segunda-feira, 14 de maio de 2012
BCE já admite saída da Grécia do euro
Por Ralph Atkins
Financial Times, de Frankfurt
Representantes do Banco Central Europeu (BCE) falaram pela primeira vez publicamente, neste fim de semana, sobre o "gerenciamento" de uma possível saída da Grécia da zona do euro, na medida em que as tentativas frustradas para a formação de um governo de coalizão elevam as chances de um calote do país.
Comentários de membros do conselho do BCE mostram que o risco de uma fragmentação da união monetária é levado de forma cada vez mais séria no órgão.
Isso marca uma mudança de postura do BCE, que até então vinha dizendo que acordos europeus não permitem retiradas de países, e que uma quebra de tratado traria prejuízos econômicos incalculáveis. "Creio que um divórcio amigável, se for em algum momento necessário, seria possível. Mas eu ainda sentiria muito [se isso ocorresse]", disse Luc Coene, representante da Bélgica no Banco Central Europeu.
"Podem acontecer coisas que não foram imaginadas nos acordos", acrescentou Patrick Honohan, da Irlanda, durante uma conferência na Estônia. "Tecnicamente, [a saída da Grécia da zona do euro] pode ser administrada... não é necessariamente fatal, mas tampouco algo atraente".
"As consequência para [uma saída da Grécia] seriam mais sérias para a Grécia que para o restante da zona do euro", complementou Jens Weidmann, presidente do Bundesbank (o banco central alemão) e também membro do conselho do BCE.
Junto a outras autoridades monetárias da Europa, o BCE aumentou a pressão sobre a Grécia para que o país mantenha o seu programa de austeridade fiscal - advertindo que um descumprimento de medidas acordadas internacionalmente levaria ao corte da ajuda financeira ao país.
Até a noite passada, a Grécia parecia fadada a novas eleições nacionais, depois que as conversações para um novo governo de coalização, presididas pelo presidente Karolos Papoulias, terminaram sem consenso entre conservadores, socialistas e líderes de esquerda. Antonis Samaras, líder da Nova Democracia, de centro-direita, acusou o Syriza, de extrema esquerda, de impedir um acordo - e isso mesmo depois de circular no encontro uma carta do premiê Lucas Papademos listando a deterioração da posição fiscal do país. Em uma tentativa de solução, o presidente ainda reuniu-se com líderes de quatro partidos menores que ganharam assentos no Parlamento.
Para os analistas, ainda é difícil saber o que acontecerá a seguir. Um observador conservador afirmou ser possível alguns legisladores de direita migrarem para o Nova Democracia, o que daria aos defensores do euro uma pequena maioria. Outros, no entanto, ainda acreditam que, pelo andar da carruagem, a Grécia não escapará de novas eleições nacionais.
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