sexta-feira, 6 de julho de 2012

Juros caem mas ainda são indecentes


Valor 06/07

A cruzada da presidente Dilma Rousseff contra os juros altos cobrados pelos bancos no Brasil tem um resultado que pode ser analisado pela velha metáfora do copo meio cheio ou meio vazio. Entre março e junho, os maiores bancos de varejo do país - Banco do Brasil, Itaú, Caixa, Bradesco, Santander e HSBC - reduziram as taxas cobradas nas principais linhas de crédito para pessoas físicas e jurídicas, como crédito pessoal, veículos e capital de giro, num intervalo médio que vai de 12% a 17%.

Porém, quando se observam as taxas cobradas após os cortes e a intensidade das reduções principalmente nos bancos privados fica claro que o país ainda está longe de ter custo de crédito em níveis civilizados, especialmente nas linhas de curtíssimo prazo.

No cheque especial, por exemplo, com exceção da Caixa Econômica Federal, que cortou a taxa pela metade, os outros cinco bancos seguiam cobrando, até 20 de junho, taxas médias mensais efetivas acima de 8% ao mês, ou mais de 160% ao ano. No crédito pessoal, embora haja discrepâncias para os dois lados, o custo médio ainda ronda 50% ao ano, ante uma taxa básica de juros de 8,5%.

Os dados são de levantamento feito pelo Valor sobre os juros cobrados por esses seis bancos em nove linhas de crédito desde janeiro. Os dados são do Banco Central e representam a taxa média efetiva cobrada dos tomadores, incluindo encargos.

Com a análise por bancos, é possível fazer uma lista decrescente daqueles que reduziram os juros com mais intensidade. A Caixa foi, com folga, a mais agressiva nos cortes, seguida pelo BB, que tem intensificado as reduções paulatinamente, e recentemente acabou com a exigência de que os clientes aderissem a um pacote de serviços para ter acesso às taxas menores.

Entre os privados, o Itaú fez as maiores baixas em linhas relevantes como crédito pessoal e financiamento de veículos, seguido na ordem por Bradesco e Santander. O HSBC fez mudanças tímidas, praticamente limitando-se a repassar a queda de 1,25 ponto percentual ao ano da taxa Selic desde março.

Segundo a Caixa, as concessões de novos empréstimos aumentaram 36% no segundo trimestre e, junto com aumento da base de clientes, deve compensar o efeito da queda dos juros.


Caixa lidera corte de taxas e Itaú é o mais agressivo entre privados

Por Fernando Torres
De São Paulo

As taxas médias de juros de algumas das principais linhas de crédito para pessoas físicas e empresas caíram de forma consistente desde março, mas a intensidade dos cortes varia bastante entre os bancos até agora. Do lado dos clientes, isso significa que há espaço para pesquisas e para barganhas. Do ponto de vista dos investidores, que o impacto nos resultados das instituições não será linear.

O Valor fez um levantamento detalhado sobre os juros cobrados por Banco do Brasil, Itaú, Caixa, Bradesco, Santander e HSBC em nove linhas de crédito desde janeiro (os resultados podem ser vistos no site do Valor). Os dados são do Banco Central e representam a taxa média efetiva cobrada dos tomadores, incluindo encargos.

Eles diferem do dado consolidado divulgado pelo BC até maio porque a autoridade monetária leva em conta o volume de crédito tomado em cada banco. Se apenas um banco reduz a taxa e todos os clientes migram para essa instituição naquele mês, o dado do BC apontará a taxa contratada nesse banco específico, e não quanto os demais cobraram.

Conforme os dados levantados, a Caixa foi a mais agressiva nos cortes e as reduções mais drásticas ocorreram no cheque especial e no capital de giro pré. A taxa anual do cheque especial do banco estatal diminuiu de 151% para 65% ao ano entre março e junho, com o custo caindo em 57%. No capital de giro, o juro foi derrubado de 25% para 14% ao ano na mesma comparação, uma redução de 44%.

Já o Banco do Brasil liderou a baixa na taxa para o financiamento de veículos, que diminuiu 33%, de 22,5% para 15% ao ano. O BB também foi o que mais cortou a taxa do desconto de duplicatas, em 17%, e do capital de giro com taxas flutuantes, concedido a grandes empresas, cujo custo baixou 22%.

Entre os privados, o Itaú Unibanco fez os movimentos mais agressivos. A taxa do banco para crédito pessoal caiu 20%, passando de 62% para 50% ao ano. Na linha de veículos, o custo anual diminuiu 20%, saindo de 24,5% para 19,5% ao ano. No Bradesco, as reduções ficaram em torno de 10% nas linhas de crédito pessoal, veículos e capital de giro. A maior queda, no entanto, foi no crédito para aquisição de bens para pessoa física, com o custo diminuindo 17%, de 42% para 34,5% ao ano.

O maior corte feito pelo Santander ocorreu no financiamento a veículos, em que a taxa anual caiu 13%, saindo de 22,9% para 19,9%. No crédito pessoal e no capital de giro, a baixa ficou em 8% e 10%, respectivamente. Segundo o diretor de produtos do banco de origem espanhola, Nilo Carvalho, a queda menor que a dos rivais no crédito pessoal e em veículos se explica. "Nossos juros caíram menos em algumas linhas porque já tínhamos taxa mais barata que os concorrentes [do setor privado]", afirma.

Em relação ao cheque especial, em que o Santander cobra a maior taxa, de 222% ao ano, o executivo destaca a prática do banco, herdada do Banco Real, de oferecer dez dias sem juros nessa modalidade. "Essa é uma linha emergencial. E quando o cliente usa direito, paga a menor taxa do mercado, que é zero."
O HSBC reduziu as taxas muito levemente, e em cerca de metade dos casos as margens ficaram praticamente estáveis quando se considera a queda da Selic.

Ao se tentar capturar o impacto dos juros menores nos resultados dos bancos, os dados indicam que o efeito será maior na Caixa, que tem a União como única acionista. Mas apesar de reconhecer que os juros menores afetam negativamente o resultado, o banco estatal confia que o crescimento do volume das operações, o aumento da base de clientes e cortes de custos vão permitir que seu lucro aumente em 2012, na comparação com o resultado do ano passado. "Não repetirá a alta de quase 30% vista entre 2010 e 2011, mas o lucro deste ano deve mostrar crescimento", diz o superintendente nacional de contabilidade e tributos da Caixa, Marcos Brasiliano Rosa.

Segundo ele, o volume de crédito comercial contratado por mês no banco estatal subiu de R$ 11 bilhões no primeiro trimestre para R$ 15 bilhões entre abril e junho, uma alta de 36%. "Estamos colhendo os frutos da ousadia", afirmou Rosa, que disse que a expansão supera a projeção inicial quando os cortes de taxas começaram.

No caso de BB, Itaú e Bradesco, o efeito dos juros menores também deve existir, mas deve ser menor, seja pela intensidade das baixas ou pelo tamanho maior do estoque antigo de crédito comercial, contratado com taxas maiores, que levará mais tempo para ser renovado. No Santander, o impacto deve ser ainda menor, já que as reduções foram menos agressivas.
A despeito da queda de mais de 20% no preço de suas ações desde março, o BB disse, em resposta por e-mail, que "os investidores entenderam como essas iniciativas se reverterão na geração de resultados sustentáveis no longo prazo". Segundo o banco, a queda nas taxas foi uma decisão estratégica, tendo em vista a queda da Selic e o aumento da competição, "principalmente após o início da livre opção bancária para servidores públicos". Questionado sobre o motivo de as taxas não terem caído na mesma intensidade que na Caixa, o BB afirmou apenas que "detém taxas fortemente competitivas, posicionando-se, em muitas linhas, como a menor do mercado".

Procurados, o Itaú enviou nota dizendo que tem processo contínuo de revisão de taxas de juros de empréstimos, com ajustes constantes para adequá-las à realidade do mercado brasileiro, e que vai continuar promovendo ajustes, "especialmente quando houver cortes na taxa básica de juros da economia". Também em nota, o Bradesco disse que "as reduções de taxas realizadas pelo Bradesco são recentes e, portanto, ainda não refletem efeito no estoque de crédito". O banco lembrou ainda que aqueles que optarem pelo produto "Conta Fácil" contam com taxas de cheque especial de 3,95% ao mês. O HSBC não quis se pronunciar.

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