quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vamos ao que interessa?

FSP – 1ºago2010 – ELIANE CANTANHÊDE - Vamos ao que interessa?

BRASÍLIA - Até agora, o que se vê, lê e ouve é Dilma e o PT dizendo que José Serra deslizou para a direita e vai ter "um fim melancólico", e José Serra chamando Dilma e o PT de "trogloditas de direita" por apoiarem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Um candidato chama o outro de feio, de chato, de bobo, de direitista, numa profusão de adjetivos pejorativos. E nós com isso?
Enquanto eles ficam nesse rame-rame, o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulga relatório colocando o Brasil no terceiro pior nível de desigualdade de renda do mundo, melancolicamente empatado com o Equador. Aliás, dos 15 países com maior concentração de renda, dez são da América Latina.
Enquanto os candidatos trocam adjetivos e quebram a cabeça com estratégias mirabolantes e pegadinhas espertas, fica-se sabendo que o Brasil tem uma nota anual de 4,6 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e que muito dificilmente vai atingir a meta de chegar à nota 6 em 2021.
E, enquanto eles pensam em cabelo, maquiagem, empostação de voz e qual a próxima maldade contra o adversário, vem a informação de que 8 milhões de eleitores são analfabetos e 19 milhões declararam saber ler e escrever, mas nunca pisaram numa sala de aula.
A pior situação é no Nordeste, mas é chocante por toda a parte. Dê um pulo ali na escolinha de Sobradinho dos Melo, a meia hora do centro da capital da República, e pergunte quantos pais e mães sabem ler e escrever...
Quando o dado do analfabetismo saiu do TSE e inundou o país de vergonha, o que se perguntou é se o analfabeto (um a cada cinco eleitores) tem discernimento para votar. Mas a pergunta é outra: como os candidatos e candidatas pretendem tornar o país mais justo e quitar essa dívida com os cidadãos?
A resposta não comporta adjetivos e sim compromisso.

Um comentário:

  1. Acho que a pergunta se o analfabeto tem discernimento para votar é pertinente em parte..
    quase chegou lá.. A pergunta é se o voto obrigatório é um voto cidadão. Se um direito imposto é um direito.

    A baixaria citada ocorre justamente porque temos uma grande massa de votos "não cidadãos", decisões embasadas não por critérios de consciência, (formado pela opinião construida pelo confronto interior de idéias) mas sim embasadas por critérios emocionais. Se o cidadão não tem como formar opinião, ou não se interessa, ele deveria ter o direito de simplesmente não ir votar. E se a maioria não vai votar, prova-se a não legitimidade com números, no modelo como está a não legitimidade não aparece mascarada pelo volume de votos 171.

    A pergunta de como pretendem tornar o país mais justo e quitar essa dívida com os cidadãos não esta na agenda pelo mesmo motivo: quem vota não é cidadão, é um pato pronto para ser enganado por aquele que fala mais alto tanto pelo tom de voz quanto pelo volume de dinheiro, publico ou privado, investido nesta enganação.

    ResponderExcluir