segunda-feira, 19 de março de 2012

Economia americana resiste bem ao petróleo caro, mas até quando?



Por Ben Casselman e Phil Izzo
The Wall Street Journal

Os preços em alta do petróleo não emperraram a recuperação econômica dos EUA. Mas isso não significa que eles não podem fazê-lo nos próximos meses.

Altas do petróleo podem assolar uma economia, derrubar a confiança do consumidor, inibir o consumo, elevar os preços e acabar freando contratações e investimentos. A boa notícia é que isso ainda não aconteceu. "Os consumidores ainda não se abalaram", disse Ellen Zentner, economista da Nomura Securities International.

Um relatório da Universidade de Michigan e da agência Thomson-Reuters mostrou, na sexta-feira, uma pequena queda na confiança do consumidor desde a sua última medição, mas o índice permanece acima do nível registrado no final do ano passado, quando os preços começaram a subir.

Dos 50 economistas que responderam a pesquisa mensal de previsões do "The Wall Street Journal", 37 (quase três quartos) disseram que os preços do petróleo ainda não tiveram um impacto relevante no crescimento. Mas, quando o assunto é o futuro, há muito menos consenso. Questionados que preço teria um efeito significativo, os economistas responderam com valores que iam desde US$ 115 o barril, apenas um pouco acima do preço atual, até US$ 250 por barril, o que implica uma quase catastrófica crise de suprimento.

Os economistas dizem que o impacto do petróleo na economia vai depender de quatro questões.

1. Até onde os preços vão subir? Especialistas costumam falar como se os preços da gasolina só pudessem subir. No curto prazo, eles podem até estar certos. Os preços do petróleo levam semanas para chegar até os consumidores nos EUA. Assim, altas recentes ainda não foram totalmente sentidas na bomba. O preço da gasolina tende ainda a subir no segundo trimestre, atingindo o máximo em maio.

Mas, para além disso, o caminho é menos nítido. O preço do petróleo se estabilizou nos últimos dias, embora ninguém saiba quanto isso vá durar. Os mercado de futuros mostram os preços da gasolina chegando a um máximo de pouco mais que US$ 4 por galão (US$ 1,06 por litro) nos próximos meses, na mesma faixa de 2008. Isso tudo importa porque pesquisas já mostraram que os consumidores reagem muito mais quando os preços atingem novos recordes do que quando eles só voltam a picos antigos.

2. Com que rapidez os preços vão subir? Preços viram manchetes, mas muitos especialistas argumentam que a velocidade da alta é o que importa. Uma alta longa e gradual dá a consumidor e empresas mais tempo para se ajustarem.

"Se chegarmos a US$ 5 daqui a dois anos e os preços até lá subirem devagar, não vai ser um grande problema", disse Dean Maki, economista-chefe nos EUA do Barclays Capital. "Se chegarmos a US$ 5 amanhã, vai ser um problema."

3. Por que os preços estão subindo? Os preços do petróleo sobem por alta da demanda ou queda da oferta. Os dois têm consequências diferentes para a economia.

Em geral, uma alta derivada de aumento na demanda não preocupa os economistas tanto quanto uma causada por diminuição na oferta. Isso porque uma demanda maior geralmente é sinal de uma economia em crescimento. Se os preços aumentam o suficiente para frear o crescimento, então a demanda também vai diminuir, fazendo os preços caírem também.

Uma interrupção no suprimento tem consequências mais graves, pois pode elevar os preços mesmo numa economia fraca. Foi isso que ocorreu no ano passado: a guerra na Líbia e os conflitos em outros países do Oriente Médio fizeram os preços dispararem, numa hora em que os EUA estavam muito fracos para aguentar o golpe.

O bom senso indica que, este ano, a alta é ao menos em parte causado pela oferta, afetada agora pelas tensões no Irã, embora alguns economistas acreditem que a demanda crescente também está tendo influência. Um aumento nas tensões pode elevar ainda mais os preços nos próximos meses.

4. O resto da economia está forte? No ano passado, os preços do petróleo puseram a economia dos EUA à prova, e ela foi reprovada. Vai ser melhor este ano?

Alguns economistas acham que sim. O mercado de trabalho é o mais desde que a recessão começou. As pessoas tiveram mais um ano para pagar dívidas e equilibrar suas finanças. O setor imobiliário está mostrando sinais cautelosos de melhora. O fato de que os preços do petróleo ainda não descarrilaram a recuperação indica um nível de estabilidade que não havia em boa parte dos últimos dois anos. Mas não conte com essa estabilidade se os preços do petróleo derem nova guinada para cima.

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