sexta-feira, 25 de maio de 2012

Dólar cai após nova intervenção do BC



Por Eduardo Campos e João José Oliveira - Valor 25/05
De São Paulo

O dólar teve novo pregão de baixa, o segundo consecutivo. Não parece grande coisa, mas a moeda americana não cai por dois dias desde o começo de abril.
A instabilidade foi grande, com o dólar comercial subindo a R$ 2,054 (+0,74%), antes de fechar com baixa de 0,49%, a R$ 2,029.

O Banco Central (BC) voltou a ofertar dólares no mercado futuro via swap cambial. Desde que retomou as operações na sexta-feira passada, já foram cinco leilões de swap que somam US$ 4,7 bilhões.
Da mínima do ano, registrada em 28 de fevereiro a R$ 1,699, o dólar acumula valorização de 19,4%. No mês, a alta está em 6,4%. Boa parcela do ganho pode ser atribuída à piora externa. Em maio, o DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas, tem alta de 4,45%, enquanto o euro cai 5,3%, negociado na linha de US$ 1,25, preço não visto desde julho de 2010.

No entanto, essa degradação de ambiente externo só conta parte da história. Muito da valorização do dólar por aqui é reflexo de fatores domésticos e da especulação, vetor congênito de qualquer mercado.

Para o economista e professor da PUC-Rio, André Cabus Klotzle, a especulação está entre os primeiros fatores a explicar a alta.

Mas mais interessante do que isso, é que os especuladores contam com ajuda do governo.

Ao manter uma defesa consistente e ininterrupta de que a cotação do dólar não traz preocupações inflacionárias e que os benefícios à indústria compensam os efeitos colaterais, o governo facilitou a vida dos especuladores.

"A postura do governo levou diversos agentes a apostar que existe um piso para o dólar, mas não um teto", diz o professor.

Com tal sinalização e um ambiente global avesso ao risco, diz Klotzle, torna-se bastante oportuno testar até onde vai a "parcimônia" do BC com a alta do dólar.

Outro ponto que favorece a compra é o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% sobre a ampliação da posição vendida em dólar futuro. Desde 27 de julho do ano passado, o mercado está em permanente desequilíbrio, conforme o vendedor de dólar futuro paga pedágio e o comprador não.

"As operações de hedge se tornam assimétricas. A venda embute custo fiscal e a compra não. Assim, a demanda por divisa se eleva mais rapidamente do que a oferta, pressionando as cotações", diz.

Outro IOF, esse sobre o empréstimo externo inferior a cinco anos, representa uma barreira à renovação das captações (rolagens), diz Klotzle. Dados apresentados pelo BC mostram que a taxa de rolagem dos empréstimos do setor privado em abril foi de 67%, menor percentual desde o começo da crise de 2008.

Sendo o Brasil um país carente de poupança e com barreiras à captação de poupança externa, o professor acredita que o mercado tenta pressionar o governo a rever, mesmo que parcialmente, essas medidas restritivas.

Para Klotzle, mesmo com o BC realizando operações de swap, a tendência do dólar não muda. Todos os fatores seriam favoráveis à alta de preço: cenário externo, discursos do governo, restrições normativas e juros internos em queda livre. "E esse contexto facilita e torna ainda mais eficaz a especulação", diz o professor.

No mercado de juros, as taxas futuras voltaram a subir seguindo os títulos americanos de dez anos que retomaram a linha de 1,77%, depois de recuar para baixo de 1,72% na quarta-feira.

Um operador disse que o leilão de 5,5 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTNs) também influenciou os preços. O mercado pediu mais prêmio para os papéis de longo prazo - reflexo de incertezas sobre a atuação do BC, disse.

Alexandre Schwartsman, sócio da Schwartsman & Associados e ex-diretor do BC, apontou em estudo que até o terceiro trimestre do ano passado, o BC conseguiu reduzir a taxa real de juros no país até a casa dos 7% ao ano e manter, simultaneamente, as expectativas de inflação rondando o centro da meta de inflação.

Mas essa linha mudou. A taxa real cai agora independentemente das expectativas de inflação. "O mercado entendeu totalmente que o BC não está mais comprometido em estabilizar a inflação", diz Schwartsman.

Para a Nomura, a rédea larga do BC abriu espaço para uma especulação mais franca no mercado de juros. E os bancos que conseguiram arbitrar primeiro no ciclo recente de afrouxamento monetário optaram agora por embolsar os ganhos obtidos. Para o banco, esse motivo técnico é mais plausível do que uma alta dos DIs motivada pela reavaliação de uma queda da Selic que pararia em 8,5%.

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