segunda-feira, 17 de outubro de 2011

China é o principal alvo na campanha eleitoral americana


Por Bob Davis | The Wall Street Journal

É impossível saber quem vencerá a disputa presidencial americana do ano que vem, mas já existe um perdedor bem claro: a China.

Um dos candidatos republicanos, Mitt Romney, vem colocando a China no centro da arena, acusando-a de "trapacear" e ameaçando fechar o mercado americano aos produtos chineses a menos que a China permita que sua moeda se valorize significativamente. O presidente Barack Obama atacou Pequim por "manipular o sistema de comércio exterior".

Na semana passada, o Senado americano aprovou, por maioria esmagadora, um projeto de lei para punir a China por sua política cambial, por meio de sanções comerciais. A menos que a liderança republicana na Câmara dos Deputados continue a bloquear uma votação, a lei provavelmente passará na Câmara por uma margem enorme, como ocorreu com um projeto de lei semelhante no ano passado.

Boa parte disso pode ser encarada como teatro, típico de um ano eleitoral. Todo presidente acaba descobrindo que os EUA têm opções limitadas para fazer com que a China, segunda maior economia do mundo e maior credor externo dos EUA, adote mudanças orientadas para o mercado. O truque é fazer com que Pequim perceba que a reforma é de seu interesse; ainda assim o ritmo da mudança é lento.

Mas as ameaças dos políticos, mesmo que não se tornem leis ou orientações políticas, têm consequências na China e podem sair pela culatra, de várias maneiras que os americanos talvez não compreendam. Pequim está perto da sua própria mudança de governo, a ocorrer em 2012, com os políticos de mais alto escalão manobrando para conseguir o poder. Não há eleições, mas a opinião pública importa. Ser visto como amigo dos EUA numa hora em que Washington ameaça castigar Pequim é um obstáculo para um político chinês - tanto quanto seria ter uma imagem de amigo da China para um candidato americano fazendo campanha em Cleveland.

Cheng Li, estudioso do Brookings Institution China, diz que as ameaças de Washington já prejudicaram um favorito dos EUA, o vice-premiê Wang Qishan, considerado com alguma chance de se tornar primeiro-ministro, o cargo número dois na China. Wang já afirmou que a China precisa depender mais do consumo interno e não das exportações - exatamente a posição dos EUA.

Uma reação contra as ameaças dos EUA poderia ajudar Bo Xilai, o nacionalista secretário do Partido Comunista em Xunquim. A cidade recentemente fechou 13 lojas da Wal-Mart por, supostamente, vender carne de porco com rótulo errado. Fechar um supermercado por uma infração tão comum é algo inusitado.

Ele busca uma vaga no Comitê Permanente do Politburo. "Vocês estão prejudicando autoridades que formulam a política econômica e têm fortes laços com os EUA", disse Li. "Isso os coloca em uma situação embaraçosa."

Romney, que assumiu a linha mais dura em relação à China entre os candidatos à presidência, diz que pressão dos EUA é crucial para fazer com que a China mude sua maneira de agir. Diz que vai acusar a China de "manipular" o câmbio por manter sua moeda subvalorizada e que vai atacar a importação de produtos chineses, impondo tarifas compensatórias. O projeto do Senado tem disposições semelhantes e é defendido por parlamentares como o democrata Charles Schumer, de Nova York.

Conseguir que os chineses aumentem o ritmo da apreciação de sua moeda pode estar além da capacidade de uma ação isolada dos EUA, pois o país perdeu prestígio internacional desde a recessão global de 2009. Pequim decidiu deixar a sua moeda flutuar em 2010, antes de uma cúpula do Grupo dos 20 em Toronto, em parte para evitar críticas nessa reunião por parte de muitos países, não só dos EUA.

No fim de semana passado, Washington usou outra sessão do G-20 para manter a pressão, e fará o mesmo na cúpula dos líderes do G-20 em novembro. Apenas conseguir que a China conserve seu ritmo mensal de 0,5% de apreciação já pode ser um desafio. Isso porque a China teme perder empregos se seu setor exportador desacelerar.

Fazer mudanças fundamentais é difícil tanto para os EUA como para a China. Desde pelo menos 2007, Pequim admite que precisa reestruturar a sua economia de modo a depender menos das exportações. No entanto, não conseguiu fazer muito a respeito devido à oposição de interesses poderosos, nesse caso de exportadores e governos locais. Da mesma forma, muitos legisladores americanos admitem há muito tempo que os custos da Previdência do país devem ser cortados, mas pouco foi feito devido aos grupos de interesse, nesse caso o lobby dos cidadãos mais idosos e dos planos de saúde.

Para compreender como a China enxerga a intimidação por parte de políticos americanos, imagine uma situação em que políticos chineses começassem a fazer ataques verbais, ameaçando vender os ativos em dólar da China a menos que os EUA pusessem ordem na sua situação fiscal. Será que essa atitude iria incentivar os americanos a fazer as mudanças ou a se aferrar às suas posições e fazer justamente o oposto?

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