sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Chineses puxam preços do ouro



Por Rhiannon Hoyle e Yue Li
The Wall Street Journal, de Xangai

O ano do dragão está dando um novo ânimo ao preço do ouro.

Os chineses estão acumulando ouro como nunca em antecipação ao ano-novo lunar, que este ano cai no dia 23 de janeiro. É uma ocasião de trocar presentes durante jantares de família, com a geração mais velha dando dinheiro aos parentes mais jovens. E à medida que os chineses enriquecem, o ouro - na forma de jóias, moedas ou mesmo barras - está se tornando o presente preferido.

Em preparação para as festividades, a China importou um volume recorde de ouro em novembro, o último mês para o qual há dados disponíveis.

Carregamentos de Hong Kong para a China continental, usados pelos analistas como um indicador para o total das importações, somaram 102 toneladas, um aumento de 20% em relação a outubro e quase seis vezes mais do que em novembro de 2010.

Esses dados deixaram investidores mais confiantes de que o aumento de 6% nos preços, desde o início do ano, possa ser mais que uma curta recuperação da queda de 10% que a cotação do metal sofreu no final de 2011.

No mercado à vista, em que o ouro é negociado fisicamente, a cotação do metal subiu 0,8% na Bolsa de Ouro de Shangai, para 339,18 yuans por grama, ou US$ 1.670.95 a onça.

Os números de importação são "impressionantes", disse Anne-Laure Tremblay, analista de metais preciosos do banco BNP Paribas, acrescentando que a demanda chinesa parece estar sustentando os preços globais do ouro.

Isso é também o que o mercado à vista está indicando. Na semana passada, os preços de referência nos contratos à vista, que representam o ouro fisicamente trocando de mãos, estavam até US$ 21 a onça mais altos do que nos contratos similares em Londres.

Embora a diferença de preços possa ser bastante volátil, muitos analistas interpretam os preços consistentemente altos de Shangai como uma medida da forte demanda na China. O ouro em Shangai não é negociado abaixo do preço de Londres desde 30 de novembro, quando a diferença foi de US$ 22.

O consumo de jóias de ouro na China saltou 16% no ano passado para um recorde de 514 toneladas, de acordo com a consultoria de metais GFMS. Enquanto isso, a Índia, maior consumidora de ouro do mundo, viu a sua demanda por jóias diminuir.

Assim como em outras partes do mundo, os chineses estão cada vez mais reduzindo as diferenças entre demanda de ouro no varejo, geralmente vista como pessoas comprando jóias para usá-las, e demanda de investimento na forma de barras, moedas e participações em fundos de índices.

Ma Bowen, gerente de vendas de uma loja de ouro em Yu Garden, uma área comercial repleta de vendedores de ouro perto do parque homônimo, estima ter vendido de 20% a 30% mais ouro em 2011. Aludindo às preocupações com a inflação, ele disse estar observando uma incidência de jovens consumidores na multidão que lota as lojas de ouro, há poucos passos de um cenário extravagante de pavilhões, lagos e jardins decorados com rochas.

Muitos dos consumidores estão comprando barras de ouro para "pôr suas mãos em algo fisicamente valioso e que pode aumentar de valor no longo prazo", disse ele.

A inflação na China está em 4,1%, com o país se mantendo na sua trajetória de crescimento robusto. O produto interno bruto cresceu 8,9% no quarto trimestre em relação ao mesmo período de 2010.

O yuan, contudo, também se fortaleceu em relação ao dólar no ano passado, o que tornou o ouro mais acessível aos compradores chineses.

Grace Zhang, que tem 29 anos e é gerente numa companhia farmacêutica, disse que não se arrepende de ter comprado barras de ouro quando os preços estavam disparando no ano passado, mesmo que o investimento agora esteja no vermelho.

"O ouro é um investimento relativamente fácil para mim, pois não é tão complicado quanto outras classes de ativos, como ações e títulos de dívida", disse Zhang. "Desde que eu saiba para onde os preços do ouro estão caminhando, eu terei uma ideia se o meu investimento está bom ou ruim."

Alguns dizem que o entusiasmo da China pode enfraquecer, e que outros fatores podem influir nos preços do ouro.

Andrey Kryuchenkov, analista de commodities do banco de investimento VTB Capital, disse que está "relutante"em rotular os volumes de importação maiores como simples fenômeno sazonal.



A reviravolta no preço do ouro "não se justificaria sem um apoio fundamental, e cada ano que passa a China torna-se mais importante nesse cenário", disse Kryuchenkov.

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