terça-feira, 31 de julho de 2012

Segundo Rabobank real pode ficar forte


Valor 31/07

O real tem se desvalorizado ante o dólar desde o segundo semestre do ano passado, mas os fundamentos ainda amparam a moeda brasileira, segundo o economista-chefe do Rabobank Brasil, Robério Costa. Para ele, a continuidade dos fluxos de investimento estrangeiro direto ao país é um dos principais fatores para a provável recuperação do real. No entanto, esse movimento será acompanhado de perto pelo governo, que agirá para defender a banda informal entre R$ 2,00 e R$ 2,10. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: A tendência de valorização do real permanece?

Costa : Certamente. Um dos motivos para isso é que, na parte do investimento direto, não estamos sendo fortemente afetados. Isso acontece porque o capital precisa ser rentabilizado de alguma forma. E se as multinacionais vão querer alocar esse capital em alguma região certamente não é naquela que está mais vulnerável à crise. Fazer expansão na Europa nos próximos cinco, dez anos, parece loucura. Então o investidor vai procurar os países que têm potencial de crescimento. Mesmo a gente fraquejando agora, o horizonte do Brasil é muito melhor. Portanto, esse tipo de capital (IED) tende a continuar forte. No caso da renda fixa, por exemplo, qual é a alternativa? Você vai aplicar num título da Espanha? Da Itália? Da Alemanha, que rende zero? Ou num título brasileiro que rende cerca de 7%?

Valor: O Brasil ainda vive um regime de câmbio flutuante? Pode-se falar em política de intervenção?

Costa : O câmbio flutuante puro ninguém tem. O Japão intervém no câmbio, a Suíça... e o governo brasileiro atua quando acha que é conveniente. Antes havia um embate entre Fazenda e Banco Central, hoje você vê um alinhamento. Embora as duas partes estejam agindo juntas, eu não chamaria isso de política de intervenção, mas sim de decisão de tomar medidas diversas. Pode ser via instrumentos legais, como o aumento de IOF, pode ser por swap, pode ser por compra de dólares no spot, pode ser até verbal. Isso ficou bem claro quando o Aldo [Mendes, diretor de política monetária do BC] veio e falou que o dólar abaixo de R$ 2,00 não é bom para a indústria. É uma forma de ele dizer que há um risco considerável de se vender dólar. Isso reforça a ideia de que foi criada uma espécie de "banda cambial", uma faixa na qual o BC se sente confortável com o dólar. E dito do jeito que foi pelo Aldo Mendes dá para acreditar que abaixo de R$ 2,00 é provável que aconteça alguma outra ação para puxar o dólar para cima.

Valor: Mas isso é garantido?

Costa : Não, porque existem outras forças que podem mudar as circunstâncias. A crise lá fora, de uma hora para outra, pode criar um cenário novo, o próprio fluxo de dinheiro para o Brasil também pode alterar esse jogo, para cima ou para baixo. Se houver um encaminhamento da solução na Europa de tal modo que o mercado desarme, haveria fluxo de dólares ao Brasil, que o BC teria que fazer muito malabarismo para conter. Aí a discussão da banda poderia mudar. Por enquanto, entre R$ 2,00 e R$ 2,10 é confortável. Muito acima tem o problema da inflação, muito abaixo incomoda a indústria. Essa banda não é ilegítima. É uma decisão de governo. Enquanto houver essa determinação, dificilmente o dólar vai para baixo.

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