segunda-feira, 4 de julho de 2011

Industria brasileira em alerta vermelho



Dolar deve continuar baixando.

"O que explica essa avalanche de recursos externos trazidos por empresas e bancos brasileiros é o diferencial da taxa de juros local e externo, que cresceu ainda mais com a alta de 1,5 ponto percentual da taxa Selic este ano"

Valor - 04/07/2011

Com um olho na crise fiscal da Europa e outro nos juros persistentemente baixos no exterior, as empresas brasileiras encontraram espaço para captar recursos no exterior em volumes recordes no primeiro semestre deste ano. E, com isso, inundaram ainda mais o mercado local com dólares, cumprindo papel decisivo para jogar para baixo a cotação da moeda americana, que chegou ao menor nível em 12 anos.

Entre janeiro e junho, o total de operações de dívida no exterior (bônus e empréstimos) somou US$ 30,638 bilhões, o maior volume para o período da série histórica organizada pelo Valor. Essas captações representam um avanço de 2,9% em relação ao primeiro semestre de 2010. Mas quando se observa apenas as emissões de bônus - o principal instrumento de captação de recursos externos, responsável por US$ 26,1 bilhões das captações este ano -, o crescimento é ainda mais expressivo, de 50%.

O que explica essa avalanche de recursos externos trazidos por empresas e bancos brasileiros é o diferencial da taxa de juros local e externo, que cresceu ainda mais com a alta de 1,5 ponto percentual da taxa Selic este ano, num momento de juros estáveis nos países desenvolvidos. Ou seja, captar no exterior ficou comparativamente ainda mais barato.

Do ponto de vista do investidor, o que se vê é apetite por ativos de risco, diante da falta de opções de aplicações que garantam rentabilidade atrativa. Os papéis brasileiros ganham espaço nesse contexto. Basta olhar para a evolução do CDS - contrato de seguro para eventual default dos emissores - do Brasil, que caiu 2,1% no ano. Na contramão, o CDS médio dos emergentes subiu 1,5% no período. Vale e Petrobras, dois dos maiores emissores brasileiros, tiveram seu risco reduzido em 7,9% e 6,8%, respectivamente.

Neste semestre, o total de bônus emitidos já equivale a 63% de todo o volume captado por meio desse instrumento em 2010 (US$ 41,3 bilhões). E poderia ter sido ainda maior, não fosse a paralisia dos mercados observada nas três semanas que antecederam o acordo em torno do pacote de austeridade da Grécia, aprovado na semana passada pelo parlamento do país. A preocupação com as consequências de um eventual default grego sobre o sistema financeiro global nublou o cenário e tirou dos agentes a capacidade de estabelecer preços justos nas operações.

Mas foi só a situação externa ganhar um contorno mais otimista e os emissores brasileiros voltaram ao mercado: na semana passada, foram anunciadas duas captações: a JBS USA, subsidiária americana do frigorífico brasileiro, concluiu a captação de US$ 850 milhões; e o estreante BTG Pactual captou US$ 500 milhões por meio de títulos com prazo de cinco anos.

Na esteira da reabertura desta "janela" do mercado, especialistas dizem que pelo menos duas outras operações já estão "no forno": Braskem e BR Malls. Também é aguardada para breve uma nova captação soberana, conforme afirmou na quinta-feira passada o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. O Tesouro ainda não fez nenhuma captação no mercado externo este ano e, segundo o secretário, o recente upgrade concedido pela Moody's deve tornar as condições ainda mais favoráveis para esse tipo de operação.

Para o diretor do Bradesco BBI, Renato Ejnisman, além dos volumes elevados, chamou a atenção neste primeiro semestre uma certa regularidade das captações ao longo dos meses. "Não foi um período cheio de altos e baixos", afirma, embora reconheça ter havido momentos de maior cautela diante da crise vivida pelos países periféricos europeus. "No passado, havia janelas para captação, mas este ano o que se viu foram movimentos mais constantes", disse.

É bom que se diga, entretanto, que alguma cautela nesse mercado existiu. E foi ela quem explicou, por exemplo, o fato de os prazos das operações ficarem concentradas em cinco anos, diferente do que se viu em outros períodos, quando emissões de dez anos foram maioria. Mas o custo das operações mostrou um desempenho favorável às empresas. A Braskem, por exemplo, emissora de primeira linha, pagou pelo bônus de dez anos, emitido em abril deste ano, uma taxa de retorno de 6%. Em junho de 2008, antes da crise do Lehman Brothers, a empresa lançou bônus pagando 7,375%.

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