quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Países da UE não vão conseguir cumprir meta de déficit, diz FMI
Dow Jones Newswires
França, Espanha e vários outros governos da zona do euro não cumprirão suas metas de déficit orçamentário acordadas com as autoridades europeias, disse ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI), criando um cenário para um debate acirrado sobre se os governos devem implementar mais cortes ou permitir que as metas sejam descumpridas.
Governos em toda a União Europeia (UE) vêm cortando gastos e aumentando impostos para compatibilizar seus déficits com as regras orçamentárias do bloco, segundo as quais os déficits devem permanecer abaixo de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas crescimento anêmico e recessão, em parte devidos a rodadas anteriores de austeridade, tornaram difícil cumprir as metas de déficit e provocaram crescente descontentamento pública e política em muitos dos 27 países-membros da UE.
O FMI disse em seu relatório "Panorama Econômico Mundial" acreditar que o déficit da França será de 4,7% do PIB neste ano e de 3,5% do PIB no fim de 2013. A França comprometeu-se a reduzir seu déficit para 3% do PIB em 2013. O governo do presidente socialista François Hollande anunciou em setembro um pacote de medidas de austeridade, inclusive um imposto de 75% sobre renda superior a € 1 milhão, para cumprir a meta.
Acredita-se que o déficit espanhol ultrapasse os 5,7% do PIB no próximo ano, disse o FMI, bem acima da meta de 4,5% do PIB. As autoridades e ministros das Finanças da UE neste ano já relaxaram a meta espanhola diante de uma recessão que levou a taxa de desemprego do país para mais de 25%.
Embora a Itália esteja agora em conformidade com a regra orçamentária de 3%, os italianos também estão a caminho de descumprir sua meta de 0,5% do PIB para o déficit no próximo ano. O FMI prevê que o déficit italiano no próximo ano fique em 1,8% do PIB.
A implementação de mais cortes para atingir metas para o déficit no próximo ano turvará ainda mais as águas políticas europeias e colocará à prova a capacidade desses governos de aprovar mais medidas de austeridade nos preocupados Parlamentos nacionais.
A Comissão Europeia, braço executivo da UE, vai analisar nas próximas semanas os programas de austeridade nacionais, produzindo sua própria avaliação sobre se serão cumpridas as metas orçamentárias. Se a comissão acreditar que os números não "estão fechando", discutirá com outros governos da UE, nos próximos meses, se haverá a imposição de mais cortes ou o relaxamento das metas de 2013 para os governos em questão.
Novas regras dão à comissão o poder de impor multas a governos da zona do euro que não cumpram suas recomendações.
A dívida pública grega está crescendo muito mais rapidamente do que o esperado, em meio à forte deterioração das condições econômicas no país. Acredita-se agora que a dívida total deverá chegar a 171% do PIB neste ano e 182% no fim de 2013, disse o FMI. As projeções do relatório "Panorama Econômico Mundial" anterior do FMI indicavam que a dívida grega atingirá 153% do PIB no fim deste ano e 161% no próximo.
"Uma recessão mais profunda do que a esperada e derrapagens na implementação de medidas fiscais complicarão mais uma vez a concretização dos ambiciosos objetivos de redução do déficit", afirmou o FMI.
Técnicos da zona do euro e do FMI estão negociando se a dívida da Grécia deveria ser reestruturada novamente, desta vez fazendo com que os credores oficiais do governo assumam prejuízos em suas carteiras de dívida grega.
Já a Irlanda está praticamente a caminho de cumprir os termos de seu programa de socorro, segundo as projeções do FMI.
O FMI também renovou sua advertência de que o Reino Unido precisa reduzir o ritmo das suas medidas de austeridade se o crescimento econômico cair consideravelmente abaixo do previsto nos próximos meses.
O Fundo disse que as estimativas de menor crescimento desde seu relatório anterior, publicado em abril, provavelmente retardarão o progresso do país no sentido da redução de seu déficit orçamentário. A previsão é de que o déficit fique em 8,2% do PIB em 2012 e 7,3% do PIB em 2013; anteriormente, o Fundo tinha previsto para o Reino Unido déficits de 7,9% e 6,7% para 2012 e 2013.
A mensagem do FMI é um revés para o ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, que tem sido um dos principais defensores de austeridade e prometeu manter o rumo (de sua política) com cortes agressivos de gastos do governo, apesar da contração da economia por três trimestres consecutivos.
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