O governo Obama e a mídia americana fizeram muito barulho sobre o "giro" dos Estados Unidos em direção à Ásia. O que, em grande medida, lhes passou despercebido é que a China vem arregimentando aliados econômicos no antigo "quintal" dos EUA.
Bem, da mesma forma que uma competição acirrada serve para avivar os impulsos criativos nos negócios, é hora de os EUA apresentarem uma política econômica adequada para a América Latina antes que seja tarde demais.
A diferença das abordagens dos EUA e China em relação à América Latina ficou abertamente em foco quando o vice-presidente americano, Joseph Biden, e o presidente da China, Xi Jinping, visitaram a região.
Bem, da mesma forma que uma competição acirrada serve para avivar os impulsos criativos nos negócios, é hora de os EUA apresentarem uma política econômica adequada para a América Latina antes que seja tarde demais.
A diferença das abordagens dos EUA e China em relação à América Latina ficou abertamente em foco quando o vice-presidente americano, Joseph Biden, e o presidente da China, Xi Jinping, visitaram a região.
A principal oferta dos EUA a seus vizinhos latino-americanos é a Parceria Transpacífica (TPP, na sigla em inglês). A TPP oferece aos países da América Latina e Ásia acesso ao mercado dos EUA com base em uma condicionalidade tripla.
Primeira, precisam desregulamentar seus mercados financeiros; segundo, precisam adotar provisões de propriedade intelectual que deem preferência às firmas dos EUA; e terceiro, precisam permitir que firmas dos EUA possam processar diretamente governos de países que assinam o TPP, por infrações das condições do tratado.
Um condicionamento mais do que pesado. Mas, então, qual a abordagem da China? Em sua visita à região, o presidente chinês Xi Jinping ofereceu mais de US$ 5,3 bilhões em financiamentos, sem exigir muitas condições, a seus novos amigos latino-americanos. Essas ofertas ainda precisam ser confirmadas, mas de acordo com notícias na imprensa os chineses assinaram acordos nesta viagem para: 1- conceder US$ 3 bilhões a projetos de infraestrutura e energia de oito países caribenhos; 2- conceder US$ 1,3 bilhão à Costa Rica em empréstimos e linhas de crédito, incluindo um empréstimo de US$ 900 milhões do Banco de Desenvolvimento Chinês para modernizar uma refinaria de petróleo e uma linha de US$ 400 milhões para infraestrutura rodoviária, do Ex-Im Bank of China; e 3- uma linha de crédito do Ex-Im Bank da China de US$ 1 bilhão ao México, para sua petrolífera estatal Pemex.
Esses financiamentos somam-se aos US$ 86 bilhões já fornecidos pela China aos governos da América Latina desde 2003. É verdade, essa quantia -por maior que seja - parece ser apenas mais um número no mundo de hoje. Então, para dar uma ideia melhor: desde 2003, portanto, nos últimos dez anos, os bancos de políticas públicas da China forneceram mais financiamento à América Latina do que o Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Ex-Im Bank dos EUA.
Essa comparação deveria ser suficiente para acordar os EUA de sua letargia passada e por assumir que sua relação com a América Latina é algo garantido. Em termos simples, os EUA e o grupo de instituições financeiras internacionais em grande parte dominadas pelo Ocidente foram superadas pela força financeira da China. Bem-vindos ao admirável mundo novo!
Não se trata, entretanto, de uma mera questão de números. Ao contrário dos tratados comerciais dos EUA e do financiamento das instituições financeiras internacionais, em grande parte sob o controle dos EUA, a China oferece seus empréstimos sem fazer grandes exigências.
Em uma região que é, compreensivelmente, muito sensível a qualquer ideia de condicionalidade, tendo em vista as dolorosas experiências do passado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, a China preocupa-se em garantir que sua política não seja baseada em condicionalidades.
Dito isso, os chineses não deixam de ter uma forte preocupação comercial. Muitas vezes, a China apresenta ofertas casadas - exigindo que empresas chinesas sejam contratadas para trabalhar em grande parte do projeto previsto.
Além disso, o que os EUA oferecem no TPP aos países latino-americanos não significa muito no mundo real. Na verdade eles já têm tratados comerciais com os EUA que lhes garantem acesso ao mercado do país.
Em poucos anos a China tornou-se a maior parceira comercial do Brasil e do Chile e a segunda maior do Peru e México. Não são quaisquer países. São as economias mais importantes da América Latina.
Os EUA, é claro, ainda são o maior parceiro econômico da região como um todo. Mesmo assim, não podem, contudo, continuar a ver sua posição na América Latina como garantida.
Por um tempo longo demais, os EUA recorreram a um mecanismo bastante imperial - apenas dizer à América Latina o que ela precisa. Compare isso com a abordagem da China: o país oferece à América Latina o que a região quer (na forma de financiamento e comércio com a China).
Quando o presidente Obama assumiu o comando, ele e sua equipe comprometeram-se a apertar o botão de "reinicializar" das relações com a região e a repensar seu regime comercial com a América Latina. Não foi o que ocorreu. Até agora, "reinicializar" basicamente significou apresentar a mesma oferta, mas por meio de novos rostos.
Além disso, grande parte da interação com os governos da região foi direcionada aos esforços para o combate às drogas. Esses países, acertadamente, não veem isso com uma grande abordagem em prol do crescimento e desenvolvimento, mas como um mecanismo defensivo e estrangeiro, para proteger o território dos EUA.
Tendo em vista tudo isso, passou da hora de o governo dos EUA realmente repensar sua política econômica em relação à América Latina. Muito em breve pode ser tarde demais. (Tradução de Sabino Ahumada)
Kevin P. Gallagher é professor de relações internacionais na Boston University e pesquisador do Global Development and Environment Institute.
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