quarta-feira, 12 de junho de 2013

Óleo na fervura

 
 
 
Valor 12/06 - Casa das Caldeiras
 
A possibilidade de o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Carlos Hamilton Araújo, deixar a instituição é o mesmo que colocar óleo na fervura de um mercado que vem demonstrando descrédito especialmente quanto ao compromisso do governo Dilma Rousseff com o regime de metas para inflação e com a política fiscal. O diretor – defensor inflexível do regime de metas – teria pedido demissão duas vezes recentemente, em março e em maio, informa o Correio Braziliense na edição desta quarta-feira. O BC nega “categoricamente” que Hamilton esteja demissionário ou que tenha chegado a pedir demissão. Nesta quinta-feira, o diretor será palestrante no “2nd Annual National Asset-Liability Management symposium for the Americas”, em São Paulo. 
O Correio informou em sua matéria, apurada junto a integrantes da equipe econômica e economistas de mercado, que Hamilton teria tentado deixar o BC em março ao avaliar que a condução da política monetária seria dificultada pelo Planalto, após a afirmação da presidente, em Durban, de não acreditam em "políticas de combate à inflação que olhem a redução do crescimento econômico". A segunda tentativa de afastamento supostamente ocorreu no fim de maio, quando o Copom elevou a Selic em 0,5 ponto, para 8%. O diretor, informou o Correio, teria considerado o aperto mais político do que técnico, por ter ocorrido depois de pesquisas do governo indicarem a queda de aprovação a Dilma – o que foi confirmado pelos levantamentos do Data Folha e CNT.
O diretor de Política Econômica do BC foi protagonista de um episódio inédito na terceira semana de abril, quando fez um duro alerta sobre a inflação em discurso feito durante um evento em São Paulo, na sequência da divulgação da Ata do Copom considerada “branda” por especialistas. O ineditismo do momento foi caracterizado pelo fato de o discurso desafinar tão claramente de um documento da instituição e também pela repercussão direta no mercado. 
Hamilton provocou forte aceleração dos juros futuros, movimento classificado como evidência da credibilidade do diretor junto ao mercado financeiro. Economistas apontaram, nas semanas seguintes, trechos do discurso do diretor como o melhor diagnóstico recente sobre a inflação brasileira. Em tempo: após o discurso em seminário promovido pelo Itaú BBA, tornou-se pública a informação de que seu conteúdo era compartilhado pela diretoria do BC, e que o texto foi preparado em parceria com o presidente Alexandre Tombini. 
Quem ouviu e leu o relato de Hamilton sobre o processo inflacionário recente no Brasil, reconheceu, naquele momento, sua permanência no cargo como indicação de fortalecimento do BC no governo Dilma e uma demonstração de que a abertura dos votos de diretores da autarquia nas reuniões do Copom – decorrente da proposta de maior transparência das ações do governo formalizada na Lei de Acesso à Informação – estaria colocando as finanças por aqui em novo patamar. Afinal, o diretor do BC discursou a uma plateia altamente especializada em vários tons acima da Ata do Copom que ocupa lugar de destaque entre os instrumentos de comunicação da autoridade monetária com o mercado financeiro.  
Em seu discurso, Hamilton listou dentre outros, cinco desenvolvimentos ajudam a entender a evolução recente da inflação: os choques desfavoráveis, domésticos e externos, no segmento de alimentação; a depreciação do real ocorrida ano passado; as repercussões diretas, bem como sobre a dinâmica da curva de salários, do aumento de 14,3% do salário mínimo; política fiscal e parafiscal expansionista; e política monetária expansionista. “Cabe destacar que, atualmente, as duas últimas condições ainda prevalecem”, acrescentou. 
Ao concluir o pronunciamento em 25 de abril, o diretor de Política Econômica do BC foi enfático ao afirmar que “embora reconheça que a inflação corrente e as projeções de inflação estejam elevadas, bem como que o balanço de riscos no horizonte relevante se apresenta desfavorável, vou discordar daqueles que argumentam que a inflação no Brasil está fora do controle. Não está. Não está e nem estará. Quero lembrar que o BC l dispõe - e está fazendo uso - do instrumento de política (a taxa Selic), que, por excelência, destina-se a combater a inflação e o faz com eficácia. E como última palavra, gostaria de registrar que cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária (da taxa Selic).” 
Em tempo: na reunião do Copom encerrada em 7 de abril, o BC iniciou o atual ciclo de política monetária e elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, para 7,50% ao ano. No encontro seguinte, de 28 e 29 de maio, o aumento da taxa básica foi de fato intensificado de 0,25 para 0,50 ponto.

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