segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ruina europeia empurra o mundo para recessão


jbdela
07/08 Blog do Vicente
POR ANA D'ANGELO E ROSANA HESSEL, do Correio Braziliense

Em uma Europa ensolarada, com os termômetros sempre acima dos 30 graus, as principais autoridades da União Europeia não se intimidaram em curtir as férias de verão. Depois de entregarem mais um pacote de socorro de 85 bilhões de euros à quebrada Grécia, em 22 de julho, a sensação do dever cumprido ficou latente. Na sexta-feira passada, no entanto, tiveram que voltar às pressas do descanso para tratar de novos enfermos que foram direto para a UTI. Com a Itália e a Espanha, a terceira e a quarta maiores economias da Zona do Euro, à beira do abismo, viu-se que o tratamento havia ficado pela metade. Enlouquecidos, os investidores foram tomados pelo pânico. E, com os Estados Unidos no atoleiro, voltaram a bradar sobre o risco de uma nova recessão global.

A tormenta foi tamanha que as bolsas de valores de todo o mundo ruíram e computaram na semana passada – em São Paulo, o Ibovespa caiu 10% e o valor de mercado das empresas encolheu US$ 195 bilhões –, as maiores perdas desde novembro de 2008, quando o mundo agonizava com a quebra do quarto maior banco de investimentos dos EUA, o Lehman Brothers. O estouro da bolha imobiliária norte-americana havia sido tão violento, que os rastros de prejuízos se espalharam por todo o planeta.

Passados três anos, acreditava-se que as principais economias do globo tinham recuperado as forças. Mas o que se vê é um quadro dramático, com os governos sem capacidade para dar novos estímulos à atividade e ao consumo e com os bancos centrais quase de mãos atadas para tocar políticas monetárias – os juros nos EUA, na Europa e no Japão, só para citar os três maiores polos de riqueza do mundo, estão nos menores níveis da história.

Espectadora privilegiada da pior crise enfrentada pela Europa desde a Segunda Guerra Mundial, a diretora de Renda Fixa, em Portugal, do Espírito Santo Investment Bank (BES), Sandra Utsumi, resume: "Enquanto as dificuldades ficaram restritas a países periféricos, como a Grécia, a Irlanda e mesmo Portugal, a inquietação dos mercados estava em um nível pouco acima do moderado. Mas quando a crise de credibilidade começa a afetar a Itália e a Espanha, a história se agiganta e muda de configuração".

Tsunami

O que sustenta o tsunami de desconfiança é a certeza dos investidores de que o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), criado para resgatar as combalidas economias grega, irlandesa e portuguesa não tem recursos suficientes para livrar a Itália e a Espanha do pior. Estima-se que o caixa do fundo tenha hoje 440 bilhões de euros para uma necessidade de pelo menos 800 bilhões de euros, caso os países comandados por Silvio Berlusconi e José Luis Zapatero peçam arrego.

Na sexta-feira à noite, quando as bolsas europeias contabilizavam a pior semana em três anos, o primeiro-ministro italiano reagiu e prometeu antecipar a adoção de duras medidas de um ajuste fiscal. A reação de Berlusconi foi motivada pelo ataque especulativo sofrido pela Itália e a Espanha no dia anterior, quando as taxas de juros pedidas pelos mercados para comprar títulos das dívidas dos dois países atingiram os maiores patamares da história. Como temem um calote, os investidores cobram o que os especialistas chamam de prêmio de risco. A dívida da Itália corresponde a 120% de seu Produto Interno Bruto (PIB). A da Espanha também é elevadíssima, com o agravante de o país ostentar as maiores taxas de desemprego da região.

"A situação na Europa realmente é muito séria", afirma a professora do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Margarida Gutierrez. Ela ressalta que as dificuldades europeias ganham uma dimensão sem precedentes porque, do outro lado do Atlântico, a maior locomotiva do planeta está em decadência, a ponto de perder o status de país mais seguro do mundo para o capital. O título foi tirado pela agência de classificação de risco Standard and Poor’s (S&P), que ainda ameaçou os EUA de um novo rebaixamento, devido ao seu elevado nível de endividamento e à luta política fratricida que divide os norte-americanos.

A leitura dos mercados é clara. De um lado, os investidores afirmam que se os EUA ficaram a um passo de dar o calote, o mesmo se pode esperar de qualquer país europeu. De outro, lembram que o presidente norte-americano, Barack Obama, vai se preocupar apenas em salvar a própria pele. Com a popularidade desabando e disputando a reeleição em 2012, ele terá olhos apenas para a economia doméstica, que enfrentará um corte de US$ 2,4 trilhões nos gastos públicos nos próximos 10 anos. Ou seja, os Estados Unidos não terão como estender as mãos à Europa e ao resto do mundo.

"Os mercados concluíram que as combalidas economias europeias não poderão contar com a ajuda norte-americana desta vez", diz o estrategista-chefe para a América Latina do banco alemão WestLB, Roberto Padovani. “Foi esse entendimento que provocou uma reavaliação profunda do cenário atual", emenda o diretor da Quest Investmentos, Paulo Pereira Miguel. O resultado foi uma fuga de ativos de risco, como ações e títulos de países muito endividados e com problemas para fazer ajuste fiscal. Nas contas dos investidores, a Espanha e a Itália engrossaram a lista que já tinha Grécia, Portugal e Irlanda.

Brasília, 14h33min

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