segunda-feira, 8 de outubro de 2012
BC reforça controle sobre câmbio com leilão de swap
Valor 08/10
Após quase três semanas sem atuar, o Banco Central voltou a dar as caras no mercado de câmbio na sexta-feira, vendendo mais de US$ 1 bilhão em swaps cambiais reversos, que devolveram o dólar ao patamar de R$ 2,03. A colocação de swaps cambiais reversos equivale a uma compra futura de dólar. Para profissionais do mercado, a intervenção é mais um recado claro de que o BC segue atento aos movimentos no câmbio e não permitirá que a cotação caminhe para os R$ 2,00, tampouco caia abaixo disso.
Na operação, anunciada pouco antes das 11h na sexta-feira, o BC vendeu 25.800 contratos, no equivalente a US$ 1,288 bilhão. A oferta inicial era de até 50 mil papéis, ou US$ 2,5 bilhões. A última intervenção havia acontecido em 17 de setembro, quando a autoridade monetária vendeu US$ 2,172 bilhões nesses mesmos contratos, contribuindo para a alta de 0,94% do dólar naquele dia, para R$ 2,030. Com o leilão de sexta, o dólar teve seu maior ganho desde 17 de setembro, subindo 0,54%, a R$ 2,030.
De acordo com profissionais consultados pelo Valor, mais do que os volumes ofertado e vendido, chama atenção o fato de a autoridade monetária ter preferido vender novos papéis, em vez de simplesmente rolar os quase US$ 3 bilhões de swaps reversos que vencem em 1º de novembro. Em atuações anteriores, o BC optou por retirar papéis próximos do vencimento substituindo-os por outros mais longos. Agora a autoridade preferiu ampliar o estoque de swaps no mercado. "E quem vai fazer queda de braço com ele [o BC]
? O mercado não faz", avalia o gerente da mesa de câmbio da Fair Corretora, Mario Battistel.
Na opinião do gerente de câmbio da corretora Icap Brasil, Italo Abucater, a colocação de mais da metade dos 50 mil contratos ofertados mostra que o mercado comprou a ideia de que o câmbio está "administrado" no Brasil, podendo oscilar apenas na restrita faixa entre R$ 2,00 e R$ 2,05.
"Quando o mercado segura a demanda, e o BC vende apenas uma pequena parte dos swaps, ou mesmo nada, fica a impressão de que o mercado quer peitar o BC. Mas não foi o caso hoje. O mercado absorveu mais de 50% da oferta, o que mostra um respeito às sinalizações do BC de que a taxa de câmbio não deve se aproximar dos R$ 2,00", afirma Abucater.
Com a venda de US$ 514,4 milhões em swaps reversos para dezembro de 2012, é possível estimar que a posição comprada do BC em dólar futuro em papéis com vencimento nesse mês tenha aumentado a US$ 1,174 bilhão. Até então, essa posição era comprada em US$ 660 milhões. Para janeiro de 2013, o BC passou a ficar comprado em dólar futuro no montante de US$ 773,4 milhões, o mesmo vendido para esse vencimento no leilão da sexta-feira passada. Junto com os swaps reversos que vencem em 1º de novembro, a posição comprada em dólar futuro assumida pelo BC subiu a US$ 4,9378 bilhões. Até então, estava em US$ 3,65 bilhões.
Para Abucater, o BC deve seguir ofertando swaps reversos sempre que o dólar se aproximar de R$ 2,00, o que pode neste mês devolver um pouco da volatilidade do mercado de câmbio perdida desde julho. "O leilão do BC foi uma espécie de desfibrilador, mas o mercado ainda precisa de mais volatilidade para operar, e o BC está atento a isso", diz.
Na avaliação do sócio e gestor da Fram Capital, Roberto Serra, a expectativa é que o Banco Central dê prioridade à colocação líquida de swaps cambiais reversos em novas intervenções no mercado de câmbio, além da rolagem dos papéis vincendos.
"Já está no preço a rolagem dos swaps, inclusive os que vencem agora em novembro. Para gerar mais impacto no mercado, o BC se concentrará daqui para frente em ofertas líquidas, o que tende a potencializar o efeito das atuações", afirma Serra.
Para Serra, no entanto, as intervenções do BC já conseguem fazer mais preço hoje do que no passado, uma vez que os fluxos ao Brasil estão modestos, resultado do olhar do investidor estrangeiro em relação ao Brasil não tão otimista como em outros anos.
"Tivemos os estímulos monetários nos Estados Unidos e mesmo assim não vimos uma enxurrada de dinheiro para o Brasil, porque a visão do estrangeiro não é mais a mesma. A menor liquidez por si só acaba intensificando os efeitos das intervenções do BC", afirma.
O estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno, tem a mesma opinião. "Se você não tem um fluxo forte, qualquer atuação do BC tem impacto maior."
Diante desse cenário, o gestor da Fram mantém a estimativa de que o dólar termine este ano entre R$ 2,00 e R$ 2,05. Ele avalia, contudo, que, se é para assumir uma direção, é mais provável que a moeda americana ganhe impulso, dado o persistente discurso do governo contra o real valorizado e uma possível piora no sentimento internacional.
"O dólar pode até bater R$ 2,10. Nesse caso, o BC pararia de atuar, e a moeda voltaria a cair. Mas, nesse novo contexto, o teto de hoje, em R$ 2,05, viraria piso. A banda de variação mudaria para uma faixa entre R$ 2,05 e R$ 2,10", acrescenta.
"O leilão foi uma estratégia do BC, uma espécie de termômetro", disse o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues. "Sua intenção foi medir quanto precisa tirar de dólar do mercado para poder manter o nível que a moeda está agora."
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