quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Produção de petróleo nos EUA tem a maior alta da história




Por Asjylyn Loder
Bloomberg

Os EUA tiveram este ano a maior expansão de sua produção de petróleo desde que o primeiro poço comercial americano foi aberto no país, em 1859, revertendo a crença de que o país dependeria cada vez mais de petróleo estrangeiro.

A produção cresceu 766 mil barris por dia, um recorde, para o maior nível em 15 anos, mostram dados do governo. Isso deixa o país a caminho de superar a Arábia Saudita como maior produtor do mundo em 2020. As importações líquidas de petróleo caíram mais de 38% desde o pico em 2005, e agora respondem por 41% da demanda, abaixo dos 60% de sete anos trás, aproximando os EUA de sua independência energética.

Sete anos depois de o presidente George W. Bush declarar que "os EUA são viciados em petróleo, grande parte do qual é importado de regiões instáveis do mundo", o país tem tanto petróleo que lhe foi possível assumir a mesma à posição que os europeus, barrando as exportações do Irã sem pressionar o preço de referência americano para acima de US$ 100 o barril. E a capacidade de refino contribuiu para tornar os EUA o maior fornecedores mundial de combustível. Mesmo na Venezuela, onde ativos da Exxon Mobil foram expropriados, mais e mais carros são movidos a gasolina produzida nos EUA.

"Os EUA têm uma grande dianteira, no Século XXI, no sentido de manter seu status de superpotência", disse Ed Morse, diretor mundial de pesquisas de commodities no Citigroup, em Nova York. "Não havia absolutamente nenhuma maneira de prever o nível de crescimento da oferta de petróleo."

A mais recente corrida ao petróleo nos EUA foi estimulada por uma nova tecnologia que tornou a abertura de poços mais rápida, mais barata e melhor para extrair o petróleo de formações rochosas, ainda que tenha criado preocupações ambientais sobre o risco de contaminação da água potável e de intensificar as emissões de gases que provocam o efeito estufa.

Os produtores, interessados em lucrar com os preços que estão acima de US$ 75 há mais de dois anos, instalaram mais de 1.432 plataformas de perfuração, o maior número já registrado desde 1987.

Os EUA produzirão em média de 6,41 milhões de barris por dia este ano, uma alta de 14% em relação a 2011, segundo relatório de 11 de dezembro do Departamento de Energia. É o maior crescimento anual em barris desde o início das atividades no setor, quando o poço Drake, na Pensilvânia, deflagrou a primeira corrida ao petróleo americano, em 1859. A Arábia Saudita bombeou 9,7 milhões de barris por dia em novembro, segundo dados compilados pela Bloomberg. A Agência Internacional de Energia, com sede em Paris, disse no mês passado que os EUA estão a caminho de tornar-se o maior produtor em cerca de oito anos.

"A revolução do óleo de xisto é uma coisa muito nova", disse Francisco Blanch, chefe de pesquisa de commodities no Bank of America Merrill Lynch. "Isso começou do zero no último ano e meio".

Os estoques do país cresceram 13%, um recorde, neste ano, e as refinarias nos EUA estão pagando menos pelo petróleo do que a maior parte do resto do mundo. O óleo americano, de baixas densidade e teor de enxofre, custa menos para ser processado que os de altas densidade e elevado teor de enxofre, bombeados pela Arábia Saudita e pela Venezuela. Mantida no país por restrições a exportações e limitações de transporte, a enxurrada desse óleo provocou uma queda no preço interno, para até US$ 28 por barril a menos que o tipo Brent, um mix europeu que é referencial para os preços de mais de metade do petróleo do mundo.

Esse desconto proporcionou às refinarias da costa do Golfo do México uma vantagem sobre os concorrentes e ajudou os EUA a se tornarem um exportador líquido de combustível no último ano, pela primeira vez desde 1949, ultrapassando a Rússia como maior exportador. A Venezuela quintuplicou suas importações dos EUA, neste ano, para um recorde de 196 mil barris por dia, em setembro.

A crescente produção dos EUA também ampliou a influência do país no mercado mundial, obrigando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a fazer uma escolha desagradável: elevar a produção para baixar os preços e manter sua participação de mercado ou manter os preços altos para sustentar os gastos dos país, subsidiando, assim, a concorrência dos produtores americanos, capazes de fornecer óleo a refinarias locais a um preço inferior.

Os avanços sem precedentes surgiram tão rapidamente que a indústria petrolífera está correndo para se reposicionar. A vazão no oleoduto Seaway, de 800 km, cujo fluxo foi invertido no ano passado e agora leva óleo americano para o sul, rumo às refinarias da costa do Golfo, em vez de levar importações para o norte, será expandida dos atuais 150 mil para 400 mil barris/dia já no início de 2013.

Produtores de combustíveis no Nordeste dos EUA, à beira da insolvência um ano atrás, começaram a substituir óleo importado trazido por petroleiros da África, Europa e Oriente Médio por óleo local mais barato trazido por via férrea.

A exportação de petróleo é limitada por regras criadas pelo Congresso após o embargo do petróleo pelos árabes em 1973. Exportar pode ser necessário para evitar que um excesso de óleo deprima o preço e desencoraje a perfuração, disse Blanch, do Bank of America. O petróleo do tipo WTI, referência nos EUA, poderá cair para até US$ 50 o barril nos próximos dois anos, a menos que a lei seja flexibilizada.

O surto petrolífero, junto com a produção recorde de gás natural, permitiu aos EUA suprir 83% de suas necessidades energéticas nos primeiros oito meses de 2012, em tendência para ser a maior desde 1991. A última vez em que houve autossuficiência foi em 1952.

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