sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Dólar ignora mudança no IOF e fecha a R$ 1,99
Depois de três dias agitados, o mercado de câmbio desfrutou de um pregão relativamente tranquilo na quinta-feira, com o dólar marcando leve alta, e ignorando medida do governo, que zerou a alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado em aplicações de estrangeiros em fundos imobiliários. Para operadores, a mudança veio em "timing" ruim, acrescentando mais ruído ao mercado, ainda incerto após a confusão de sinais aparentemente conflitantes emitidos pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda.
A moeda americana fechou a quinta em alta de 0,05%, a R$ 1,990, após oscilar de R$ 1,983 a R$ 1,993 entre mínima e máxima. O ganho, porém, não foi suficiente para reverter as fortes perdas do início da semana e, no mês, o dólar acumulou queda de 2,59%.
Profissionais encararam o corte de 6% para zero na alíquota de IOF para aplicações de estrangeiros em fundos imobiliários muito mais como uma correção na legislação, clarificando a natureza desses ativos, do que como uma intervenção propriamente dita no câmbio. Assim, o efeito imediato foi nulo sobre o dólar, embora alguns agentes acreditem que, no longo prazo, a mudança tem potencial para fortalecer o fluxo de recursos para o país e favorecer a alta do real.
"No longo prazo, isso ajuda a atrair mais recursos para o país", disse Solange Srour, economista-chefe do BNY Mellon Arx. "O país não tem poupança doméstica o suficiente e precisa atrair esse tipo de capital, que é mais de longo prazo e menos especulativo."
Os sinais de que o interesse de estrangeiros por ativos latino-americanos pode estar voltando a crescer contribui para a expectativa de fluxo maior por meio desses fundos imobiliários, agora livres de IOF para estrangeiros. Segundo Eduardo Suarez, estrategista sênior de câmbio do Scotiabank, em recente operação de abertura de capital, a administradora imobiliária mexicana Fibra Uno levantou cerca de US$ 1,73 bilhão. Cerca de dois terços da demanda veio de estrangeiros, disse ele.
"O governo [brasileiro] conta com o setor imobiliário e de construção civil como um dos propulsores à aceleração da economia", disse Suarez. Para ele, a medida anunciada de ontem "é consistente com esse objetivo".
Outros profissionais, porém, acreditam que a mudança não deve ter impacto, isoladamente, tão significativo sobre os fluxos ou potencial para alimentar uma alta do real ante o dólar. A importância da medida seria mais subjetiva, por ser uma sinalização do governo indicando que não quer um real muito desvalorizado, dadas as preocupações com a inflação.
"Essa medida [do IOF] foi branda, não deve trazer uma enxurrada de dólares. Mas o ponto é a sinalização do governo, que pelo visto não está disposto a deixar a moeda local se depreciar. E um dos principais motivos para isso é, sem dúvida, a inflação", disse Italo Lombardi, economista do Standard Chartered Bank para a América Latina.
A força limitada da medida sobre o câmbio, inclusive, teria seu significado próprio, segundo Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs. Segundo ele, ainda que a ideia seja facilitar o fluxo, enfraquecendo o dólar e, assim, ajudar no controle da inflação, o sinal é que o espaço para a apreciação do real é limitado.
"A ideia não é olhar essa medida isoladamente. Ela se encaixa num conjunto de outras [ações] que mostram claramente uma preocupação crescente das autoridades com a inflação", disse ele. "Se essa medida fosse forte a ponto de apreciar demais o real, o governo não a adotaria."
Para alguns agentes, o corte do IOF um dia após o BC e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, emitirem sinais aparentemente contraditórios sobre o câmbio apenas confundiu ainda mais o mercado.
"A escolha do timing não foi boa, dada a atuação do BC e as declarações do Mantega. Não sabemos se isso [a mudança no IOF] é uma coincidência ou se foi proposital", disse a economista do BNY.
Independentemente da opinião sobre os efeitos dessa medida sobre o fluxo cambial, os profissionais concordam que ela não sinaliza que o governo esteja perto de alterar o IOF sobre aplicações de estrangeiros em outros ativos.
"Ninguém no mercado vê isso como o primeiro passo para retirar o IOF para renda fixa ou para derivativos", disse Srour. "O governo não quer uma apreciação muito rápida [do real]."
As taxas de juros negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros fecharam em alta ontem influenciadas pela preocupação com as fontes de pressão inflacionária, como o câmbio e o mercado de trabalho aquecido. Diferentemente dos três dias anteriores, o volume movimentado ontem foi fraco, metade da média nesta semana. O contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2015 (DI janeiro/2015) subiu a 7,94%, de 7,91% na véspera.
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