terça-feira, 26 de junho de 2012

Inadimplencia estoura II



Agencia Estado 26/06

BRASÍLIA - O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou nesta terça-feira que a inadimplência total está no maior patamar da série, iniciada em junho de 2000, em 6%. Na pessoa física, o 8% de maio é o maior nível de atraso desde maio de 2009, quando estava em 8,5%.

Ele disse ainda que a inadimplência se mantém em um patamar elevado, influenciado pelo crédito para pessoa física, particularmente no segmento de veículos, cujos atrasos refletem a expansão desse crédito no segundo semestre de 2010.

"Tivemos naquele período uma expansão bastante pronunciada e que ainda repercute na carteira de crédito", afirmou Maciel em relação ao crédito para veículos.

Ele disse, no entanto que as "safras" desse crédito concedido em 2011 mostram qualidade melhor. "Os atrasos cresceram até julho de 2011 e, desde então, tem mostrado retração."

Maciel disse ainda que as novas medidas de estímulo ao crédito de veículos não representam perda de qualidade da carteira, pois houve "um processo de aprendizagem" ao longo desses dois anos.

"Os bancos se tornaram mais seletivos. Espera-se crescimento, mas com garantia, qualidade e seletividade, de modo que não venha a se traduzir em aumento de inadimplência nos próximos meses."

Maciel afirmou também que o BC espera ver, já ao final deste ano, retração da inadimplência como um todo. "A expectativa é que haja acomodação e retração até o final do ano na pessoa física. Pessoa jurídica está mais estável. Pessoa física é que tem determinado o comportamento da taxa como um todo."

Histórico

O governo tem agido para estimular a oferta de empréstimos e financiamentos como mecanismo para levar à uma recuperação econômica mais forte no país ao mesmo tempo em que garante que a inadimplência irá recuar ainda neste ano.

Para estimular o crédito, no final de maio, por exemplo, o governo reduziu Imposto sobre Operações de Financiamento (IOF) para operações voltadas a pessoas físicas, mas antes disso já havia colocado os bancos públicos para liderar movimento de redução das taxas de juros ao consumidor final.

Os bancos estavam receosos com os sinais claros de aumento de inadimplência, com destaque para a aquisição de veículos.

Para o governo, manter o mercado de crédito aquecido é importante para estimular a economia, via demanda interna, neste momento de crise internacional. O próprio BC tem ajudado, ao reduzir em 4 pontos percentuais a Selic, para a mínima recorde atual de 8,50 por cento ao ano, e deve continuar o movimento de queda.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, tem dito que a redução da inadimplência vai ocorrer de maneira mais decisiva ao longo do segundo semestre, como resultado da maior qualidade de crédito oferecido a partir da segunda metade de 2011.

Além disso, Tombini prevê expansão do crédito ao longo dos próximos trimestres, em contexto de menores taxas de juros e spread bancário.



(Com informações da Reuters)



Endividamento crescente afeta 64% das famílias

Por Soraia Duarte
Para o Valor, de São Paulo

A cada cem famílias brasileiras, 64,2 estavam endividadas em maio, de acordo com a Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O número é maior do que o verificado no mesmo mês de 2011, quando 58,7% das famílias declararam ter dívidas. O principal tipo de dívida? O cartão de crédito, indicado, segundo a CNC, por 71,8% das famílias.

Além disso, a capacidade de pagamento vem diminuindo. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), elaborados com base em informações divulgadas pelo Banco Central, indicam que a taxa de inadimplência das pessoas físicas, em abril, atingiu 7,6%, mais que os 6,1% observados no mesmo mês de 2011. Esse crescimento também aconteceu em cartões de crédito. No mesmo período, registrou 8,5% e 8,3%, respectivamente.

O cartão de crédito ganhou mais peso no endividamento das pessoas porque também passou a ser mais utilizado. Carlos Almeida, da Serasa Experian, comenta que o cartão de crédito é o meio de pagamento em 34% das transações. O cheque, por sua vez, paga 15% delas. Há cinco anos, o quadro era o inverso. O cheque respondia por 38,3%, e o cartão, por 24%. "Parte dos usuários do cheque passou a ser usuário do cartão de crédito", comenta. "Se não tinha bom comportamento no cheque, passou a não ter no cartão também", diz.

Mas é o crédito rotativo, utilizado para refinanciar o valor das faturas, o vilão do endividamento no cartão. "As taxas cobradas no rotativo tornam a dívida impagável", afirma Hessia Costilla, economista da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), mencionado que a média dessas taxas é de 237,9% ao ano.

Dados da Abecs indicam que o cartão de crédito responde por 18% da carteira total de crédito a pessoas físicas, que em abril totalizou R$ 673,3 bilhões. Com isso, dos R$ 121,5 bilhões financiados pelo cartão, 69% foram utilizados em pagamentos de uma única parcela. Os 31% restantes representam o volume destinado a financiamento pelo cartão, incluindo o parcelamento sem juros e o rotativo. Sobre essa fatia, que soma R$ 37,7 bilhões, 60% não estão expostos a juros. Sobre os outros 40% - R$ 15,1 bilhões - recai o rotativo.

Eduardo Abreu, diretor da Abecs, comenta que a associação vem incentivando os bancos a desestimular o uso do rotativo. Isso, segundo ele, seria alcançado por meio de iniciativas de educação. "É preciso ensinar o cliente a usar o cartão", destaca.

O foco das iniciativas, recomenda Abreu, deveria ser o de tirar o cliente do rotativo, ou não permitir que ele assuma tais encargos. Uma das formas, de acordo com Raul Moreira, diretor da área de cartões do Banco do Brasil, seria oferecer linhas de crédito com taxas de juros mais baixas, algo que o banco já vem praticando. E já há resultados nesse sentido. Moreira comenta que, ao comparar o primeiro trimestre deste ano ao mesmo período de 2011, o volume de crédito rotativo apresentou queda de 7%. O faturamento em cartões, por sua vez, teve uma expansão de 24% no mesmo período. "O uso do cartão foi intensificado, mas o endividamento vem caindo".

Outro ponto importante, diz Moreira, é reforçar o cartão como meio de pagamento, e não como um instrumento de crédito.

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