quarta-feira, 6 de junho de 2012

BC acaba com sequência de alta do dólar



Por Eduardo Campos e João José Oliveira - Valor 06/06
De São Paulo

Depois de um hiato de seis dias, o Banco Central (BC) voltou ao mercado de câmbio e tirou os comprados do jogo.

A oferta de "swap" cambial (que equivale à venda de dólares no mercado futuro) aconteceu cedo ontem, por volta das 9h30, e acabou com a tentativa de alta do dólar pelo sexto dia seguido.

No fim do pregão, a moeda americana apontava queda de 1,71%, a R$ 2,017, mínima do dia.

O dólar comercial vinha de cinco pregões seguidos de alta, que resultaram em valorização de 3,48%, e preços não vistos desde maio de 2009.
Foram ofertados até 40 mil contratos (US$ 2 bilhões) para julho e agosto. A operação movimentou 20,3 mil contratos ou US$ 1,013 bilhão. Com isso, já são sete ofertas de swap no ano, que movimentaram cerca de US$ 6,4 bilhões. O último leilão tinha acontecido em 25 de maio.

O economista da BGC Liquidez, Alfredo Barbutti, avaliou o comportamento do dólar nos últimos pregões e aponta que na semana passada, entre a segunda-feira (dia 28) e quarta-feira (30) a variação da moeda americana acompanhava o sinal externo.

Mas entre quinta (31) e segunda (4), o mercado começou a apresentar um comportamento pouco usual. O dólar futuro acentuava a alta no fim do dia, coincidentemente (ou não) após às 16 horas, quando a chance de atuação do BC é menor.

Segundo Barbutti, com a oferta de swap e a queda de preço, é como se o dólar tivesse devolvendo esse movimento mais especulativo registrado nos últimos dias.

De acordo com o economista, há uma disfuncionalidade no mercado de câmbio local, reflexo do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% sobre a ampliação de posição vendida no mercado futuro.

Como vender dólar tem custo na saída, são poucos que se aventuram nessa ponta do mercado. Com isso, sobra ao BC o papel de "vendedor de última instância".

Para Barbutti, o governo deveria rever a cobrança de IOF mesmo que seja de forma experimental, para descobrir se o mercado ganharia um equilíbrio melhor sem essa limitação ao vendido.

"Há uma disfuncionalidade nesse mercado e ela existe porque o IOF inibe o vendedor", conclui.

Hoje as atenções se voltam para os dados sobre fluxo cambial e a posição dos bancos no mercado à vista. Caso os bancos mostrem diminuta posição comprada, ou mesmo reversão para estoque vendido, cresce a chance de o BC passar a ofertar dólares também no mercado à vista de câmbio.

No mercado de juros, as taxas futuras tiveram queda, mas no leilão feito pelo Tesouro Nacional para Letras do Tesouro Nacional (LTN) e Notas do Tesouro Nacional, série F (NTN-F), os rendimentos pedidos superaram os prêmios das ofertas anteriores.

"O mercado de juros aqui vai fechar na quinta-feira, véspera de discurso de [Ben] Bernanke [presidente do Federal Reserve, o Fed - banco central americano] e só reabre na sexta-feira, depois que o Banco Central daqui já tiver soltado a ata do Copom. É preciso muito sangue frio para carregar posições mais agressivas, ainda mais depois de as taxas terem aberto tanto", disse o gerente de mesa de uma instituição financeira.

Essa cautela com o futuro continua refletida em taxas mais altas no longo prazo. A diferença entre o contrato que vence em janeiro de 2014 e o com prazo em janeiro de 2017 fechou a sessão de terça-feira em 1,74 ponto percentual - meio ponto acima do registrado na quarta passada, quando o Copom reduziu a taxa Selic para 8,5% ao ano.

Os agentes de mercado tentaram replicar nos negócios com títulos públicos esse cenário de juros elevados, com curva inclinada, mas o Tesouro Nacional segurou a onda, deixando de vender parte dos papéis ofertados.

No leilão de LTN, o Tesouro colocou à venda pouco mais da metade dos 5,5 milhões de títulos oferecidos no leilão anterior. E mesmo assim, as LTNs mais curtas, de quatro meses, saíram com taxas menores que as cobradas no leilão anterior. Já os papéis mais longos tiveram taxas mais salgadas.

No caso da LTN com vencimento de 1º de junho deste ano, a taxa máxima foi de 8,1090%, abaixo dos 8,1287% registrados no dia 24 de maio. Mas na LTN de 25 meses, a taxa máxima subiu de 8,6189% no dia 31 de maio para 8,7699%. Na LTN de 43 meses, a taxa máxima bateu em 9,7379% (9,5030% no leilão anterior).
Os investidores pedem mais prêmio para financiar o governo por causa das incertezas envolvendo as políticas monetária e fiscal.

O mesmo movimento ocorreu na oferta de NTN-F. Os papéis de 51 meses cobraram 10,1656% (9,8290% no leilão anterior, em 17 de maio) e os títulos de 77 meses demandaram 10,80% (contra 10,39% na oferta anterior).

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