quarta-feira, 18 de julho de 2012

Formas de limpar essa sujeira



Por Martin Wolf - Valor 18/07

O escândalo da taxa interbancária do mercado de Londres (Libor) foi o último prego no caixão da reputação dos bancos. Depois da imensa crise financeira e da longa lista de escândalos, os bancos agora são vistos como firmas aproveitadoras e incompetentes comandadas por parasitas. Essa indignação com o que Paul Tucker, vice-presidente do Banco da Inglaterra, autoridade monetária do Reino Unido, chamou de "esgoto" é bastante natural. Mas, só a indignação não é capaz de modelar reformas. Aqui estão minhas sete sugestões sobre a melhor forma de resposta.

Primeira, aceitem que haverá mau comportamento, particularmente quando há tanto dinheiro em jogo. É positivo que o público reaja com tanta veemência, uma vez que isso desencorajará a despreocupação administrativa. Mas sejamos realistas: os banqueiros estão nisso por dinheiro e, goste-se ou não, sempre será assim.

Segunda, há formas de reduzir o risco de repetição de escândalos do tipo: penas pesadas são uma delas, mais transparência, outra. Deveriam ser usados dados de transações reais. A transparência não é a panaceia para os males da atividade bancária. Mas ajudaria.

Terceira, os bancos precisam de muito mais patrimônio. Isso, também, é relevante no escândalo da Libor. As autoridades de regulamentação teriam ficado bem menos preocupadas com as taxas Libor relativamente altas em outubro de 2008 se as pessoas não acreditassem que os bancos estavam perigosamente perto do colapso. A resposta a esse medo é mais capital, como Robert Jenkins, membro da nova Comissão de Política Financeira do Banco da Inglaterra, argumentou..

Quarta, mais capital não pode significar 100% em patrimônio. Laurence Kotlikoff não está sugerindo o que chama de "propósito bancário limitado", mas o fim da atividade bancária. Reconheço que a alavancagem de 33 para 1, como agora proposto oficialmente, é assustadoramente alta. Mas não posso entender por que a resposta correta deveria ser acabar com a alavancagem.

Quinta, ao determinar essas exigências de capital, é essencial reconhecer que os chamados ativos "ponderados pelo risco" podem e vão ser extrapolados tanto por bancos como por autoridades de regulamentação. Como Per Kurowski, ex-diretor-executivo do Banco Mundial, sempre me recorda, as crises acontecem quando o que se pensava ser de baixo risco acaba se revelando ser de risco muito grande. Por esse motivo, a alavancagem não ponderada é importante. Precisa ser muito menor do que atual.

Sexta, as justificativas para adotar todas as recomendações da Comissão Independente sobre a Atividade Bancária (ICB, na sigla em inglês), da qual fui membro, são agora mais fortes. Continua vital que os bancos possam passar por um processo fácil de reestruturação, no caso de contratempos: a blindagem, com a separação parcial das operações de investimento em relação às atividades dos bancos de varejo, cuja continuidade dos serviços é essencial, deve facilitar isso. Também é vital assegurar que as subsidiárias e o grupo como um todo tenham volumes suficientes de capital para serem solventes sob quase todas as circunstâncias e tenham títulos conversíveis em capital suficientes para absorver prejuízos, de forma a poderem ser reestruturados com facilidade. Em resumo, os bancos precisam de uma grande margem de segurança, em todos os momentos.

A blindagem com a separação parcial da atividade bancária de varejo também reduziria sua contaminação pela cultura de corretagem de curto prazo da área de banco de investimento. Esse é um dos motivos pelos quais o governo deveria reconsiderar sua decisão de deixar os bancos de varejo oferecerem derivativos "simples". Mas não sejamos ingênuos a respeito disso: os bancos de varejo continuarão podendo ter comportamento inadequado e quebrar.

Na verdade, a questão que o Reino Unido agora precisa enfrentar é se existe um modelo bancário de varejo sólido, tendo em vista as atuais baixas taxas de juros. Eu argumentaria que a dolorosa história de escândalos nos bancos de varejo, incluindo o tratamento brutal aos saques a descoberto não autorizados e a venda enganosa de "seguros de crédito", reflete a ausência de formas saudáveis cobranças para arcar com os custos de se proporcionar serviços bancários.

Por fim, não vejo agora uma justificativa mais persuasiva para a separação total entre as atividades de banco de varejo e de banco de investimento do que antes do escândalo, desde que o financiamento do banco de investimento seja separado da base de depósitos do varejo. Os bancos de varejo também precisam manter um capital adequado. Não se esqueçam de que a atividade bancária de varejo também é arriscada. A blindagem proposta, com separação financeira parcial, traria o mesmo que uma separação completa, mas teria o benefício da diversificação dentro de um grupo de maior escala.

Com maiores exigências de capital e a perda de depósitos cativos e subsídios implícitos dos governos, o custo dos fundos para a área de banco de investimento aumentaria. Mas isso seria positivo. Se a remuneração dos executivos de banco de investimento também ficasse mais alinhada com os interesses dos credores sem garantia, muitas das formas mais irresponsáveis de assunção de risco desapareceriam com o tempo.

É compreensível que os recentes escândalos tenham enfurecido o público. Mas a fúria é sempre uma base perigosa para a definição de políticas. Os dias em que o gerente de banco local era quase tão respeitado como o médico local ficaram bem para trás. Nunca iremos transformar os executivos de bancos em santos. Mas podemos mudar os incentivos que os influenciam, a estrutura dos bancos e o foco da regulamentação. Os aspectos em que eu iria mais longe seriam a busca de uma alavancagem substancialmente menor e de uma transparência significativamente maior. Além disso, faria todo o possível para eliminar a ideia de que o Estado garante a atividade de banco de investimento. Essa ideia é insana. Esse é um dos motivos pelos quais a blindagem com separação financeira parcial é vital. Não podemos ter esperança de milagres. Mas podemos tornar os executivos de banco mais úteis e menos perigosos. Concentrem a atenção nisso. (Tradução de Sabino Ahumada)



Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT.

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