publicado em 25 de
janeiro de 2013 às 15:15 no Jornal do terra
Versão completa da
entrevista a Carlos Cavalcanti, Diretor de Infraestrutura da FIESP: http://terratv.terra.com.br/videos/Noticias/Destaques-Noticias/4404-448878/SP-prefere-briga-politica-a-baixar-conta-de-luz-diz-Fiesp.htm
Jornal do Terra – A proposta de redução
da conta de luz lançada pelo governo Dilma veio a se somar à campanha Energia a Preço Justo,
lançada há dois anos pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Ao
apoiar a MP 579, a FIESP passou a ser criticada pelo secretário de Energia de
São Paulo, José Aníbal, contrário à medida provisória. E em entrevista ao Terra
ele declarou que o presidente da Federação, Paulo Skaf, não entende nada de
energia e aproveitou a oportunidade para fazer campanha política. Vamos
conversar sobre o assunto com Carlos Cavalcanti, Diretor de Infraestrutura da
FIESP.
JT – Senhor Cavalcanti,
muito obrigada pela vinda ao Terra. É um prazer receber o senhor aqui.
Carlos Cavalcanti – Prazer é todo meu
Maria.
JT – Senhor Cavalcanti,
a energia pode ser mais barata mesmo no Brasil? A CESP de São Paulo, a CEMIG de
Minas e a COPEL do Paraná, estados administrados pelo PSDB, dizem que o governo
Dilma faz populismo com o chapéu alheio e a FIESP aqui em São Paulo recebe
duras críticas do secretário Aníbal por apoiar a medida.
CC – É, secretário
Aníbal… vamos deixar prá lá, ele é um político, não é um secretário de energia.
Ele transformou a secretaria num comitê partidário, ficou lá preocupado em
viabilizar a eleição, a candidatura dele a prefeito de São Paulo. Vamos deixar
ele de lado. A secretaria está paralisada, não está fazendo nada pela população
de São Paulo, e tristemente agora vem se opor a esta situação.
Não é chapéu alheio, e
isto o secretário está mentindo para a população. A regra é muito clara. A
regra é a seguinte: a Constituição brasileira de 88, mas até antes disso, ela
não permite a propriedade privada dos ativos de infraestrutura no Brasil.
Ela não permite
propriedade privada de estrada, não permite propriedade privada de porto, não
permite propriedade privada de aeroporto, isto é sempre, pode e deve ser
administrado pela inciativa [privada], mas isso é uma concessão. É assim que
está definido na Constituição. Isso é um contrato entre a União e uma empresa
pública ou privada, para fazer a gestão e o aproveitamento, exploração
econômica, por um determinado período de tempo. O que que acontece agora nos
setores elétricos?
Esses contratos, que são
da década de 70 e já estiveram em vigor por 30 anos — no governo do Fernando
Henrique eles foram prorrogados por mais 20 anos, em 95…
JT: Eles estão vencendo
em 2015…
CC: Vence em 2015, os
contratos acabam, não é? Que que a FIESP fez há dois anos atrás? Por quê?
Porque as mesmas, CESP, CEMIG, Eletrobras, a COPEL estão há cinco anos pedindo
prorrogação desses contratos no mesmo patamar de preço. E aí a população
precisa entender, porque isto é fundamental.
Veja, construir uma
usina hidrelétrica custa muito caro e o investidor tem que ser ressarcido. Mas
isto é dividido, custo da obra que representa 80% do preço da energia, ele é
dividido num crediário de 30 anos, tá, que eu, você, você, pagamos na conta de
luz.
Então, produzir 1
megawatt de energia no Brasil custa R$ 6,80, em média, seis e oitenta. Sabe por
quanto estas empresas estão vendendo para o sistema este megawatt, que custa
seis e oitenta? A noventa e seis reais. Muito bem…
JT – Quer dizer que
continua a amortizar um investimento que já teria sido pago em trinta anos e
que depois teve mais 20 anos para ser amortizado, ainda.
CC – Isto. É justo você
pagar esse preço de energia para a [hidrelétrica] de Belo Monte, que ainda tá
em construção, quando ela começar a despachar o primeiro megawatt, ela vai
cobrar esse preço de energia que é o preço de energia de leilão. Todas as novas
hidrelétricas e as velhas que ainda não estão amortizadas. Estas, estas elas
estão amortizadas, tão pagas, pagas, o tempo médio de exploração dessas usinas
e que vencem os contratos em 2015 é de 56 anos. Tem algumas, como a presidente
Dilma falou, velhas senhoras, operando há mais de 70 anos. Quer dizer, e nós
estamos pagando esta conta.
É como se a gente
comprasse uma televisão numa loja, em 36 parcelas, chegasse no triségimo sétimo
mês — você pagou todas as 36 — no triségimo sétimo mês o dono da loja liga para
você e diz, continue pagando o crediário. Você diz não, péra, eu já paguei, a
televisão é minha. [O dono da loja] Não senhor, continua, porque eu não posso
perder receita. Isso é o que ele está dizendo [o secretário Anibal], da CESP.
Eu não posso perder receita, eu não posso vender energia mais barata. E é
mentira, ele pode e deve.
Primeiro, porque a usina
não é dele, é da União, e agora o que aconteceu foi trazer esses preços para
remunerar outras bobagens…
Que falam, “ah, não vai
cobrir os custos”. Veja, no preço proposto pelo governo, você cobre operação e
manutenção. Operação é toda despesa operacional, manutenção significa você
fazer reforços constantes na estrutura da barragem, que é aquela grande
estrutura de concreto, e trocar, do zero, jogar fora, e trocar todas as
turbinas, todas as turbinas da usina a cada 25 anos.
Isto está incluso neste
preço de sete reais. Aquela quantidade de energia, que é brutal, o tempo de
concessão que é longo, e as empresas estão completamente bem remuneradas.
Porque, senão, nós sempre vamos ter, se agente não pegar os ativos que estão
maduros, e baixar o preço deles… Por exemplo, ele aqui [o secretário Anibal]
ontem defendeu que o pedágio deve ser caro, que é isso que garante obras,
estradas boas em São Paulo. Outra bobagem.
É politicagem. O estado
de São Paulo fez a concessão de rodovias prontas, os investidores não puseram
um centavo nessas rodovias e tão sendo remunerados por um pedágio altíssimo,
tá, simplesmente para fazer operação e manutenção, que é cobrir o asfalto, um
buraquinho, esse tipo de coisa. E para isso eles estão sendo remunerados. Se
bem que os padrões de pedágio em São Paulo são os maiores do mundo e são
políticas erradas, que um dia vai ter que mudar.
Então veja, não é chapéu
alheio, a CESP nem a CEMIG, nem a COPEL, que foram as empresas que não
aderiram, elas não são donas dessas hidrelétricas e o investimento que elas já
fizeram ao longo de 40, 50 anos, nós pagamos, por 40, 50 anos, a construção
dessas usinas.
Agora, o crediário acabou.
A festa acabou. A mamata acabou. Por isso nós lançamos a campanha, fomos
ouvidos pela presidente da República, que comprou uma briga.
JT – E dá para baixar aí
a 16% mais ou menos para o consumidor doméstico e até 28% para as indústrias?
CC – Olha, o negócio é
tão sério, que é o seguinte. Você baixa o preço destas, destas usinas, que é um
lote de 20% de toda energia consumida no Brasil, você baixa 80% o preço de
geração, preço de energia dessas usinas, baixa 66% o custo de transmissão, que
é a tarifa que agente paga lá na conta no final do mês, e isto tem um impacto,
isto tem um impacto grande que vai baratear a tarifa de todos os brasileiros, a
partir de primeiro de janeiro, que é a conta que a gente começa a pagar no dia
5 de fevereiro, nosso consumo de janeiro você começa a pagar a partir de
fevereiro, e em média em 20,2%,; de residência é 16,7%, indústrias, grandes
consumidores têm descontos que chegam até 28%.
98% das indústrias são
consumidoras de baixa tensão, que vão ter o desconto de 16,7%, tá certo; a
média do Brasil vai ser 20% por causa dos grandes consumidores, que estão sendo
bastante beneficiados no mercado regular.
JT – Agora a FIESP
conversou alguma vez com o governo Alckimin sobre essa redução na conta de luz?
Esse impasse agora gerado pelo secretário José Aníbal, que fala na federação e
faz ataques ao presidente Paulo Skaf, não estremeceu demais a relação entre
governo do estado e a Federação das Indústrias para chegar a um bom termo e
caminhar aí para reduzir a luz?
CC – Vamos deixar o
secretário de lado e chamar a responsabilidade do governador. O governador de
São Paulo é… está assumindo uma posição complicada perante a população aqui do
estado.
Eu te pergunto, qual é o
estado mais populoso do Brasil? É o Amazonas? Não, é São Paulo. Qual é a maior
fatia de brasileiros que vai se beneficiar de uma redução da conta de luz? São
os paulistas. Qual é o estado do Brasil que tem a indústria mais forte, o
comércio mais forte, os bancos mais fortes, a farmácia, a padaria, qual é o
estado que tem a maior atividade econômica? Então, é o estado de São Paulo. Que
é que está acontecendo?
Eles estão pensando, o
governador está com uma visão estreita, com o cérebro desse tamanho, porque tá
pensando na condição dele, de acionista, dono da CESP, tá.
Mas como a gente não
pode lidar só com papagaida, importante dizer que a CESP é 40% do Estado de São
Paulo; 60% da CESP sabe de quem que é?
Do HSBC, Bank of London,
do UBS, União de Bancos Suíços da agência de Londres, do Crèdit Suisse, que é
um conglomerado de bancos suíços; e 51% das ações preferenciais da CESP tão na
jogatina da Bolsa de Valores.
Quer dizer, quando vem
aqui dizer que a população de São Paulo vai ter que pagar a conta, o governador
tá mal informado.
Ou ele não entende desse
assunto, ou ele tá mal informado pelo secretário. O governador tá jogando
contra a população São Paulo, que é a grande beneficiada pela redução do preço
da energia, a casa de cada um vai baixar a conta de luz em 16% e a conta de luz
no Brasil vai baixar 20% a partir de fevereiro, quer dizer, e isso o estado que
mais ganha é o estado de São Paulo.
Eles estão lá pensando
na empresinha que eles controlam, que o governador controla, que ele emprega
gente, parente e partidário do grupo político dele e tá prejudicando o estado
[de São Paulo].
O governador tem uma
responsabilidade, para chegar para a população e não colocar o secretário
falando, ele tem que colocar — como o presidente da FIESP está fazendo —
colocando a cara na televisão para defender essa causa justa, o governador
precisa falar, o governador não pode se esconder atrás do secretário, o
governador tem uma responsabilidade com a população de São Paulo.
JT – Durante essa queda
de braço entre o governo Dilma e os governos do PSDB, no caso de Minas, São
Paulo e Paraná e também o governo do PSD em Santa Catarina, a CELESC que também
é um das que estão contrárias a essa medida provisória para baixar o preço na
conta de luz, as ações das energéticas caíram muito na Bolsa de Valores do
Brasil. Isto foi um efeito colateral esperado ou isto faz parte do processo de
acomodação de preços mesmo?
CC – Maria,
impressionante porque assim, a regra está estabelecida desde 1995, no governo
Fernando Henrique. Lá eles prorrogaram concessões para elas durarem 20 anos
mais. 2015 todo mundo sabe que acabou.
Que ia acabar. Muito
bem, o que é que, então as empresas estão fazendo nos últimos cinco anos?
Eles achavam que eles
iam ganhar essa parada, as empresas e o mercado de ações achavam que iam ganhar
essa parada, que a população não ia ser informada, que não ia ter uma entidade
como a FIESP, com seu presidente Paulo Skaf, na televisão.
Nós investimos isso por
autorização da diretoria da FIESP, votada por unanimidade, milhões de reais
para fazer campanha em televisão para dizer para a população que ela tinha um
direito que estavam querendo sequestrar na boca da noite, na calada da noite.
JT – E não tratar como
concessão e sim como um direito adquirido para sempre, algo assim.
CC – Claro, claro, veja,
a população tem esse direito e nós, eles estavam querendo subtrair… isso aqui
[pensavam as concessionárias] é uma coisa que a gente resolve entre nós com o
ministério e tal. O Ministério de Minas e Energia não tinha intenção de fazer o
que a presidenta Dilma Roussef teve coragem para fazer. O ministério não tinha
sacrificado as empresas, tinha prorrogado e a população que fosse enganada
nessa história.
Nisso a presidenta foi
muito corajosa e ela foi estimulada por uma conversa importante que a FIESP
teve com o governo federal, com várias áreas, área técnica, e a área que
decidiu e ajudou a presidenta decidir dentro do governo, e nós tivemos uma
interlocução muito forte.
Mas respondendo sua
pergunta, sim, com o governador Alckmin isso foi colocado e ele pensa como
acionista da CESP ele não tá pensando na população do estado de São Paulo,
repito, o governador tem que vir a público justificar para a população porque
ele tá prejudicando 44 milhões.
Eu digo isso, eu fica lá
pensando como é que tá o cidadão do Rio de Janeiro, o cidadão do Rio Grande do
Sul, como tá o cidadão da Bahia, como tá o cidadão de Sergipe dizendo, “eu, o
meu governo e a minha população aqui no meu estado tão dando uma contribuição
que é baixar o preço das companhias geradoras daqui do meu estado, para que os
paulistas não façam nada, porque como a CESP não entra no jogo, os paulistas
não estão contribuindo para queda”. A gente fica com vergonha do governo que
tem, a gente fica com vergonha.
E fora que o governo do
estado de São Paulo, ao não renovar essas concessões, elas vão acabar e vão a
leilão em 2015 e destruiu a empresa, eles estão destruindo a CESP, que poderia
durar mais 30 anos. Estão sendo de uma irresponsabilidade com o estado e com
essa população que é uma coisa jamais vista. Governador Alckimin, responda à
população, o que você vai fazer com a CESP a partir de 2015?
O senhor não pretende
ser governador depois de 2015? Não pretende depois de 2015? Você vai ter esse
problema em 2015. O senhor vai ter problema de abastecimento de energia no
estado de São Paulo, você vai ter problema com os empregos dos eletricitários
da CESP, você tá pondo em jogo porque entrou num joguinho político.
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