segunda-feira, 30 de julho de 2012
Desaquecimento da economia salvou Brasil de enfrentar um novo apagão
Por Daniel Rittner - Valor 30/07
De Brasília
O atraso na construção de 35 usinas térmicas outorgadas a dois grupos com pouca experiência no setor elétrico - a Bertin e a Multiner - só não levou o país a uma crise de abastecimento por causa da forte desaceleração da economia brasileira desde o ano passado. Basta uma olhada rápida nos números para ter ideia da dimensão do problema.
Todas essas térmicas, movidas a óleo ou a gás natural, deveriam entrar em operação entre janeiro de 2010 e janeiro de 2013. À medida que começassem a funcionar, aumentariam a oferta de energia em até 4.265 megawatts (MW) médios, volume superior à produção somada das hidrelétricas do rio Madeira - Santo Antônio e Jirau -, em Rondônia.
Nada disso obedece ao cronograma estabelecido nos leilões, obrigando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a mexer no planejamento do que está ou não disponível para ser acionado. Nas estimativas do ONS, que balizam todos os preços praticados no setor, só 2.497 MW médios (quase 60% de todo o volume efetivamente contratado) realmente devem sair do papel.
O problema é que, segundo analistas respeitados de mercado, essa projeção ainda é bastante otimista. A consultoria PSR calcula que apenas 784 MW médios têm chances reais de entrar em operação. Mesmo assim, mais da metade disso só deve se transformar em oferta de energia a partir de janeiro de 2014, com a conclusão de duas térmicas que foram vendidas pela Bertin à MPX.
"O Brasil foi salvo pela recessão", diz Jorge Trinkenreich, diretor da PSR. Como o aumento da demanda tem crescido bem menos do que o esperado, o atraso na construção das usinas gerou menos dor de cabeça e até causou um problema curioso: as distribuidoras ficaram sobrecontratadas, ou seja, o consumo está abaixo do que imaginavam e elas agora têm energia demais em mãos. "Parece que o país gosta de viver perigosamente", ironiza o especialista, retomando a seriedade em seguida e frisando que a confusão não deve ser celebrada.
Por incrível que pareça, a revogação das autorizações para a Bertin construir suas térmicas - independentemente da adoção de penalidades pela Aneel - pode até resolver a situação das distribuidoras. Elas continuam sobrecontratadas. Com a revogação, reverte-se em grande parte o problema e abre-se espaço para a realização de um novo leilão de projetos novos (A-3) até o fim deste ano, segundo o diretor da agência Julião Coelho.
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