A instabilidade do mercado de renda fixa global assistida desde o início do mês de junho já deixa uma perda potencial para os detentores de títulos públicos brasileiros estimada em mais de R$ 120 bilhões neste ano. Essa conta leva em consideração a desvalorização dos papéis prefixados e indexados a índices de preço emitidos pelo Tesouro Nacional no mercado doméstico, cujo estoque nas mãos do mercado é de aproximadamente R$ 1,3 trilhão. São os títulos preferidos dos investidores estrangeiros, mas também os que estão espalhadas entre fundos de investimento e de previdência. O cálculo refere-se a uma perda meramente contábil. Para que se torne um prejuízo real, os investidores têm que vender seus papéis aos preços atuais. Caso os mantenham em carteira, podem recuperar o prejuízo.
A intensa volatilidade nesse mercado levou o Tesouro Nacional a voltar a recomprar títulos públicos, ontem, das mãos dos investidores pela primeira vez em quase cinco anos. A última vez que uma operação semelhante havia sido feita foi em outubro de 2008, em meio à crise gerada pela quebra do banco Lehman Brothers.
A atuação do Tesouro teve como objetivo dar parâmetros de preços a um mercado distorcido por uma onda de zeragem de posição e dúvidas sobre qual é o valor justo dos ativos que os investidores carregam em suas carteiras. De fato, a ação teve efeito imediato e as taxas pagas voltaram a ceder. Mas, para especialistas, essa atuação não interrompe definitivamente os riscos de perda para os investidores. "Foi uma ação oportuna, mas em que se combate os efeitos, e não a causa da tensão", explica um analista.
Desde o início de junho, o mercado vem assistindo a uma onda de desvalorização no mercado de renda fixa nada trivial. As perdas são mais evidentes entre os títulos atrelados ao IPCA, as chamadas NTN-B, que têm os prazos mais longos da dívida mobiliária federal e menor liquidez no mercado secundário. Para esses papéis, a perda estimada é de cerca de R$ 60 bilhões. Quanto mais longo o prazo do papel, maior é a perda.
São principalmente razões externas ao Brasil as que explicam esse quadro. A alta dos juros dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, detonada pela possibilidade de a política monetária americana mudar de rumo nos próximos meses, estimula investidores globais - especificamente os chamados fundos hedge, que buscam altas taxas de retorno e que são sensíveis a qualquer alteração de cenário - a desfazer seus investimentos em renda fixa no mundo. Os juros, assim, sobem em todos os mercados emergentes para onde o capital internacional migrou nos últimos anos. É o chamado efeito portfólio, em que ajustes nas carteiras dos investidores globais provocam mudanças drásticas nos preços dos ativos em todas as praças.
Esse movimento pegou o mercado local já fragilizado. Um processo de aperto monetário foi iniciado em abril deste ano, fenômeno que por si só faz o investidor em ativos prefixados perder dinheiro. Diante desse quadro, o investidor ainda põe na balança as dúvidas sobre a capacidade de o governo gerar crescimento e conter a inflação, além dos riscos que o quadro fiscal expansionista oferece.
O que se vê nestes dias, portanto, é uma bola de neve. À medida que o investidor estrangeiro vende títulos, os preços dos papéis caem. E os fundos de investimento e de pensão têm de marcar seus papéis a mercado, ou seja, corrigir o valor de suas carteiras para o nível praticado pelo mercado. O problema é que fundos têm metas a cumprir e se veem obrigados a se desfazer de parte desses papéis, reforçando a desvalorização. Muito do nervosismo vem do simples receio de que o mercado embarque nessa dinâmica.
Grandes fundos, muito alavancados em títulos de longo prazo, foram vistos liquidando suas aplicações nestes dias de fortes perdas dos títulos. No mês de junho, o IRF-M, índice que mede o desempenho dos papéis prefixados do Tesouro no mercado secundário, acumula perda de 1%. Títulos de longo prazo, como a LTN 2017, passaram a ser negociados com rendimento superior a 11% - muito acima da taxa Selic, que hoje está em 8%. Somente o IMA-B, relativo às NTN-Bs, papéis atrelados ao IPCA, tem queda de 4,15% no mês.
Quando a volatilidade torna-se aguda como a que se viu nestes dias, as corretores sequer conseguem definir um preço justo para o papel. E foi nesse contexto que o Tesouro decidiu se colocar à disposição do mercado para recomprar 1 milhão de NTN-F (títulos prefixados) com vencimento em 2021 e mais 1 milhão para 2023. Desse volume, foram recomprados apenas 200 mil papéis do vencimento mais longo.
Além de dar saída para o investidor que tentava vender seus papéis, a atuação oferece um sinal de que o Tesouro tem caixa e está disposto a agir para dar equilíbrio ao mercado. E o resultado do leilão, com a venda de apenas 10% do volume ofertado, demonstrou que a necessidade de venda efetiva dos títulos não era tão elevada. Mas, em um mercado pouco líquido e machucado por dias seguidos de perdas, era o suficiente para distorcer os preços. "Em momentos como o atual, bastaria que 1% dos investidores quisessem sair para fazer as taxas disparar", explica um especialista. "Mas quando o mercado percebe que Tesouro está atento e que há uma porta de saída, muitos agentes desistem de vender os papéis."
O leilão do Tesouro conseguiu colocar os juros futuros de volta à trajetória de queda ontem, mas as taxas ainda seguem carregando um prêmio considerável em relação ao fim de maio. O contrato do DI para janeiro de 2017 negociado na BM&FBovespa fechou com taxa de 10,34%, ante 10,65% na véspera. No fim do mês passado, era negociado por volta de 9,75%. Entre os contratos de curto prazo, o DI janeiro/2014 registrou taxa de 8,70%, ante 8,77%.
A intensa volatilidade nesse mercado levou o Tesouro Nacional a voltar a recomprar títulos públicos, ontem, das mãos dos investidores pela primeira vez em quase cinco anos. A última vez que uma operação semelhante havia sido feita foi em outubro de 2008, em meio à crise gerada pela quebra do banco Lehman Brothers.
A atuação do Tesouro teve como objetivo dar parâmetros de preços a um mercado distorcido por uma onda de zeragem de posição e dúvidas sobre qual é o valor justo dos ativos que os investidores carregam em suas carteiras. De fato, a ação teve efeito imediato e as taxas pagas voltaram a ceder. Mas, para especialistas, essa atuação não interrompe definitivamente os riscos de perda para os investidores. "Foi uma ação oportuna, mas em que se combate os efeitos, e não a causa da tensão", explica um analista.
Desde o início de junho, o mercado vem assistindo a uma onda de desvalorização no mercado de renda fixa nada trivial. As perdas são mais evidentes entre os títulos atrelados ao IPCA, as chamadas NTN-B, que têm os prazos mais longos da dívida mobiliária federal e menor liquidez no mercado secundário. Para esses papéis, a perda estimada é de cerca de R$ 60 bilhões. Quanto mais longo o prazo do papel, maior é a perda.
São principalmente razões externas ao Brasil as que explicam esse quadro. A alta dos juros dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, detonada pela possibilidade de a política monetária americana mudar de rumo nos próximos meses, estimula investidores globais - especificamente os chamados fundos hedge, que buscam altas taxas de retorno e que são sensíveis a qualquer alteração de cenário - a desfazer seus investimentos em renda fixa no mundo. Os juros, assim, sobem em todos os mercados emergentes para onde o capital internacional migrou nos últimos anos. É o chamado efeito portfólio, em que ajustes nas carteiras dos investidores globais provocam mudanças drásticas nos preços dos ativos em todas as praças.
Esse movimento pegou o mercado local já fragilizado. Um processo de aperto monetário foi iniciado em abril deste ano, fenômeno que por si só faz o investidor em ativos prefixados perder dinheiro. Diante desse quadro, o investidor ainda põe na balança as dúvidas sobre a capacidade de o governo gerar crescimento e conter a inflação, além dos riscos que o quadro fiscal expansionista oferece.
O que se vê nestes dias, portanto, é uma bola de neve. À medida que o investidor estrangeiro vende títulos, os preços dos papéis caem. E os fundos de investimento e de pensão têm de marcar seus papéis a mercado, ou seja, corrigir o valor de suas carteiras para o nível praticado pelo mercado. O problema é que fundos têm metas a cumprir e se veem obrigados a se desfazer de parte desses papéis, reforçando a desvalorização. Muito do nervosismo vem do simples receio de que o mercado embarque nessa dinâmica.
Grandes fundos, muito alavancados em títulos de longo prazo, foram vistos liquidando suas aplicações nestes dias de fortes perdas dos títulos. No mês de junho, o IRF-M, índice que mede o desempenho dos papéis prefixados do Tesouro no mercado secundário, acumula perda de 1%. Títulos de longo prazo, como a LTN 2017, passaram a ser negociados com rendimento superior a 11% - muito acima da taxa Selic, que hoje está em 8%. Somente o IMA-B, relativo às NTN-Bs, papéis atrelados ao IPCA, tem queda de 4,15% no mês.
Quando a volatilidade torna-se aguda como a que se viu nestes dias, as corretores sequer conseguem definir um preço justo para o papel. E foi nesse contexto que o Tesouro decidiu se colocar à disposição do mercado para recomprar 1 milhão de NTN-F (títulos prefixados) com vencimento em 2021 e mais 1 milhão para 2023. Desse volume, foram recomprados apenas 200 mil papéis do vencimento mais longo.
Além de dar saída para o investidor que tentava vender seus papéis, a atuação oferece um sinal de que o Tesouro tem caixa e está disposto a agir para dar equilíbrio ao mercado. E o resultado do leilão, com a venda de apenas 10% do volume ofertado, demonstrou que a necessidade de venda efetiva dos títulos não era tão elevada. Mas, em um mercado pouco líquido e machucado por dias seguidos de perdas, era o suficiente para distorcer os preços. "Em momentos como o atual, bastaria que 1% dos investidores quisessem sair para fazer as taxas disparar", explica um especialista. "Mas quando o mercado percebe que Tesouro está atento e que há uma porta de saída, muitos agentes desistem de vender os papéis."
O leilão do Tesouro conseguiu colocar os juros futuros de volta à trajetória de queda ontem, mas as taxas ainda seguem carregando um prêmio considerável em relação ao fim de maio. O contrato do DI para janeiro de 2017 negociado na BM&FBovespa fechou com taxa de 10,34%, ante 10,65% na véspera. No fim do mês passado, era negociado por volta de 9,75%. Entre os contratos de curto prazo, o DI janeiro/2014 registrou taxa de 8,70%, ante 8,77%.
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