segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Venda sobe, mas país patina no mercado chinês


Valor 21/11

A exportação brasileira para a China é cada vez maior, mas o Brasil não conseguiu avançar muito na fatia que ocupa entre as importações do país asiático.

Em 2009, a China tornou-se o principal parceiro do Brasil nas vendas ao exterior. De lá para cá, a dependência em relação ao país asiático aumentou a cada ano. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, no acumulado dos 12 meses terminados em junho daquele ano, o país asiático representava 11,04% do total embarcado pelo Brasil. Nos 12 meses terminados em junho do ano passado, a participação já era de 13,4%, e no mesmo período encerrado em junho deste ano avançou cinco pontos percentuais, para 16,2%.

Nesse mesmo período, porém, a participação do Brasil na importação total da China ficou praticamente estável. Saiu de 2,85% nos 12 meses encerrados em junho de 2009, caiu para 2,67% um ano depois e se recuperou para 2,81% em junho de 2011. As informações sobre a participação brasileira na importação chinesa são da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

"Isso mostra que, apesar do aumento da importância da China na exportação brasileira, ainda não conseguimos avançar muito em termos relativos nas importações chinesas", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Em boa parte, diz, porque a pauta de exportação brasileira à China é concentrada em poucos produtos.

"A sensação de que estamos elevando consideravelmente as vendas à China se deve muito à alta de preço das commodities exportadas, como soja e minério de ferro. Isso não quer dizer que estamos ganhando fatia de mercado nas compras dos chineses", diz Castro.

Relatório do Observatório Brasil China, da CNI, mostra que o minério de ferro não aglomerado, principal produto exportado aos chineses pelo Brasil atualmente, não conseguiu ganhar espaço nas importações chinesas nos últimos anos. Em 2003, os brasileiros representavam 24,6% do mercado chinês do minério. No acumulado de 12 meses encerrados em junho deste ano, a fatia era de 23,4%.

Marcelo Azevedo, economista da CNI, explica que o Brasil perdeu uma oportunidade por não conseguir avançar mais em um mercado que cresceu na China, em média, 51,6% ao ano, de 2003 até o ano passado. O Brasil concorre com a Índia e com a Austrália no fornecimento de minério não aglomerado aos chineses.

Olhando as vendas brasileiras ao país asiático, porém, o minério de ferro não aglomerado foi a grande estrela em 2011. A participação desse item na pauta de exportação da China chegou a 38,7% do valor exportado no acumulado de janeiro a setembro. No mesmo período do ano passado, a fatia era de 33,9%. Em 2003, o item significava apenas 11,5% do total vendido aos chineses.

"Para ganhar mais espaço na importação chinesa é preciso ter maior diversificação. A pauta brasileira, ao contrário, ficou cada vez mais concentrada. Mais ainda quando se considera a pauta para a China", diz Azevedo.

Castro lembra que a grande avalanca do crescimento da exportação brasileira aos chineses em 2011 foi o preço. O saldo do comércio entre Brasil e China bateu em US$ 10 bilhões no acumulado até outubro, praticamente o dobro do superávit das trocas entre os dois países durante o ano passado, como ressalta a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Lacerda Prazeres. "Esse é um resultado positivo, porque a maior parte dos países tem déficit na balança comercial com a China e nós temos superávit."

Especialistas acreditam, porém, que a forte alta de preços das commodities, que contribui significativamente para a elevação do superávit este ano, não deve ser mantida em 2012. A soja que está sendo embarcada agora, lembra Castro, foi contratada a US$ 515 a tonelada. O minério de ferro foi comprado a um preço perto de US$ 135 a tonelada. Hoje, porém, diz ele, o preço já caiu. O preço da soja já baixou para US$ 430 a tonelada e o do minério de ferro, para US$ 100 a tonelada.

"Esse superávit certamente não se repete no próximo ano", diz Fábio Silveira, sócio da RC Consultores. O saldo positivo se deve à alta de preços concentrada exatamente nos produtos que o Brasil mais exporta para a China. No ano que vem, estima Silveira, os preços das commodities exportadas devem cair entre 10% a 20% em relação aos patamares médios praticados este ano. "Mesmo que, com a desaceleração prevista para o mercado internacional, haja crescimento relativamente alto da economia chinesa, essa demanda não irá compensar a queda de preços dos produtos exportados pelo Brasil", avalia o economista.

No lado das importações brasileiras de itens "made in China", o impacto de preços não será tão alto. Isso porque o Brasil importa da China predominantemente manufaturados. "Esse itens com maior valor agregado não apresentam amplitude de preços como a das commodities", diz Silveira. Além disso, o Brasil, apesar da desaceleração, deve continuar com crescimento e com aumento de demanda doméstica, o que alavanca as importações.

De janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou à China US$ 37,13 bilhões, dos quais 85,5% são produtos básicos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento. A importação brasileira com origem China no período foi de US$ 27,05 bilhões, dos quais 96,7% foram manufaturados.

Tatiana diz que ainda não é possível traçar cenários para 2012, mas lembra que a balança comercial é dinâmica. Provavelmente, diz, os US$ 10 bilhões de superávit existentes no comércio com a China em outubro não se mantenham até o fim de 2011. Isso porque a exportação para a China perde fôlego nos dois últimos meses do ano e a importação de produtos chineses deve se manter, até novembro, em ritmo mais acelerado.

A China, diz a secretária, é um "gigante" e qualquer aumento de participação no mercado é expressivo. Para Tatiana, o importante é que o Brasil está aproveitando o momento atual, que tem permitido retorno relativamente alto para a exportação.

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