terça-feira, 21 de maio de 2013

Salários crescem na China, apesar de expansão menor

 

Por Tom Orlik | The Wall Street Journal, de Pequim
 
A China está registrando um rápido aumento nos salários e há indícios de que o ritmo das contratações está resistindo à desaceleração do crescimento, sinais animadores para um governo que vem tentando colocar mais dinheiro no bolso dos cidadãos. Mas essa tendência pode ser difícil de ser mantida diante da ameaça dos países vizinhos ao predomínio da China no setor de manufatura.
Os salários no setor privado da China subiram 14% em 2012, segundo dados divulgados na semana passada, uma boa notícia para a iniciativa do governo de dar ao consumo interno um papel mais importante no crescimento. Mas os custos mais altos da mão de obra também prejudicam os lucros das empresas e a competitividade das exportações chinesas - o que poderia acabar ameaçando a própria recuperação da economia.
Países como Bangladesh, Camboja e Vietnã vêm fortalecendo seus setores de vestuário para atrair varejistas mundiais que procuram por alternativas à China.


A Crystal Group, que fabrica roupas para Marks & Spencer, Abercrombie & Fitch e Gap, afirma que mais do que triplicou a sua força de trabalho no Vietnã nos últimos três anos, mas aumentou só um pouco a da China. "Para nós, é uma simples questão de economia", diz Andrew Lo, diretor-presidente da empresa, que é sediada em Hong Kong, já que se tornou mais caro produzir camisetas e jeans básicos na China.
O aumento de 14% nos salários dos trabalhadores do setor privado em 2012, divulgado pela Agência Nacional de Estatísticas da China na semana passada, foi maior que o de 12,3% registrado em 2011. Já o crescimento econômico anual caiu de 9,3% em 2011 para 7,8% em no ano passado.
Uma onda recente de acidentes, inclusive o desabamento de um edifício de fábricas têxteis em Bangladesh que matou mais de 1.100 pessoas, renovou a atenção sobre o deslocamento da produção à medida que os custos sobem na China. Alguns especialistas dizem que os receios de que os custos na China estejam tirando a liderança do país no setor de manufatura podem ser exagerados. Uma cadeia de produção interligada, infraestrutura desenvolvida e acesso ao próprio mercado chinês ajudariam o país a manter essa liderança.
No geral, a maioria dos fabricantes que opera na China continua lucrando, ainda que suas margens tenham diminuído, diz Nigel Knight, que chefia as atividades de consultoria da Ernst & Young na região da China. "Não vejo uma debandada geral", afirma Knight. "Os fundamentos lógicos da estratégia de se fabricar na China ainda são muito fortes."
Enquanto isso, a criação de empregos e os aumentos de salários são a prioridade dos líderes chineses. No passado, um crescimento econômico acelerado era visto como essencial para criar oportunidades de trabalho suficientes para uma força de trabalho em crescimento. Numa visita esta semana a Tianjin, uma cidade no norte do país, o líder máximo da China, o presidente Xi Jinping, deu mostras do contínuo foco no emprego ao visitar um centro de qualificação e prometer melhorias nos serviços para aqueles que estão procurando trabalho.
A força contínua do mercado de trabalho indica que a China pode agora criar empregos suficientes para sustentar a estabilidade social com um ritmo de crescimento substancialmente menor. "O mercado de trabalho robusto significa que há menos necessidade de medidas de estímulo de curto prazo", disse Louis Kuijs, economista do banco RBS.
Grandes aumentos de salários também ajudam a reequilibrar a economia da China, um dos principais objetivos do novo governo. Com os salários subindo a um ritmo mais rápido que o resto da economia, cresce a fatia do bolo que cabe às famílias. O governo espera que isso gere altos níveis de consumo, ajudando a economia a se livrar da dependência das exportações e dos investimentos para crescer.
Os custos crescentes da manufatura na China foram uma das razões que levaram a firma de investimento em participações Grumman Hill Group a decidir colocar a fabricante de calçados Aerosoles à venda neste ano, segundo disse uma pessoa a par do assunto. A empresa de calçados, que tem sede no Estado de Nova Jersey, fabrica praticamente todos os seus produtos na China, mas a inflação dos salários lá estava pressionando as margens, disse a pessoa.
Os salários no setor industrial da China subiram 71% desde 2008, segundo a Agência Nacional de Estatísticas. Melhorias na produtividade do trabalho, que o Banco Mundial estima estar crescendo cerca de 8,3% ao ano, anularam parte, mas não todo, o custo com aumento de salários.
Um executivo da Guangdong Sunrise Houseware Corp., um fabricante de utensílios de cozinha para exportação, disse no ano passado que os custos com mão de obra saltaram pelo menos 30%. "Temos mais de 600 empregados, muitos dos quais saíram no ano passado", afirmou ele. "Quando você contrata pessoas novas, você descobre que o salário médio já aumentou."
Com este fenômeno se reproduzindo em fábricas por toda a China, os lucros da indústria diminuíram durante boa parte de 2012. O aumento das exportações caiu de 20,3%, em 2011, para 7,9%, à medida que empresas chinesas perdiam na concorrência com o Vietnã e outros países de baixo custo. Isso sugere que os líderes da China estão diante da difícil escolha: ou manter a tendência de alta dos salários para impulsionar o consumo doméstico, ou controlar os custos dos fabricantes, que criam tantos empregos no país.
Outros dados mostram sinais de que a força dos salários se prolongou por este ano, apesar da diminuição do crescimento econômico. Dados fornecidos ao "The Wall Street Journal" pela Zhaopin.com, uma das maiores websites de recrutamento da China, indica que o total de empregos anunciados aumentou 24,65% em abril, comparado com o mesmo mês de 2012. Ao mesmo tempo, números do governo mostram que a demanda por trabalhadores superou a oferta numa proporção recorde no primeiro trimestre.
Um trabalhador migrante de Wuhan, no centro da China, que se identificou pelo sobrenome Chang, é um dos que se beneficiaram. Em fevereiro, ele pediu as contas de seu emprego numa fábrica de autopeças em Shenzhen, no sul do país, porque não estava satisfeito com o salário mensal de 2.800 yuans (cerca de US$ 455). Em abril, depois de ter passado um mês procurando, ele arrumou um novo emprego numa fabricante de capas para celulares, ganhando 4.200 yuans por mês. "Eu não estava tão ansioso para encontrar um emprego, então demorou algum tempo", afirmou Chang.
Nem todos os indicadores recentes do mercado de trabalho chinês são positivos. O índice oficial de gerentes de compra da China, e um dado semelhante divulgado pelo HSBC Holdings e pela firma de pesquisas de mercado Markit Economics, mostram que algumas fábricas demitiram em abril.
Um porta-voz do Zhaopin.com também disse que há sinais de que as contratações estão perdendo força neste segundo trimestre. "Muitas empresas estão pessimistas quanto ao mercado chinês em 2013, e isso vem se refletindo nos planos de contratação", afirmou o porta-voz do website, "depois de um pico de contratações no primeiro trimestre, a confiança diminuiu um pouco".
"Até agora não vimos as taxas de desemprego subirem, e os setores imobiliário, de infraestrutura e o de serviços estão alimentando uma forte criação de empregos", disse Haibin Zhu, economista do banco J.P. Morgan para a China. "Mas o aumento dos salários não pode se sustentar sem o aumento dos lucros. Se o setor empresarial continuar fraco, será difícil sustentar um rápido aumento dos salários."



 
 

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