsídios para o mercado brasileiro.

O Brasil menciona também o impacto do forte déficit comercial com os EUA, com indústrias brasileiras afetadas ao mesmo tempo em que perdem mais fatias de mercado.

Já outros países dizem não só entender como também usar proteção. Mas consideram que o Brasil está adotando como arma barreiras que só funcionam no curto prazo, como aumentar o IPI para carros estrangeiros. E que falta medida estrutural, mais demorada e mais custosa, porém que reforçaria a competitividade do país.

Mesmo a Argentina, o único país a apoiar o Brasil na questão, é mais flexível e "não está brigando", segundo fonte presente nas intensas negociações entre as maiores economias do mundo, representando 85% da produção mundial.

A China apenas ataca o protecionismo e quer mais: defende que o G-20 amplie até 2015 o compromisso para os países resistirem a todas forma de protecionismo. Refletindo um racha nos Brics, a África do Sul está do lado dos chineses.

O que mais surpreende os parceiros é como a orientação da política comercial brasileira mudou. Duas decisões tomadas na crise de 2008 são apontadas como tendo sido essenciais para frear o protecionismo, que na época poderia ter deteriorado ainda mais a economia mundial: o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou suspender a licença automática de importações e, nos EUA, o presidente Barack Obama adotou um plano de "compre produtos americanos", mas com o cuidado de não ferir as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

"O Brasil agora chutou o pau da barraca e está perdendo credibilidade", disse um diplomata estrangeiro conhecedor do país.

Líderes dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - vão se reunir na manhã de hoje em Cannes. Mas, rachados, sequer divulgarão um comunicado, como aconteceu no passado.

Sobre eventual ajuda a países da zona do euro, a China prefere participar diretamente da compra de títulos soberanos pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, podendo exigir contrapartidas, na avaliação de observadores.

O Brasil insiste em só participar - e modestamente, pois suas reservas são quase dez vezes menores que as da China - por meio do Fundo Monetário Internacional, para aumentar o poder decisório na entidade. A Índia tem pouco interesse na discussão. A Rússia tampouco definiu posição. Segundo um negociador, os Brics mostram fratura também em outros temas, como a questão climática. (AM)

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