sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Depois de cair 2,65%, indústria cresce 0,3%



Por Arícia Martins e Diogo Martins - Valor 06/12
De São Paulo e do Rio

A taxa de câmbio um pouco mais depreciada, a ligeira redução de estoques em alguns setores e a baixa base de comparação propiciaram uma recuperação modesta da indústria brasileira em novembro, mês no qual a produção cresceu 0,3% ante outubro, feitos os ajustes sazonais. Economistas consultados pelo Valor consideram o resultado fraco, verificado após três meses seguidos de queda da produção industrial (quando o setor acumulou retração de 2,62%). Mesmo assim, acreditam que o pior momento para o setor tenha ficado para trás - mais precisamente em outubro, quando a produção caiu 0,7% frente ao mês anterior, na série livre de influências sazonais.

Os analistas se dividem sobre a intensidade da retomada da indústria, mas a expectativa geral é que, daqui em diante, o setor se recupere gradualmente, na esteira da reversão das medidas macroprudenciais, do afrouxamento monetário e das medidas tomadas pelo governo para incentivar a produção, que ainda podem ser incrementadas. A recuperação gradual não significa, contudo, crescimento em todos os próximos meses. O primeiro trimestre, dizem, ainda será fraco.

Na passagem de outubro para novembro, 18 dos 27 setores analisados pela Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PIM-PF) tiveram aumento em sua produção. Por categorias de uso, apenas a atividade no segmento de bens de consumo duráveis encolheu no período, com recuo de 0,9%.

Outras bases de comparação, no entanto, mostram fraqueza: a produção caiu 2,5% frente a novembro de 2010, menor marca desde outubro de 2009, quando o recuo havia sido de 3,1%. Na média móvel trimestral, que compara o trimestre encerrado em novembro com os três meses encerrados em outubro, a retração é de 0,8%. "O número de novembro ainda indica uma indústria estagnada, com baixo crescimento", afirma o economista Thiago Carlos, da Link Investimentos.

Na avaliação do IBGE, o desempenho pouco melhor da indústria em novembro foi causado também por uma redução das importações, após o câmbio ter se estabilizado no patamar de R$ 1,90, assim como por deflação no preço de insumos ao produtor, que pode ter estimulado a produção em segmentos como metal e têxtil. "Houve um volume menor de importações, concentrado na aquisição de bens intermediários, como matérias-primas", afirmou André Macedo, gerente de análise e estatísticas derivadas do instituto.

Segundo cálculos dessazonalizados da LCA Consultores, o índice de difusão - proporção dos ramos de atividade que apresentaram resultados positivos no mês - subiu de 37% em outubro para 66,7% em novembro, acima da média histórica de 54,4% verificada no período de 1991 a 2010. "A aceleração mais espraiada entre os setores sugere que a indústria já está se recuperando, ainda que a passos bem curtos", afirma o economista Thovan Tucakov, para quem um ritmo mais forte de crescimento deve ser observado apenas após o primeiro trimestre de 2012. "Isso vai ser inevitável. A indústria vai continuar consumindo estoques nestes primeiros três meses", diz.

Tukacov revisou de 0,5% para 0,2% sua estimativa para a expansão da produção em 2011, após o salto de 10,5% em 2010. A alteração foi feita levando em conta dados já conhecidos do último mês do ano, como o consumo de energia, que caiu 0,97% sobre novembro, e os estoques acima do desejado, que continuam em nível elevado. A Sondagem Conjuntural da Indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra ligeira piora do nível de estoques entre novembro e dezembro, quando 10,2% das empresas consultadas informaram volume excessivos de mercadorias paradas, diante de 8,4% em novembro.

Segundo os outros analistas ouvidos, o crescimento da indústria em dezembro deve ser fraco como o de novembro, o que indica um avanço não maior do que 0,5% na comparação de 2011 com 2010.

Para o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, o momento de ajuste da indústria a uma realidade mais pessimista ainda não acabou, o que impede vislumbrar uma forte recuperação do setor, pelo menos para os próximos meses. "Está em marcha um processo de endividamento das famílias, o que deve inibir o poder de compra do consumidor brasileiro. Além disso, estão ocorrendo mudanças no cenário internacional, com o afundamento da Europa e a desaceleração da China", explica.

Assim, sustenta Silveira, o principal ponto que deve incomodar a indústria em 2012 será uma demanda mais fraca, tanto do lado interno como do externo, após um ano no qual as principais queixas vieram do câmbio valorizado, da taxa de juros elevada e do aperto ao crédito - todas em processo de reversão.

A economista Fernanda Consorte, do Santander, acredita que mais incentivos podem ser dados pelo governo ao longo do ano caso a produção não esboce uma retomada, ainda que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha negado em entrevistas recentes a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos, após essa medida ter sido tomada para a linha branca. "Ainda acredito que, se a indústria não começar a mostrar sinais mais agradáveis, a redução de IPI para veículos pode ser usada. O BNDES também estuda facilitar o financiamento ao exportador. Se isso se confirmar, vai ajudar a indústria."

Resultado reforça PIB inferior a 3%



O resultado da produção industrial de novembro reforçou as expectativas de economistas ouvidos pelo Valor de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá abaixo de 3% em 2011. O tímido avanço de 0,3% na comparação com outubro, segundo a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM/PF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era previsto e corrobora um ano fraco para a indústria, quadro que deve ser levado para o início de 2012.

"A base de comparação estava muito baixa. Era de se esperar uma retomada. A reversão das macroprudenciais e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados da linha branca ajudam a produção, principalmente em dezembro", diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, cuja projeção de PIB para 2011 permanece em avanço de 2,8%.

A expectativa para o PIB do ano passado da Quest Investimentos está em alta de 2,7%. Segundo o economista Fabio Ramos, a consultoria acertou o resultado do mês de novembro para a produção industrial, logo não precisou rever sua projeção. "Há outras variáveis, como o comportamento do varejo, que têm sido mais relevantes que a indústria para definir o PIB. Essa pequena alta em novembro não recupera as perdas sucessivas que a antecederam." Em agosto, a queda da PIM/PF foi de 0,2%. Em setembro e outubro, o seu recuo ficou em 2,0% e 0,6%, respectivamente. "O Brasil 'apanha' em questões domésticas. É preciso reduzir os impostos sobre o trabalho, lucro e produção, para que se possa produzir mais", completa Ramos.

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, acredita que a produção industrial em dezembro não trará surpresas, avançando 0,3% na comparação mensal, com os ajustes sazonais. O índice reforça sua previsão de crescimento de 2,8% do PIB em 2011 - que também não foi alterada.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) revisou 0,1 ponto percentual para baixo a sua previsão para o PIB em 2011, segundo o economista Julio Gomes de Almeida, e a expectativa caiu para 2,7%. Para Almeida, o resultado fraco da indústria faz sombra ao verdadeiro problema que pode decorrer desse cenário. "O empresário que for investir em 2012 não levará em conta um crescimento de 2,7% ou de 3% do PIB, mas sim o resultado mais recente. O dado da indústria mostra que estamos perto de repetir um PIB estagnado no 4º trimestre e, por isso, o investimento será repensado."

Alessandra, da Tendências, acredita que o salário mínimo dará fôlego extra ao consumo em 2012, influenciando a produção industrial. Na sua opinião, esse quadro só deve se concretizar a partir do 2º trimestre, após a indústria liberar os estoques, que tendem a limitar a produção no início do ano.

Segundo Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o crescimento do setor no começo do ano deverá ser "bem modesto". "O 1º trimestre de 2012 será mais difícil até que a redução de juros, o estímulo ao crédito e as medidas de incentivo ao consumo de duráveis tenham reflexo na economia", diz. A CNI também projeta um avanço de 2,8% do PIB para 2011, pouco menor que os 3% esperados para 2012. "Alguns segmentos ainda têm estoques muitos elevados e essas medidas vão ajustar o excedente, o que deve caracterizar a indústria no começo do ano. Na medida em que houver esse ajuste, a produção deve retomar a normalidade", avalia.

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