segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mercado começa a fazer as contas de uma desaceleração da China

Dexter Roberts | Bloomberg Businessweek
18/07/2011

A agência de classificação de crédito Moody's Investors Service diz que a China subestimou em meio trilhão de dólares a exposição das carteiras de empréstimos de bancos estatais a governos locais. Apesar de cinco elevações dos juros desde outubro passado, a inflação agora está em 6,4%, a mais rápida desde 2008. No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 9,5%, seu ritmo mais lento em quase dois anos.

Ninguém está afirmando que a economia da China vai esfriar. Em abril, uma pesquisa da agência de notícias Bloomberg junto a economistas estimou que a economia crescerá mais de 9% neste ano. O governo está repleto de dinheiro e pronto a dar apoio aos principais bancos e empresas, caso as coisas começarem a escapar ao controle.

Mas investidores pessimistas como James Chanos, da Kynikos Associates, questiona se a China poderá domar a inflação e impedir o excesso de investimentos em projetos imobiliários e em fábricas sem provocar um pouso forçado.

"Muita gente no mercado está agora fazendo essas perguntas que antes não estavam colocando", diz Patrick Chovanec, professor de negócios da Universidade de Tsinghua. "Antes, o caso chinês era tão vigoroso que superava todas as dúvidas. Agora, há uma grande mudança de percepção".

Se ocorrer um crash ou uma desaceleração - o que a maioria dos analistas define como um crescimento abaixo de 7% - isso será resultado de inflação ou de uma reversão no mercado imobiliário. O Partido Comunista Chinês está relutante em permitir que a inflação fique alta, diz Chovanec.

Na década de 1940, a hiperinflação converteu os cidadãos chineses comuns em comunistas. Uma inflação de aproximadamente 20% foi uma das razões pelas quais manifestantes tomaram a Praça da Paz Celestial em 1989.

Caso a inflação ultrapasse 10% por muito tempo, "eles vão tirar um Volcker do chapéu", diz Chovanec. Paul Volcker, o ex-presidente do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), derrotou a alta inflação nos EUA com taxas juros tão altas que mergulhou o país em grave recessão.

No setor imobiliário, a festa durou tempo demais. Como assinala Nicholas Lardy, do Instituto Peterson de Economia Internacional, a inflação na China está "comendo" o rendimento dos depósitos em poupança, hoje de 3,5%. Isso levou muitos chineses a aplicar parte de sua poupança em apartamentos. Atualmente, 9% do produto da economia vem de investimentos em habitação residencial. O número era 3,4% em 2003. Com o boom de construção já bem avançado, a oferta está, finalmente, superando a demanda.

Se os preços dos apartamentos caírem muito, os chineses comuns correrão o risco de perder suas poupanças e os governos locais não serão capazes de pagar os empréstimos que levantaram para investir em projetos residenciais e comerciais. Em alguns casos, os governos locais também dependem da venda de terrenos para obter mais de 60% de suas receitas, diz Joseph Cheng, cientista político na City University, em Hong Kong.

Em caso de estouro de uma bolha no mercado imobiliário, poucos estarão comprando terrenos. Uma reversão no mercado imobiliário derrubaria os fabricantes locais de aço, cimento e de equipamentos para residências.

Victor Shih, cientista político da Northwestern University que estuda o problema da dívida local, diz que os bancos estão reagindo aos fracos retornos sobre seus investimentos em todo o seu leque de atividades - de imóveis a linhas de metrô. "O foco dos bancos, agora, é usar os crédito existentes para garantir que haja não calote dos empréstimos", diz Shih. "Isso torna o crédito para novos projetos mais difíceis, razão pela qual estamos vendo uma desaceleração."

A Moody's estima que entre 8% e 12% da carteira total de empréstimos na China podem não estar sendo honradas. O número oficial é 1,2%. Neste ano, a Fitch Ratings alertou que a inadimplência dos tomadores de empréstimos poderá subir para até 30%. Especialmente vulneráveis são as pequenas empresas. Elas respondem por 80% do emprego, segundo o Ministério da Indústria e de Tecnologia da Informação, mas têm dificuldades para obter crédito. "Eles não têm liquidez suficiente para todos", diz Tao Dong, economista-chefe regional do Credit Suisse, em Hong Kong.

A China consome quase metade da produção mundial de minério de ferro, carvão e aço, e 40% de seu cobre. O impacto de uma desaceleração no Chile, produtor de cobre que envia 23% de suas exportações para a China, seria considerável. A Samsung, que em 2010 obteve 20% de sua receita na China, venderia muito menos televisores e telefones celulares. Multinacionais que fabricam equipamentos de infraestrutura sentiriam os efeitos. O mesmo aconteceria com a Toyota, General Motors e Volkswagen.

A Fitch, que em junho publicou um estudo sobre o que um lento crescimento chinês causaria ao mundo, diz que os principais parceiros comerciais da China na região Ásia-Pacífico seriam os mais afetados. Se a China crescer apenas 4% em 2012, diz o relatório da Fitch, uma queda acentuada nas exportações de commodities para a China prejudicaria o dólar australiano, provocando uma alta dos juros que, por fim, prejudicaria o superaquecido mercado imobiliário.

Se o governo chinês tiver de recapitalizar seus bancos e fomentar obras públicas, diz Tony Stringer, diretor da Fitch, a tensão no Orçamento poderia obrigar os chineses a comprar muito menos títulos do Tesouro dos EUA. Os americanos teriam de oferecer juros mais altas por seus títulos para atrair outros compradores, o que elevaria o custo do serviço da dívida. Os EUA, porém, se beneficiariam da queda nos preços das commodities, especialmente do petróleo, com uma diminuição do apetite chinês.

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