segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Indicadores convergem para "cenário Tombini"


Valor 21/11

Desde o fim de agosto, tanto os indicadores de atividade quanto as projeções dos agentes de mercado, colhidas pelo Banco Central (BC) no boletim Focus, passaram a convergir para o cenário traçado por Alexandre Tombini, atual presidente da autoridade monetária.

Argumentando que a desaceleração da economia mundial teria efeito mais intenso sobre a economia doméstica do que o antecipado, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por cortar a taxa básica de juros, a Selic, de 12,5% para 12% ao ano na reunião de 30 e 31 de agosto, sinalizando que ainda iria promover "ajustes moderados". Como a inflação acumulava alta de 6,87% nos em 12 meses até julho - 2,37 pontos percentuais acima do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4,5% -, houve intenso debate sobre a decisão do BC, pois o crescimento ainda parecia sustentado pelo consumo doméstico e a inflação era uma problema sério para o país, devido ao histórico de alta dos preços.

Desde então, no entanto, o mercado encampou a visão do BC e rebaixou as estimativas para os indicadores econômicos. A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2011 contida no boletim Focus, que na semana anterior à redução dos juros era de 3,8%, passou para 3,16%. As perspectivas para o crescimento anual da produção industrial também sofreram revisão considerável no período, passando de 2,96% para 1,55%.

Embora não esperem que a inflação caminhe para a meta, como faz o BC, economistas consultados pelo Valor passaram a afirmar que a avaliação de Tombini, ao menos para o cenário macroeconômico, mostrou-se acertada.

"O cenário de atividade econômica mais baixa foi determinante para que o mercado reavaliasse as projeções de crescimento do Brasil para este e para o próximo ano", disse Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco.

Passados pouco mais de dois meses, houve de fato um desaquecimento mais pronunciado da economia. A produção industrial, que já vinha de um período de estagnação, recuou 2% em setembro. Mesmo o mercado interno deu sinais de que está perdendo fôlego. As vendas no comércio ampliado, que inclui automóveis, motos, partes, peças e material de construção, recuaram 2,3% na passagem mensal de julho para agosto. Em setembro houve leve recuperação, de 0,9%.

"O mercado estava com a visão míope, focando muito na indústria, mas o Banco Central estava correto na análise de que a desaceleração já estava afetando o consumo", disse Luiz Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.

Para Marco Freire, gestor de investimentos da Franklin Templeton, o BC acertou no cenário de desaceleração da economia, mas a contribuição principal não foi do cenário externo. "O ambiente internacional não foi determinante para a desaceleração interna. A inflação mais alta pode explicar parte dessa trajetória, porque os preços elevados inibem o consumo, mas isso é temporário. O principal fator para o desaquecimento das vendas foram as medidas macroprudenciais", disse Freire.

Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, faz leitura semelhante. Para ele, muitos economistas subestimaram o efeito que a política monetária contracionista adotada pelo Banco Central, no fim de 2010 e início de 2011, teria sobre a atividade doméstica. As medidas macroprudenciais, que visavam a contenção do crédito, principalmente para a indústria automobilística, tiveram forte impacto sobre as vendas do setor.

O licenciamento de veículos, de acordo com a Fenabrave, entidade que representa os revendedores de veículos, alcançou o pico no fim do primeiro semestre, mas desde então vem caindo mês a mês, de acordo com os dados dessazonalizados. Com isso, as montadoras, que haviam acumulado estoques, decidiram reduzir a produção para ajustar a indústria a um novo nível de crescimento, mais moderado.

Com a desaceleração das vendas e a estagnação da produção industrial, o IBC-Br, índice de atividade econômica calculado pelo BC, que recuou 0,32% no terceiro trimestre, confirmou, para os economistas, que o PIB para o período deve ter crescimento nulo ou até mesmo negativo, e o quarto trimestre deve ser de modesta aceleração.

Nas contas do Itaú Unibanco, o consumo das famílias aumentou apenas 0,4% na passagem entre o segundo e o terceiro trimestres, ante alta de 1% no período de abril a junho, na mesma base de comparação. Para a equipe econômica do Itaú, todos os componentes que formam o PIB pela ótica da demanda, como gastos do governo e investimentos, reduziram o ritmo.

Mesmo o mercado de trabalho começou a dar sinais de que está perdendo fôlego. Em setembro, o rendimento real médio caiu 1,8% ante o mês anterior, para R$ 1.607,60. Os dados de criação de emprego do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostraram saldo de 126 mil vagas no último mês, o outubro mais fraco desde a crise de 2008.

O Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre - FGV) sugere que os próximos meses serão de moderação da atividade, acompanhada de redução da inflação acumulada em 12 meses. "Nessas condições, o cenário do BC ganha credibilidade e parece justificar a continuidade do processo de redução da Selic", avalia o Ibre.

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