quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Dilma determinou afrouxamento
Por Cristiano Romero | De Brasília - Valor 17/11
O afrouxamento das medidas macroprudenciais foi uma decisão da presidente Dilma Rousseff, que considerou ter chegado o momento de fazer uma sintonia fina na política econômica para impedir que o Produto Interno Bruto (PIB) caia excessivamente neste e no próximo ano. Dilma se reuniu, separadamente, na semana passada, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e ordenou o "reequilíbrio" das medidas adotadas desde o início do ano e que restringiram as operações de crédito.
As mudanças foram preparadas pelo BC. O objetivo é estimular a oferta de crédito, um dos motores do crescimento do consumo das famílias nos últimos anos e, portanto, da própria expansão do PIB. As restrições adotadas em dezembro e janeiro diminuíram, por exemplo, as vendas de automóveis, ajudando as montadoras a acumular elevados estoques em seus pátios.
Preocupa a presidente Dilma o possível mergulho que a economia deu no terceiro trimestre, quando comparado ao trimestre anterior. Entre janeiro e março, o PIB avançou 1,3% e, entre abril e junho, 0,8%. No período seguinte (de julho a setembro), a economia pode ter tido crescimento pouco acima de zero em relação ao segundo trimestre.
A presidente Dilma alimenta a expectativa, mas apenas a expectativa, segundo apurou o Valor, de que a taxa básica de juros (Selic) chegue a abril do ano que vem abaixo de 10% ao ano - hoje, está em 11,5% ao ano. O Banco Central tem sinalizado, como fez ontem seu presidente, Alexandre Tombini, que continuará promovendo cortes "moderados", ou seja, de 50 pontos-base (0,5 ponto percentual) a cada reunião do Comitê de Política Monetária do BC.
Na próxima reunião do Copom, a última do ano, a Selic deve cair para 11% ao ano. Segundo fontes graduadas do governo, a presidente Dilma não interfere nas decisões do Comitê nem tem uma meta para a taxa de juros. Ela tem conversas frequentes com Tombini, sempre sem hora marcada, isto é, sem constar da sua agenda pública, mas não diz a ele o que fazer em relação à taxa Selic. "Ela tem reiterado que os juros vão continuar caindo se houver condições para isso", assegurou um assessor graduado.
Para diminuir os ruídos, que prejudicam a comunicação do BC com os agentes econômicos, Dilma proibiu ministros e assessores de falar sobre taxa de juros, como vinha ocorrendo desde agosto. Ordenou que esse tema é afeto apenas ao presidente do Banco Central, não diz respeito nem mesmo ao ministro da Fazenda.
A duração do processo de alívio monetário ainda é desconhecida. Ela dependerá da intensidade da desaceleração da atividade econômica em curso e do comportamento da inflação. Um outro fator é a economia mundial.
A presidente Dilma está muito preocupada com o cenário externo. Acha que falta liderança política na Europa para enfrentar a crise. Acredita também que Angela Merkel, líder do país mais forte da zona do euro, a Alemanha, ainda não percebeu a gravidade da situação. Quanto mais se demora para enfrentar a crise, maior a probabilidade de uma ruptura.
Na sexta-feira passada, o Banco Central promoveu um alívio na exigência de capital próprio dos bancos para fazer frente a operações de crédito para pessoas físicas. O BC também que desistiu de elevar a 20% o percentual mínimo de pagamento das faturas de cartão de crédito. Esse limite já tinha subido de 10% para 15% em junho.
A preocupação da presidente é evitar que o PIB brasileiro cresça abaixo de 3% neste ano. Na área econômica, aposta-se que, apesar da forte desaceleração em relação aos níveis de 2010, a economia crescerá 3,5% em 2011. Para 2012, a expectativa do Ministério da Fazenda é um crescimento de 5%.
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