segunda-feira, 16 de julho de 2012

Captação cai 74%


Valor 16/07

A crise da dívida soberana na Europa continua ditando o ritmo das captações externas. Depois de um início de ano bastante ativo, fruto de uma melhora do humor dos investidores internacionais, o segundo trimestre mostrou novamente que as turbulências estão longe do fim.

O total de recursos atraídos pelo país somou US$ 6,5 bilhões, entre abril e junho deste ano, com a emissão de bônus e a tomada de recursos no exterior por empresas brasileiras e pelo Tesouro Nacional. O volume caiu 74% em relação a 2011 e só não foi pior do que o primeiro trimestre de 2009, quando a crise atingiu seu momento mais grave nos Estados Unidos e os efeitos foram fortemente sentidos pela economia brasileira. Naquele momento, as captações atingiram US$ 3,4 bilhões.

Parte desse recuo se explica pelo próprio comportamento das companhias brasileiras. Aquelas que acessam regularmente o mercado externo preferiram se resguardar durante os últimos meses, depois de aproveitar o começo do ano, quando a volatilidade estava menor, para antecipar a busca por linhas externas. Em função desse movimento, nos primeiros três meses deste ano, o país atraiu US$ 24,1 bilhões com o lançamento de bônus para investidores internacionais e empréstimos sindicalizados, segundo dados levantados pelo Valor Data.

Devido ao ritmo menos intenso dos últimos meses, o balanço dos primeiros seis meses do ano foi marcado por um total de captações de recursos por empresas brasileiras no exterior bem mais modesto que o visto no mesmo período do ano passado. O total de emissão dívida e empréstimos feito no exterior no primeiro semestre de 2012 foi de US$ 30,6 bilhões, uma queda de 27% sobre o mesmo período de 2011 e um crescimento de apenas 2,7% em relação à mesma época de 2010.

O valor incluiu uma captação de US$ 7 bilhões decorrente da emissão de títulos com quatro vencimentos diferentes feita pela Petrobras em fevereiro, a maior do ano até aquele momento. A emissão da gigante do petróleo sozinha é bem maior que o levantado pelas dez empresas que realizaram captações no segundo trimestre, que incluiu alguns nomes de peso da economia nacional - como Embraer, Banco do Brasil, Odebrecht e Brasil Foods.

Houve ainda uma concentração no lançamento de bônus e uma forte queda dos empréstimos, decorrente das amarras impostas pelo governo ao longo do ano, taxando os financiamentos abaixo de 5 anos com IOF de 6%. Além disso, houve uma combinação de aperto nas torneiras do crédito visto em grandes bancos estrangeiros e um momento de pouquíssimos investimentos da indústria nacional.

Com isso, o total captado via empréstimos na primeira metade do ano foi de apenas US$ 200 milhões, valor irrisório perante os US$ 13,6 bilhões do mesmo período de 2011.

Na avaliação de especialistas ouvidos pelo Valor, a queda na captação de recursos tanto em bônus como em empréstimos não decorreu apenas da falta de "janelas de oportunidades". As empresas estavam mais cautelosas e sem grandes necessidades de endividamento, já que não investem por aqui.

Segundo o executivo de um grande banco nacional, no fim de maio e início de junho houve uma boa oportunidade para colocação de papéis no exterior, mas nenhuma empresa quis se arriscar. "Recomendamos a nossos clientes naquele momento que fossem a mercado, principalmente empresas que pretendiam reabrir operações já concluídas, mas ninguém quis fazer colocações", diz a fonte, lembrando que havia um número razoável de empresas preparadas para fazer lançamento de bônus.

A ausência de companhias brasileiras no mercado externo também abre espaço para um segundo semestre mais forte e com mais emissões, acredita Rubens Cardoso da Silva, diretor do Banco do Brasil responsável pela BB Securities em Nova York.

Segundo ele, pode haver uma ou outra colocação nas próximas semanas, mas o mercado deve mesmo reabrir somente a partir de 3 de setembro, após as férias de verão do Hemisfério Norte. E as ofertas devem continuar concentradas em empresas de primeira linha.

Neste mês, além da Vale, que captou € 750 milhões, e da Braskem , que emitiu US$ 250 milhões com a reabertura de um bônus com vencimento em 2041, o Itaú BBA tomou um empréstimo de US$ 340 milhões do International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial, para financiamentos para as regiões Norte e Nordeste. O BB também prepara um lançamento na moeda japonesa, o iene. Em contrapartida, o Banco Pine desistiu de uma emissão prevista de notas denominadas em franco suíços, que totalizariam cerca de US$ 100 milhões.

Para a Pimco, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, e que compra títulos corporativos brasileiros, a estimativa é que o próximo semestre concentre cerca de US$ 150 bilhões fluindo para papéis de países emergentes. Do total latino-americano, espera-se que metade venha para o Brasil.

E o perfil das empresas de nações emergentes que recorrem aos mercados deve repetir o que foi visto na primeira metade do ano: 75% com grau de investimento e apenas 25% daquelas consideradas "high yield", que pagam retornos aos investidores mais altos (ver texto ao lado).

"Com os rendimentos dos Treasuries (títulos soberanos dos Estados Unidos) a um nível baixo, e devido à falta de papel no mercado secundário em função de emissões mais fracas nos meses anteriores, muitos investidores continuam buscando papéis para investir", diz Brigitte Posch, uma das responsáveis pelo portfólio de mercados emergentes da Pimco. "Isso já permitiu que vários emissores captassem com rendimentos (ao investidor) mais baixos no primeiro trimestre."

Carlos Gribel, diretor da Tradewire Securities, acredita que o retorno do mercado em setembro pode até ter espaço para empresas com graus de risco mais elevados, especialmente da indústria, mas restrito ainda a nomes que já acessaram o exterior no passado.

Um dos indicadores dessa possibilidade é o preço dos papéis brasileiros no mercado secundário, perto das máximas e com boa demanda. Ele pondera, no entanto, que ainda é muito cedo para fazer previsões por causa da enorme volatilidade do mercado. "Em setembro, o mercado deve reabrir com muita gente captando se não houver uma deterioração na Europa entre julho e agosto".

Já para o chefe do segmento de mercado de capitais de um banco estrangeiro, a segunda metade do ano tende a contar com a emissão de empresas de grande porte e perfil de dívida seguro do Brasil e do México, que continuam a atrair o interesse dos investidores estrangeiros.

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