quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

China desacelera e já abre debate sobre taxa de crescimento menor



Por Jamil Anderlini
Financial Times, de Pequim

Pelos padrões de quase qualquer economia, a alta para 8,9% na taxa de crescimento anual chinesa no quarto trimestre do ano passado seria um sucesso. No entanto, o ânimo em Pequim ontem era sombrio quando o governo anunciou seu menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 10 trimestres.

A China iniciou 2011 com uma taxa de crescimento de 9,7% no primeiro trimestre e um governo focado na luta contra a inflação, mas terminou com um crescimento de 9,2% do PIB para o ano inteiro, a mesma taxa registrada em 2009, ano mais afetado pela crise financeira, sendo esse o menor nível desde 2002.

À primeira vista, a desaceleração - para 9,5% no segundo trimestre, 9,1% no terceiro e agora 8,9% no quarto - era exatamente a meta de Pequim para o ano passado, especialmente porque a inflação anualizada atingiu um pico de 6,5% em julho, caindo para 4,1% no fim de dezembro.

No entanto, na coletiva de imprensa para divulgar os números, o Birô Nacional de Estatísticas expressou o temor de que as coisas vão, provavelmente, piorar. "Em termos da situação nacional e internacional, 2012 será um ano de complexidade e desafios, de modo que devemos estar totalmente preparados", disse o porta-voz Ma Jiantang, num discurso povoado de termos como "sombrio", "complicado" e "severo".

A maioria dos analistas, sejam otimistas ou pessimistas sobre as perspectivas de longo prazo para a China, espera que o crescimento volte a cair nos próximos meses, para bem abaixo de uma taxa anualizada de 8%, no primeiro trimestre. Alguns estão até prevendo para o ano inteiro, um crescimento baixo, de até 7,5%, em 2012.

No entanto, há quase uma década o Partido Comunista formulou a política econômica na suposição de que 8% de crescimento do PIB é o mínimo necessário para evitar instabilidade social capaz de ameaçar o sistema unipartidário. Com a economia em desaceleração, o governo parece estar repensando essa fórmula, embora não a premissa básica.

Em comentários divulgados na semana passada, Yu Yongding, um economista acadêmico e consultor do governo, disse que o crescimento de 7% a 8% do PIB seria aceitável, mas abaixo de 7% seria um sinal de uma crise econômica, ou mesmo de crise política.

"As autoridades ainda estão claramente tentando navegar entre os perigos gêmeos de reestimular excessivamente a economia e fazer com que o atual desaquecimento se acentue perigosamente", disse Stephen Green, economista do Standard Chartered. "Muitas autoridades acreditam que a economia precisa ser desalavancada e que China precisa se acostumar a uma taxa de crescimento mais baixa."

Os sinais são de que o ritmo de desaceleração da China ainda está dentro da zona de conforto do governo, e a maioria dos economistas acredita que Pequim será capaz de engendrar um "pouso suave", a uma taxa menor de crescimento de longo prazo acima desse novo nível.

A desaceleração tem sido gradual e em grande parte resultado de medidas para conter o crédito e esfriar a alta inflacionária. No entanto, embora Pequim tenha sido capaz de montar, três anos atrás, um pacote de estímulo de 4 trilhões yuans destinado a contrabalançar os efeitos da crise econômica mundial, parece não estar em condições de repetir isso hoje.

"A probabilidade e provável eficácia de um grande estímulo é muito menor, agora que o governo ainda está enfrentando a ressaca da última rodada de estímulo", disse Huang Yiping, economista-chefe do Barclays Capital na China. Ele acredita que Pequim será capaz de conseguir um crescimento pouco acima de 8% em 2012, mas vê riscos para essa previsão.

"A China tem muitos governos locais pesadamente endividados e foi palco de uma extraordinária expansão do crédito, que contribuiu para a formação de grandes bolhas de ativos, especialmente no setor de habitação, nos últimos anos", afirmou ele.

Os maiores riscos para a economia originam-se dos dois setores que vem puxando o crescimento chinês nos últimos 10 anos - exportações e imóveis residenciais.

As exportações para os EUA e a Europa desaceleraram no quarto trimestre do ano passado e a expectativa é de que encolham bem mais, particularmente as detinadas à Europa. A correção no mercado imobiliário residencial parece estar em curso, depois de quase dois anos de políticas governamentais destinadas a frear a alta nos preços dos imóveis.

A área de espaço habitacional em construção caiu 25% em dezembro, ao passo que a área vendida caiu 8,4%, em comparação com o ano anterior, frente a um crescimento médio de 12,9% no terceiro trimestre de 2011.

Os investimentos imobiliários respondem diretamente por cerca de 13% do PIB, de modo que um colapso no setor teria repercussões não apenas na China, mas também em países exportadores de commodities que dependem do setor de construção civil chinês para seu próprio crescimento.

Os motores de crescimento chinês estão falhando e, por isso, o melhor que o governo pode esperar é uma desaceleração gradual e ordenada.


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