segunda-feira, 21 de maio de 2012

Estranheza no BC


BC muda postura e oferta dólares via swap cambial


O pregão de sexta-feira marcou uma mudança na postura do Banco Central (BC) no mercado de câmbio. A autoridade monetária ofertou dólares, apenas 15 dias depois de fazer compra de moeda americana.

Por mais técnica que tenha sido a postura do BC, pois o dólar subia mais de 2,5% - estava descolado do sinal externo, e o cupom cambial (juro em dólar no mercado local) disparava -, a sinalização transmitida é de que R$ 2,0 seria um "teto" para o dólar.

Mesmo com o BC, o dólar subiu 0,65% na sexta, para R$ 2,019. Na semana, teve alta de 3,22%.

A ação também causa certa estranheza, pois em abril o BC tirou de circulação US$ 7,223 bilhões via compras no mercado à vista, contra um fluxo positivo de US$ 6,588 bilhões. Sendo que boa parte das compras em abril aconteceu quando o dólar já tinha adquirido viés de alta em função da piora de humor externo.

Fica aberto o espaço, também, para críticas à postura do governo brasileiro. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é o criador do termo "guerra cambial" e a presidente Dilma Rousseff do "tsunami monetário".

Como dizer que o Brasil luta contra essas mazelas impostas pelos bancos centrais desenvolvidos ofertando dólares? Até então, a "guerra cambial" e o "tsunami monetário" eram as justificativas para as medidas de restrição ao capital externo impostas pelo governo.

De fato, em entrevistas recentes, Mantega disse que dólar a R$ 2,0 não preocupava o governo, muito menos a presidente Dilma. O dólar alto é bom, pois dá competitividade à indústria, dizia o ministro. Parece que faltou combinar com os russos.

Na sexta-feira, o BC veio a mercado e vendeu dólares no mercado futuro via swap cambial, algo que não acontecia desde outubro do ano passado. Foram 13 mil contratos de swap ou US$ 654,3 milhões.

Uma fonte da área econômica reforça que a atuação do BC visa garantir o bom funcionamento do mercado. O BC não tem meta para taxa de câmbio e a essa venda de swap foi uma mera antecipação da rolagem de contratos que venceriam em 1º de junho.

Na avaliação do diretor da Pioneer Corretora, João Medeiros, foi exatamente isso que o BC fez. Ele deu saída aos investidores que estavam de posse de swaps reversos que venceriam na virada do mês.

Fica a expectativa, agora, se o BC fará ofertas líquidas de swap ou se vai antecipar mais vencimentos. Em 1º de julho, vencem outros US$ 2,5 bilhões em swaps reversos (instrumento de compra de dólar no mercado futuro).

Ainda de acordo com Medeiros, o BC não estaria preocupado com o preço, mas sim com a velocidade de valorização do dólar.

Para o economista-chefe da CM Capital Markets, Darwin Dib, a atuação do BC mostra que não quer dólar a R$ 2,0. As razões para isso são bem claras. Primeiro, é o impacto do dólar na inflação. Segundo, é que o câmbio depreciado afeta negativamente a absorção doméstica, ou seja, afeta o crescimento da economia.

Ainda de acordo com Dib, com essa atuação do BC, o mercado ganha um nova "banda" de oscilação, com piso em R$ 1,90 e teto em R$ 2,0. Claro que os pisos e tetos oscilam conforme o mercado.

O economista aponta, ainda, que o BC nunca teve tantos instrumentos à disposição para dar fim a qualquer disparada no preço do dólar ("overshooting").

Tem reservas internacionais, o swap e o leilão de linha. Fora isso, existem as medidas administrativas que podem ser retiradas com uma canetada.

São elas: o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% para renda fixa; o IOF de 6% para captações externas inferiores a 720 dias; a limitação à posição vendida dos bancos no mercado à vista de dólar; e o IOF de 1% sobre ampliação de posição vendida no mercado de derivativos - uma das mais potentes restrições, segundo Dib.

Nos juros, a cena externa ruim se aliou ao baixo crescimento doméstico. Alta de 3% do PIB vai exigir muita transpiração e, como o governo está comprometido com o crescimento, a resposta na BM&F é vender ainda mais contratos de juro futuro. A ideia de "parcimônia" perde força e crescem as apostas de corte de 0,75 ponto percentual na Selic no encontro do dia 30 do Copom.



Nenhum comentário:

Postar um comentário