segunda-feira, 18 de junho de 2012

Caindo na real, Petrobras revê para baixo suas metas e ainda quer aumento


Petrobras enfrenta atrasos na entrega de equipamentos


Valor 18/06

Um dos obstáculos para o cumprimento de metas de produção da Petrobras nos próximos dois anos é a entrega de equipamentos para desenvolvimento da produção do pré-sal. Na Conferência de Energia promovida pelo banco Credit Suisse em Londres, na quinta-feira, um representante da estatal explicou que a Petrobras enfrenta atrasos na entrega de árvores de natal molhadas e trabalha com adiamento de um ano de toda a programação de entrega das plataformas "replicantes". Esse é o modo como a estatal define as oito FPSOs idênticas destinadas ao pré-sal e cujos cascos serão construídos no complexo naval de Rio Grande (RS), da Engevix.

O problema com as árvores de natal foi confirmado na sexta-feira pela presidente da Petrobras, Graça Foster, depois de participar da abertura do Fórum de Sustentabilidade Corporativa, evento da Rio+20. Graça mencionou o investimento em 2012, de R$ 83,2 bilhões, R$ 11 bilhões maior que o de 2011, e afirmou que a execução depende exclusivamente da capacidade física dos fornecedores, acrescentando que os fabricantes internacionais "devem mais em termos de atraso que os nacionais, diga-se de passagem".

O atraso nesses dois equipamentos essenciais vão interferir nos planos de aumento da produção de petróleo e gás nos campos supergigantes da bacia de Santos, incluindo Lula Nordeste e Cernambi. Emerson Leite, analista do Credit Suisse, disse que a Petrobras informou que trabalha com a possibilidade de um atraso na rampa de produção do pré-sal em 2012 e 2013 principalmente devido ao risco de atraso na entrega das árvores de natal molhadas, encomendadas à norueguesa Aker Solutions. A árvore de natal molhada é um conjunto de conectores e válvulas usado para controlar o fluxo do óleo e gás produzidos ou injetados dentro do reservatório, que é instalado na cabeça do poço.

"As FPSOs desse período [2012-2013] estão no prazo, mas as árvores de natal, especialmente as previstas para 2013, atrasarão e, com isso, a entrada dos poços em produção [também]", explicou Emerson Leite ao Valor.

A Petrobras também informou em Londres que toda a agenda de entrega das replicantes foi adiada em uma ano. Assim, o que estava previsto para 2015 "escorregou" para 2016, o que era previsto para 2016 "escorregou" para 2017 e assim por diante. Ao divulgar as linhas mestras do plano estratégico 2012-2016, que será detalhado apenas na próxima segunda, dia 25, a estatal reduziu em quase 600 mil barris/dia sua meta de produção. No plano anterior se previa 3,070 milhões de barris de óleo e LGN por dia em 2015 e agora a meta de 2016 é de 2,5 milhões de barris diários.

Essa redução na produção e manutenção do orçamento bilionária piorou o humor do mercado. E levou Graça Foster a admitir, na sexta-feira, pela primeira vez desde que assumiu o cargo quatro meses atrás, a necessidade de um reajuste no preço da gasolina e diesel. "É necessário, sim, um reajuste de combustíveis", disse Graça.
"Este ano nós tivemos uma suave queda do brent com uma relevante subida do dólar aos patamares de R$ 2,00 em uma depreciação do real. Nós continuamos com uma defasagem de preço", frisou. Segundo a executiva, a atual defasagem "continua muito próxima" à que existia quando a cotação do brent estava em torno de US$ 125 por barril e o dólar estava valendo entre R$ 1,65 e R$ 1,70.

Analistas ouvidos pelo Valor na semana passada esperam que o reajuste saia ainda esta semana, antes da presidente da Petrobras iniciar um "road show" internacional para apresentação do plano no dia 26 de junho. A avaliação unânime de analistas de grandes bancos de investimento sobre o plano de negócios converge para a necessidade urgente um aumento dos preços dos combustíveis para a nova gestão da companhia recuperar a confiança dos investidores.

Gustavo Gattass, do BTG Pactual, afirma que, sem isso "a Petrobras está em uma colisão clara com seu balanço e é um investimento pouco atraente sob múltiplos pontos de vista". Em uma analogia com adaptações hollywoodianas, Gattass concede ao novo plano da Petrobras o sugestivo título: "Episódio IV, Uma Nova Esperança". A esperança se baseia na expectativas de mudanças com a nova presidência.

Na opinião de Gattass, sem um aumento de preços da ordem de 15%, "as avaliações da Petrobras não são atraentes e seu balanço está em grave risco". Isso mesmo se considerado a hipótese de investimento menor, de US$ 208,7 bilhões prevista no plano estratégico 2012-16, e não a totalidade do plano, que chega a US$ 236,5 bilhões se somados os projetos ainda em fase inicial que devem ser postergados. Gattass avalia que se o investimento for o maior, os ratings de crédito da companhia serão "desintegrados" em 2013.

Em relatório com o sugestivo título "Alguém tem que ceder", o Credit Suisse afirma que metas de produção decrescentes, com aumento no investimento e um real mais fraco não são uma boa combinação para a geração de caixa da Petrobras. "Uma mensagem forte da gestão (mostrando boas intenções) e um aumento dos preços dos combustíveis (mostrando ação) provavelmente seria necessária para mudar a percepção [dos investidores]", diz o relatório do banco.


Reajuste de combustível é novo desafio de Graça na Petrobras

Por Cláudia Schüffner e Rodrigo Polito - Valor 21/06
Do Rio

O reajuste no preço da gasolina e do diesel que o mercado já dá como certo será o segundo grande teste de Graça Foster na presidência da Petrobras. No primeiro teste, sobre o tamanho dos investimentos previstos para o período 2012-2016, a avaliação é de que ela perdeu a queda-de-braço com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que preside o conselho de administração da estatal e tem usado os preços defasados da companhia como instrumento de controle da inflação. A mensagem "errada", segundo essas avaliações, começou quando a estatal divulgou dois números para os investimentos.

O menor, de US$ 208,7 bilhões, baliza todas as premissas de fluxo de caixa e a necessidade de financiamento no período e terá 60% destinados à exploração e produção, que ganhou quatro novas gerências para garantir a "entrega" da produção de óleo e gás da companhia.

O maior, de US$ 236,5 bilhões, inclui um conjunto de projetos avaliados em quase US$ 28 bilhões que ainda não mostraram viabilidade econômica e dependem da disponibilidade de recursos da companhia para serem tocados sem alterar os limites de alavancagem. Estão garantidas apenas as refinarias de Pernambuco e a primeira fase do Comperj.

Entre os projetos que entram em "modo de espera" estão investimentos em exploração e produção da área internacional, além das refinarias do Maranhão (MA) e do Ceará (CE), previstas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Essas refinarias são consideradas necessárias mas só começarão a ser construídas quando houver disponibilidade financeira. O mercado gostaria que tivessem desaparecido.

O primeiro "ruído" na comunicação entre a Petrobras e o mercado por causa do volume de investimentos foi responsável pela queda de quase 3,9% das ações da companhia no dia da divulgação do plano. O preço se recuperou nos últimos dois dias com a expectativa de um reajuste que devolva saúde à empresa.

A companhia precisa de algo entre 15% e 20% nos preços da gasolina e diesel, combustíveis que respondem por 66% do Preço Médio de Realização (PMR), que é a soma do preço de comercialização de todos os produtos que ela refina e que estava R$ 176,72 por barril no último trimestre. Cada banco tem sua previsão de percentual de reajuste baseada na geração de caixa necessária para colocar de pé o plano de US$ 208,7 bilhões (ninguém trabalha com os US$ 236,5 bilhões), deduzidas captações anuais de US$ 16 bilhões a US$ 18 bilhões. A cotação do petróleo usada foi de US$ 90 por barril. "Se não tivermos esse valor embutido no preços dos nossos derivados, não haverá recursos para fazer os projetos em andamento", explicou ao Valor uma fonte.

Outra fonte ouvida pelo Valor explicou que a defasagem precisa ser corrigida agora e que o governo precisa mudar o atual regime de preços. O tamanho do reajuste necessário varia segundo cálculos do câmbio e a cotação do petróleo, que influenciam os preços dos combustíveis vendidos na costa do Golfo do México americano, no Texas.

Ontem, quando questionados sobre o percentual de reajuste que virá, tanto Graça Foster quanto o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que estavam no Riocentro na cerimônia de abertura protocolar da Rio+20, disseram que não iriam falar sobre o assunto. Graça chegou a responder a um repórter que a pergunta "mudou seu humor". O ministro repetiu apenas que o governo "está analisando um reajuste" e assegurou que qualquer aumento, se houver, "não sai nesta semana".
A questão que está ocupando a cabeça dos analista é qual tributo será alterado para que o reajuste não afete as metas de inflação. Há quem faça contas considerando que o governo vai "zerar" a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e outros que não descartam uma redução do Pis/Cofins.

Atualmente a gasolina entregue na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio, custa R$ 1,525 por litro. A Petrobras fica com R$ 1,173 e são acrescidos R$ 0,09 da Cide e R$ 0,2616 do Pis/Cofins. Já o preço "cheio" do diesel é de R$ 1,368 por litro, sendo R$ 1,173 para a Petrobras, R$ 0,047 da Cide e R$ 0,148 do Pis/Cofins. Se a Cide for levada a zero, permitindo um aumento equivalente na parte que a Petrobras recebe, há espaço para aumento perto de 8% na gasolina e de 4% no diesel. Existem avaliações de que isso não seria suficiente. Um analista ouvido pelo Valor observa que se o governo permitir um aumento de 10% na gasolina - assumindo zerar a Cide e ainda permitindo um pouco mais de transferência para o preço para o consumidor - o impacto na bomba é de 1,5%.
"A Petrobras é a empresa mais relevante da BM&F Bovespa. E se o governo não mostrar que se importa com a maior empresa do país, seria melhor fechar o capital [da Petrobras]", desabafou o executivo de um grande banco, que não quer ser identificado.

O preço da gasolina não tem reajuste para os consumidores desde setembro de 2005, quando houve um reajuste de 10% que foi integralmente repassado. Já o diesel foi reajustado para baixo (queda de 10,5%) em junho de 2009. Todas as alterações depois disso foram "amortecidas" pela Cide, o que representou uma renúncia fiscal do governo em favor da Petrobras para que o preço não contaminasse a inflação.

Graça Foster e os diretores da Petrobras vão detalhar o novo plano de negócios na segunda-feira para jornalistas e analistas do mercado financeiro no Rio e em São Paulo. No mesmo dia, os executivos viajam para um "road show" que passará por Nova York, Boston e Londres.


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