terça-feira, 12 de julho de 2011

NOVAS RESTRIÇÕES TENTAM CONTER APRECIAÇÃO DO REAL

VALOR - 12/07/2011


O Banco Central (BC) voltou à carga em seu esforço para conter a apreciação do real. Foi esse o alvo final da medida anunciada sexta-feira para inibir o aumento crescente das apostas na desvalorização do dólar, embora a justificativa oficial tenha sido evitar perdas para o sistema financeiro em caso de uma virada súbita na tendência de queda da moeda americana.
A valorização do real é inegavelmente resultado do sucesso da economia do Brasil, que, assim como outros mercados emergentes, saiu mais rápido da crise internacional, atraindo os investidores internacionais. As agências de rating reconheceram isso e melhoraram a classificação do país, o que trouxe mais dinheiro estrangeiro.
O excesso de fluxo de capital para os países emergentes foi um dos principais temas do discurso de Christine Lagarde ao assumir o posto de diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), na semana passada. Christine disse que está havendo um desequilíbrio global, em que as economias avançadas, sob o peso de gigantesca dívida pública, não conseguem voltar a crescer, enquanto os emergentes já enfrentam superaquecimento e inflação em alta.
O Brasil e outros mercados emergentes recorreram à elevação dos juros para segurar a inflação e esfriar a economia, o que acabou trazendo mais dólares, uma vez que as economias avançadas estão com os juros perto de zero para tentar animar os negócios.
Contribui também para a valorização do real a crescente receita em dólares obtida pelas exportações de commodities, cujos preços estão em alta e contribuem com cerca de 70% das vendas externas neste ano.
Desde outubro de 2010, o Banco Central já anunciou mais de uma dezena de providências para suavizar a alta do real e dar alguma sustentação ao dólar, sem muito sucesso.
O dólar fechou o primeiro semestre com uma queda de 6,24% frente ao real e começou julho com a menor cotação desde janeiro de 1999, quando o Brasil abandonou a política de câmbio fixo.
As medidas tomadas procuraram inibir o investimento estrangeiro especulativo em operações de renda fixa, que entra no país como aplicações ou empréstimos de curto prazo. A primeira providência foi tomada em outubro de 2010, quando o IOF sobre investimento estrangeiro em renda fixa foi elevado para 4% e, pouco depois, para 6%. Em março deste ano, foi aplicado um IOF de 6% sobre os empréstimos de um ano e, pouco depois, estendido a operações de até dois anos.
Apesar de o Brasil ter fechado o primeiro semestre com captação externa recorde de US$ 30,6 bilhões, entre empréstimos e bônus, segundo levantamento feito pelo Valor , os resultados das restrições já podem ser sentidos. Os primeiros sinais apareceram no segundo trimestre, culminando em junho, quando o saldo no câmbio foi negativo pela primeira vez no ano. No câmbio financeiro, as saídas superaram as entradas em US$ 3,934 bilhões; e no comercial, em US$ 1,378 bilhão. Como resultado, o saldo ficou negativo em US$ 2,556 bilhões.
O sinal amarelo passou para o vermelho quando, apesar de ter saído mais dólares do que entrado, a moeda americana mergulhou para a menor cotação em 12 anos.
A contradição disparou as ameaças de sempre do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que disse ainda ter mais armas para a guerra cambial.
As ameaças se traduziram, de fato, em novas restrições no mercado de câmbio, desta vez dirigidas para as operações vendidas dos bancos. No início do ano, o BC já havia limitado as apostas dos bancos na queda do dólar a US$ 3 bilhões ou o valor do patrimônio, o que fosse menor. Agora, o limite caiu para US$ 1 bilhão ou o valor do patrimônio. Sobre o que exceder esse montante recai um compulsório de 60%. Além disso, o BC pretendeu esvaziar a especulação também no mercado futuro, voltando a vender swaps reversos, operação que equivale à compra futura de dólares, na primeira operação do ano sem a finalidade de rolar posições antigas.
Como o dólar vem perdendo valor, o BC já perdeu R$ 1,73 bilhão com essas operações neste ano.
É difícil saber se as novas medidas terão efeito significativo e duradouro. Quando a primeira restrição às posições vendidas foi implantada, em março, elas foram reduzidas. Mas voltaram a subir depois, fechando junho em US$ 14,69 bilhões. Agora o BC quer que o mercado volte para os US$ 10 bilhões, patamar que considera adequado.
E o governo acabou emitindo sinais contraditórios ao mercado porque, pouco antes de o Banco Central anunciar as medidas restritivas, o Tesouro lançou papéis no exterior, captando US$ 500 milhões.

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