segunda-feira, 11 de junho de 2012

EUA compram menos petróleo no exterior



Por Alex Ribeiro  - Valor 11/06
De Washington

Os Estados Unidos estão reduzindo a sua histórica dependência de petróleo importado, graças ao aumento de sua produção doméstica, aos motores mais eficientes e ao uso de álcool combustível feito com milho. Mas a maior economia do mundo ainda não se tornou imune a eventuais choques de preços de petróleo e segue vulnerável a instabilidades em países produtores do Oriente Médio.

As importações representaram 43% do petróleo consumido pelos americanos no primeiro quadrimestre, bem abaixo do pico de 60% ocorrido em 2005. É a menor dependência de combustível estrangeiro em cerca de 15 anos. Em parte, os Estados Unidos estão comprando menos petróleo de outros países porque a sua economia cresce devagar, depois que foi afetada pela crise financeira internacional. Mas há outros fatores mais importantes. O país está produzindo mais petróleo em seu próprio território e o consumo de gasolina cresce com menos vigor, graças à regulação ambiental mais rígida, que estimula motores mais eficientes e o uso de combustíveis alternativos.

"Muita gente fala sobre autossuficiência, mas isso não significa tanto assim", afirma Gal Luft, diretor do Institute for Analisys of Global Security, um centro de estudos de Washington. Para ele, os Estados Unidos seriam afetados da mesma maneira que os demais países por um eventual choque de preços do produto. "O preço é definido internacionalmente. O Reino Unido, por exemplo, é autossuficiente, mas sofreu bastante com as altas de preços."

É uma questão em aberto se os Estados Unidos continuarão menos dependentes de petróleo importado quando a sua economia voltar a crescer dentro de seu potencial. Alguns especialistas acreditam que, se a cotação do produto continuar em pelo menos US$ 80 o barril, a produção doméstica irá aumentar em volume suficiente para atender ao consumo adicional. "Se os preços não voltarem para US$ 30 ou US$ 40 o barril, os Estados Unidos vão seguir menos dependentes do petróleo importado, a despeito de quão rápido a economia se recupere", afirma Larry Goldstein, diretor do Energy Policy Research Foundation, um outro centro de estudos de Washington.

Mas ficou para trás, dizem os especialistas, o mito difundido na década passada de que a produção mundial de petróleo estava chegando ao pico, a partir do qual iria sofrer um inevitável declínio. As cotações mais altas do petróleo e avanços tecnológicos tornaram possível explorar reservas já conhecidas, mas que não eram economicamente viáveis.

Uma tecnologia conhecida como fratura hidráulica, que é vista com reservas por entidades ambientalistas, transformou um Estado na fronteira com o Canadá, a Dakota do Norte, na quarta maior área produtora dos Estados Unidos. A região vive um boom do petróleo. "Algumas cidades da Dakota do Norte dobraram de população em menos de cinco anos", afirma Goldstein. "A câmara de comércio local está alertando para os turistas não irem para o Estado, a menos que tenham reservas de hotéis confirmadas."

Os Estados Unidos gastam 19 milhões de barris de petróleo por dia, o que faz do país o maior consumidor do mundo. A China fica em um distante segundo lugar, com um consumo de 8 milhões de barris diários. O Brasil consome menos de três milhões de barris por dia.

O volume de petróleo importado pelos americanos caiu cerca de um terço desde 2005, chegando ao patamar atual de 8 milhões de barris/dia. São produzidos cerca de seis milhões de barris de petróleo por dia nos Estados Unidos, e ganhos de eficiência nas refinarias permitem extrair o equivalente a outros cinco milhões de barris/dia. A produção de álcool combustível equivale a perto de um milhão de barris/dia.

A queda nas importações de petróleo não livra os Estados Unidos dos choques de preços, mas ajuda a reduzir o déficit externo. As estimativas são de que os Estados Unidos tiveram um ganho de US$ 200 bilhões anuais na balança comercial, o que contribui para fortalecer o dólar.
Além de importar menos, os Estados Unidos também diversificaram os seus fornecedores de petróleo, ficando um pouco menos vulneráveis à ruptura no fornecimento do produto. Hoje, mais da metade do petróleo importado pelos americanos vêm do próprio continente americano. O Canadá é o maior fornecedor, com 2,2 milhões de barris/dia. O México é o terceiro maior fornecedor, com 1,1 milhão de barris/dia, quase empatado com a Arábia Saudita. Colômbia e Brasil aumentaram suas exportações aos Estados Unidos nos ultimos anos, mas ainda estão longes de serem fornecedores importantes. Países do golfo Pérsico fornecem perto de 17% do petróleo adquirido pelos Estados Unidos no exterior.

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