sexta-feira, 16 de março de 2012

BC indica que taxa Selic cairá só até 9%



Por Mônica Izaguirre e Murilo Rodrigues Alves - Valor 16/03
De Brasília

O Banco Central sinalizou, ontem, que o ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto de 2011 se encerrará quando a taxa básica de juros brasileira chegar a 9% ao ano. A indicação está na ata da reunião em que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic de 10,5% para 9,75% ao ano. Segundo o documento, o Copom vê grande probabilidade de que a taxa se estabilize em patamar ligeiramente acima do mínimo histórico, que é de 8,75%.

"O Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando", diz o texto.

Esse mínimo, de 8,75% ao ano, vigorou de 23 de julho de 2009 a 28 de abril de 2010. A redução da taxa na ocasião também foi uma resposta à crise financeira internacional e seus efeitos negativos sobre a economia doméstica.

Dois dos sete integrantes do Copom queriam, na semana passada, que a Selic fosse reduzida em 0,5 ponto percentual, corte da mesma magnitude dos quatro anteriores. A ata sugere que não houve divergência quanto ao tamanho do ajuste total da taxa, ou seja, até que nível o juro básico deve cair no atual ciclo. A discordância refere-se à distribuição do ajuste no tempo.

Os votos divergentes basearam-se no argumento de que, na visão do colegiado, a inflação evoluiu conforme o esperado desde a reunião de janeiro e que, por isso, não houve "mudanças substantivas nas estimativas para o ajuste total das condições monetárias". A maioria, entretanto, entendeu que a situação da economia recomenda, neste momento, "redistribuição temporal do ajuste total das condições monetárias como a estratégia mais apropriada".

A desaceleração da economia brasileira, que já tinha justificado os cortes anteriores, voltou a ser apontada pelo comitê como um dos fatores da nova redução da Selic. A queda no ritmo de crescimento no segundo semestre do ano passado foi maior do que a prevista, reafirma a ata. Em outro trecho, o documento destaca que a produção industrial caiu 2,1% em janeiro, depois de ter crescido 0,5% em dezembro. O texto não deixa claro, no entanto, se o comportamento dos indicadores do nível de atividade doméstica foi mesmo o principal motivo da decisão de fazer um corte maior do que os anteriores na Selic.

O Comitê acha que houve "alguma melhora" das perspectivas para a economia mundial. Mesmo assim, considera que o quadro externo ainda é de incerteza "muito acima da usual", com perspectivas deterioradas para o nível de atividade econômica e riscos elevados para a atividade financeira global.
O cenário melhorou "na margem", entre outros fatores, porque caiu a aversão ao risco e consolidou-se uma percepção mais positiva em relação à economia americana. Também contribuiu a recente atuação do Banco Central Europeu (BCE), no sentido de dar liquidez ao sistema financeiro da Europa, o que, na visão do Copom, reduziu, "no curto prazo, a probabilidade de eventos bancários extremos".

Por outro lado, o Copom acha que a melhora foi marginal porque, nos Estados Unidos, ainda persistem riscos, como a recente alta dos preços do petróleo e a perspectiva de contenção fiscal. Na Europa, persistem riscos elevados para a estabilidade financeira global, devido à exposição de bancos internacionais às dívidas soberanas de países com desequilíbrios fiscais. Ainda em relação à Europa, a ata afirma que eventos recentes indicam a postergação de uma solução definitiva para a crise financeira do continente. Por tudo isso, o cenário externo continua sendo "desinflacionário", diz a ata.

No cenário central com que trabalha o Banco Central, a inflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) evoluiu dentro do esperado desde o início do ano e fechará 2012 em torno do centro da meta, fixado em 4,5%.

O Copom admite que o descompasso entre o crescimento da oferta e da demanda em segmentos específicos da economia brasileira persiste. Mas avalia que os riscos daí derivados são decrescentes. Além disso, vê espaço para que as indústrias atendam ao crescimento de demanda sem pressionar preços, uma vez que a utilização da capacidade instalada está "abaixo da tendência de longo prazo". Os preços das commodities também estão ajudando a aliviar pressões inflacionárias.

Por outro lado, o Copom continua achando estreita a margem de ociosidade do mercado de trabalho. Nessa circunstância, a possibilidade de aumentos de salários incompatíveis com o aumento da produtividade representa um risco importante para a dinâmica da inflação, entende o colegiado.

A ata reitera a avaliação de que a demanda doméstica segue "robusta", especialmente o consumo das famílias, devido a fatores como crescimento da renda e expansão do crédito, que deve permanecer moderada.

Já o setor público deverá contribuir para conter a demanda interna da economia, por causa da política fiscal de geração de superávits primários. O BC pressupõe um superávit de 3,1% em 2012 e 2013.

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