terça-feira, 20 de novembro de 2012

Dólar ignora melhora externa e sustenta R$ 2,08



Valor 20/11

A trégua observada no cenário externo ontem foi incapaz de ofuscar no mercado doméstico as saídas de recursos, reforçando o debate sobre o patamar de câmbio com que o governo está disposto a trabalhar - se acima ou abaixo de R$ 2,10.

Depois de atravessar boa parte da segunda-feira em baixa ante o real, seguindo a tendência externa de apreciação das divisas de países exportadores, o dólar por aqui recuperou o fôlego para fechar estável, a R$ 2,082 - repetindo a maior cotação desde maio de 2009.

Já no mercado futuro, o contrato de dólar para dezembro cedeu 0,16%, para R$ 2,085.

Segundo operadores, o impacto das saídas de recursos ontem foi potencializado pelo menor volume de negócios, entre uma sessão espremida pelo feriado prolongado na semana passada e por outra parada, hoje, em São Paulo. Os profissionais de corretoras disseram que um sinal do fluxo negativo foi a alta do cupom cambial [taxa de juros em dólar] para janeiro de 2013.

O mercado segue debatendo se de fato houve uma mudança no patamar da banda cambial. Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor de política monetária do Banco Central e atual economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), partilha da visão de que o BC não só toleraria o dólar acima de R$ 2,10 como, no caso de uma piora acentuada nos mercados, conseguiria apenas minimizar um viés de apreciação da moeda americana.

"Só acho que ele vai intervir se o dólar disparar, se ultrapassar em muito a resistência de R$ 2,10, o que, se acontecer, deverá ser por uma deterioração no exterior", avalia Freitas. Para ele, o BC está numa "encruzilhada", uma vez que qualquer intervenção pode levar a moeda a testar os extremos da banda.

Já o estrategista da Votorantim Corretora, Rafael Espinoso, diz que ainda não consegue enxergar evidências claras de que o dólar tende a se sustentar nesse nível. Para ele, a combinação do fim do impasse relacionado ao programa fiscal americano com a retomada mais firme da atividade doméstica no próximo ano darão suporte às estimativas de dólar perto de R$ 2,00.

No mercado de juros, as taxas negociadas na BM&F cederam pela segunda sessão, influenciadas por dois fatores: revisões para baixo nas projeções feitas pelos agentes econômicos para indicadores de inflação e de atividade, conforme apurou o Boletim Focus do Banco Central; e a deflação registrada pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas, na segunda prévia de novembro.

Mudou a banda cambial ou foi a liquidez?

É cedo e arriscado contar com uma mudança na banda de flutuação da taxa de câmbio no Brasil, hoje praticamente fixa entre R$ 2 e R$ 2,10. Após uma sequência de altas, na sexta-feira passada, o dólar subiu a R$ 2,08 - preço mais alto em três anos e meio - e alimentou a expectativa de que o Banco Central (BC) já estaria promovendo um deslocamento dessa banda para um patamar mais elevado. Será? A pressão claramente identificada não seria consequência de uma prudente antecipação de operações às vésperas de feriados?

O movimento do mercado financeiro em geral, e do câmbio em particular, vem sendo comprometido desde meados da semana passada diante da aproximação dos feriados. Na quinta-feira, os negócios foram suspensos por um feriado nacional. Hoje, a liquidez tende a sofrer uma queda brutal com a interrupção das operações em São Paulo, graças ao recesso do Dia da Consciência Negra.

E não para por aí. Na quinta-feira, portanto logo após a retomada dos negócios domésticos, as operações estarão sujeitas a nova baixa. Desta vez, com a paralisação dos mercados nos Estados Unidos pelo Dia de Ação de Graças.

O mercado de câmbio vê o dólar orbitando os R$ 2,08 e aguarda um sinal do BC, sancionando uma elevação da banda de flutuação que pode não se confirmar. Ontem, a pesquisa Focus trouxe projeções medianas para taxas de câmbio ao fim de 2012 e 2013 em, respectivamente, R$ 2,03 e R$ 2,02, sem surpresas.

Mas a elite das instituições participantes da sondagem do BC, agrupadas no ranking Top 5 de curto e médio prazo, já vinha sinalizando uma alta discreta da taxa de câmbio. As Top 5 com maior número de acertos em projeções de curto prazo esperam dólar a R$ 2,06 em dezembro de 2012 e R$ 2,08 em dezembro de 2013.

O grupo Top 5 com mais acertos no médio prazo também sinaliza dólar a R$ 2,06 para o fim deste ano. E, há três meses, conta com R$ 2,10 em dezembro de 2013. Ontem, a moeda fechou estável a R$ 2,082.

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