quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Reservatórios atingem pior nível desde 2001, aponta ONS
Valor 06/12
Os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por cerca de 70% da capacidade de armazenamento do país, tiveram o pior início de dezembro desde 2001, de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O nível de armazenamento das usinas das duas regiões começou o mês apenas 6,7% acima da curva de aversão ao risco - indicador que garante o atendimento pleno da demanda do país. Na terça-feira, o índice caiu para 6%.
Apesar de o país estar no início do período chuvoso (que começa em novembro e termina em abril), com a possibilidade de elevação do nível dos reservatórios e de redução do risco de racionamento, a tendência é que o ano de 2013 seja mais crítico, porque não há garantias de que a chuva vai recompor os reservatórios a níveis satisfatórios.
"Passamos por um ano de chuvas muito abaixo da média. Em janeiro, tínhamos a previsão de que seria um ano tranquilo. Em fevereiro, esperávamos uma chuva 20% acima da média, mas veio 15% abaixo. Em março, [a chuva]
veio 40% abaixo da média. Foi assim o ano inteiro", afirmou o presidente da comercializadora Comerc, Cristopher Vlavianos.
Segundo o executivo, quando há uma queda muito acentuada do nível dos reservatórios em um determinado ano, é preciso um regime de chuvas intenso no ano seguinte para recuperar a capacidade de armazenamento de água. "Mas a meteorologia está com previsões bem aquém do que gostaríamos", ressaltou ele.
A expectativa do Operador Nacional do Sistema para dezembro é de um volume de chuvas 4% acima da média histórica para o mês. Nesta primeira semana, no entanto, o índice de chuvas correspondeu a 61% da média para o período.
O quadro para 2013 é agravado pelo fato de o sistema brasileiro estar perdendo a capacidade de regularização dos reservatórios. Isso porque o consumo de energia vem crescendo ao longo dos anos e as hidrelétricas que estão entrando em operação são a "fio d'água" - sem reservatório de acumulação. Com isso, a relação entre toda a energia "armazenável" nos reservatórios e a demanda do país caiu de 6,7, no ano 2000, para 4,5, em 2011, de acordo com dados do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Também chama a atenção dos agentes o aspecto operacional do sistema, já que as hidrelétricas iniciaram 2012 com o maior nível de armazenamento dos últimos dez anos e perderam o estoque rapidamente.
A situação é semelhante à que ocorreu em 2010. Naquele ano, os reservatórios iniciaram o ano em níveis muito elevados e fecharam o período com níveis bastante reduzidos, devido ao atraso na decisão de ligar as usinas termelétricas.
Em setembro deste ano, o Operador Nacional do Sistema identificou que as usinas térmicas precisavam ser acionadas para fins de segurança e manutenção dos reservatórios, o que implicaria custo adicional para o consumidor. As usinas, porém, não foram ligadas naquele momento, quando a presidente Dilma Rousseff anunciava o pacote de redução de tarifas de energia, durante as campanhas eleitorais municipais.
No fim de novembro, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema, Hermes Chipp, havia afirmado que a expectativa era desligar as termelétricas a partir deste mês. O operador, porém, reviu a estratégia e encaminhou ao Ministério de Minas e Energia documento solicitando a permanência da operação de todas as termelétricas.
Essas usinas, que possuem capacidade instalada praticamente igual à de Itaipu (14 mil MW), estão gerando hoje 13.200 MW médios, o equivalente a 21,7% de toda a energia que foi consumida pelo país.
Para o presidente da consultoria Andrade & Canellas, João Carlos Mello, todas as termelétricas, inclusive aquelas a óleo combustível e diesel, mais caras e poluentes, deverão operar até março. "Evidentemente depende do volume de chuvas de janeiro e fevereiro, mas acredito que as térmicas vão rodar, para segurar a água que vai entrar", explicou.
O cenário crítico já é refletido nos preços negociados no mercado livre de energia. Os contratos com início de entrega em janeiro de 2013, com um ano de duração, estão sendo negociados, em média, a R$ 140 por MWh. Em meados de 2012, o mesmo contrato era fechado a R$ 90 por MWh. Os contratos de três meses de duração, de janeiro a março de 2013, estão sendo negociados a R$ 165 por MWh.
O gerente de risco e inteligência de mercado da comercializadora Ecom Energia, Carlos Caminada, acredita que, após cair 34%, nesta semana, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) - que baliza o preço do mercado de energia de curto prazo - deve sofrer nova alta na próxima semana. "Estamos verificando que a chuva prevista pelo modelo não se realizou. E não há previsão de chuva significativa para a próxima semana", afirmou.
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