quinta-feira, 31 de maio de 2012
América Latina deve cooperar mais
Por Helen Clark - Valor 31/05
Cerca de 40 ministros de desenvolvimento social da América Latina e Caribe e da África estiveram reunidos desde o dia 29 até hoje em Brasília para discutir como as duas regiões podem compartilhar experiências e impulsionar a cooperação para acabar com a pobreza. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) tem o orgulho de ter sido o facilitador desse encontro histórico, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Esse fórum acontece a menos de um mês da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Lá, líderes mundiais, ao lado de milhares de participantes de governos, do setor privado e de organizações da sociedade civil irão discutir como construir um futuro mais sustentável - um desafio crucial tanto para países desenvolvidos como para aqueles em desenvolvimento.
Está claro que os países não podem mais se dar ao luxo de crescer primeiro e tentar limpar o meio ambiente depois. Ou de crescer antes para depois tentar acabar com a desigualdade. O crescimento econômico, separado dos avanços em desenvolvimento humano e sem consideração pelo meio ambiente, não só é incapaz de sustentar avanços como também destrói ecossistemas dos quais dependemos para a vida neste planeta.
Duas semanas atrás, apresentei em Nairóbi, com o presidente queniano Mwai Kibaki, o primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud para a África. Apesar das significativas taxas de crescimento econômico da África Subsaariana, a fome segue afetando quase um quarto de sua população, o que significa mais que toda a população brasileira.
No ano passado, os países do Chifre da África vivenciaram a pior crise de segurança alimentar da região dos últimos 20 anos. No Sahel, apenas dois anos depois da última grave crise de segurança alimentar e nutrição, uma combinação de seca, pobreza, altos preços de grãos, degradação ambiental e, em alguns países, instabilidade e conflitos, estão exigindo da comunidade internacional uma nova resposta em grande escala. As últimas estimativas sugerem que mais de 15 milhões de pessoas são diretamente afetadas, sem que a crise tenha ainda atingido seu pico.
Há mais de 30 anos, o arquiteto do paradigma de desenvolvimento humano e prêmio Nobel de Economia, Amartya Sen, desafiou a noção de que a fome é causada simplesmente pelo declínio da oferta de alimentos. Ele argumentou que a fome é consequência de instituições que não funcionam bem, da inexistência do Estado de Direito e do acesso limitado a mercados ou a alimentos com preços acessíveis. Ele também ressaltou que onde os governos são inclusivos e têm capacidade de resposta rápida, as crises de fome não existem.
O Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento convida todos a refletir sobre uma abordagem compreensiva para a construção da segurança alimentar, priorizando a nutrição nas políticas públicas, empoderando as mulheres e ajudando as nações a aumentar a resiliência às adversidades. Em todo o mundo, trabalhamos para promover uma governança mais eficaz e com maior capacidade de resposta e para promover igualmente o Estado de Direito.
Há muita experiência a ser compartilhada entre América Latina e África na erradicação da pobreza e da fome, em especial por meio de sistemas de proteção social. O programa brasileiro Bolsa Família tem sido muito elogiado, e sua atual expansão, com o Brasil Sem Miséria, também tem atraído grande interesse. O Brasil se propôs como objetivo a erradicar a pobreza extrema até 2014, e tem feito progressos consideráveis nesse sentido.
As discussões que ocorreram esta semana, no V Fórum Ministerial para o Desenvolvimento, vão incentivar ainda mais a cooperação entre as nações da América Latina e da África. O intercâmbio e a cooperação Sul-Sul destacam soluções de desenvolvimento que, adaptadas aos contextos nacionais, podem ajudar as nações a atingirem seus objetivos. Eles podem também fazer muito para ajudar o progresso global nos elos econômico, social e ambiental que compõem o desenvolvimento sustentável.
Helen Clark é a administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e ex-primeira ministra da Nova Zelândia.
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